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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Ainda uma destas manhãs o co-irresponsável se lamentava que tinha saudades de ver o noticiário de manhã. É que desde que a hora mudou (ver post 'Com sopas e bolos e fusos horários') que os gémeos ficaram presos no fuso horário anterior, pelo que é raro o dia em que não despertam antes das 6h30 e acabam assim por nos fazer companhia ao pequeno almoço e monopolizar a tv com o Miao Mao e outros tais.
Pois nem bem a propósito, pouco depois desse episódio dei por mim estrada fora a caminho do mecânico já que o carro andava a perder potência (sim, sou uma gaja estranha que repara nestas coisas, graças talvez a um instrutor de condução que sempre me ensinou a ser 'mecânica de ouvido'), e na minha demanda por entre as rádios pré-definidas no rádio (felizmente não há nenhuma 'Rádio Panda' ou 'Rádio JimJam' pelo que é tudo conteúdo de 'crescidos') oiço algo que me deixou estupefacta.
Parece que no meio de toda esta crise o Governo teve uma ideia peregrina que foi reduzir os anos das licenciaturas para tentar atingir os patamares europeus em termos de educação. E não sei porquê fiquei com uma sensação de 'dejá-ecouté' (adoro este meu neologismo)... É que a memória daqueles iluminados pode ser curta, mas a minha, embora enevoada pela magnitude de novas exigências que a maternidade acarreta, não estará assim tão limitada. No meu tempo (e lá vou eu...) as licenciaturas eram de 5 anos e os pais andavam a matar a cabeça aos miúdos com a célebre frase 'Estuda para um dia seres alguém'.
Chamem-me desconfiada ou mesmo paranóica mas fiquei com a sensação que esta 'solução' seria mais uma para 'tapar o sol com a peneira'. Semelhante àquela em que colocam desempregados em cursos de formação que pouco ou nada têm a ver com os interesses deles ou mesmo com a utilidade prática dos mesmos, mas que permitem que, mesmo que temporariamente, saiam das estatísticas de desemprego. E cheirou-me (sim, que a minha mãe ensinou-me a ser 'cozinheira de nariz') a esturro. A um esturro muito grande, a uma daquelas decisões de se pôr o lume no máximo para abreviar o tempo de cozedura e...pimba! O resultado não pode ser outro, certo? Pela minha lógica prevejo (sim, agora também sou astróloga e taróloga) um 'boom' de desempregados ainda maior. Mas a curto prazo ficam com o problema resolvido, certo?
Então e perguntam vocês... onde é que queres chegar com isto tudo?
Simples... falava da minha ida ao mecânico, lembram-se? E como o trajecto ainda é longo aproveitei para pensar em todas estas coisas da vida e na fulana que aqui há dias encontrei à porta da minha casa (é natural que se sintam ainda mais perdidos mas juro que no final do discurso delirante haverá uma luz ao fundo do túnel e não será necessariamente um comboio para vos passar por cima). Ora a dita rapariga estava à porta do meu prédio e viu-me aproximar com os miúdos. A quem tem gémeos sabe bem que é uma premissa sermos alvo de gente metediça sempre que saímos à rua, pelo que já estava à espera. Mas curiosamente...nada! Nem se meteu com os miúdos, nem sequer disse boa noite. Simplesmente fez o gesto de entrar no momento exacto em que, já dentro do prédio, fechei a porta.
Perante o ar dela de indignação resolvi (ainda dentro do prédio e de porta fechada em segurança que aqui pelas redondezas têm havido muitos assaltos que começam assim) cumprimentar a senhora e perguntar se podia ajudar. Ao que ela responde no tom mais seco do Mundo:
-Quero entrar no prédio!
Sério? Pensei eu... E eu a julgar que quando alguém se coloca do lado de fora a forçar a porta quereria era sair!! Até aí tinha eu chegado sozinha e não preciso da licenciatura. Mas aquilo não sei porquê não me parecia motivo suficiente para abrir a porta a uma perfeita desconhecida. Vai daí feita parva ainda perguntei:
-Mas quer entrar para quê? É publicidade? Se for isso tem aí uma caixa fora onde pode colocar...
Acham que ela respondeu? Não! E eu, com os miúdos já a puxarem-me escada acima ainda insisti:
-Se pelo menos me explicar ao que vem talvez a possa ajudar...
E nada! Mais uma vez permaneceu calada, com cara de caso, o que só me fez deixar ainda mais intrigada. E em tom de conclusão acabei por dizer:
-Olhe... Não leve a mal mas não posso ficar responsável pela entrada no prédio de alguém que eu não conheço e que nem sequer me diz ao que vem. Se é publicidade coloque na caixa como eu indiquei que as pessoas tiram daí. Se for para ir a casa de alguém e se já tocou e não abriram é porque a pessoa não estará em casa, pelo que também não fará sentido a senhora entrar, certo?
E lá apanhei eu o elevador, com os miudos já a engalfinharem-se, e a tal fulana caladinha à porta. Momentos depois, estavamos nós a dar banho e comer aos miúdos, tocam à porta e oiço aquela mesma vozinha. Já nem me recordo o que disse de início, apenas me apercebi que era de uma operadora de telecomunicações com a qual eu já tive contrato, mas que deixei por má prestação de serviços e em relação à qual até fiz uma reclamação para a Anacom. Claro que disso a senhora não tem culpa pois sendo de uma empresa sub-sub-contratada nem sequer tem acesso a esses dados. Mas tem culpa de ser parva. Bastava ela ter dito ao que vinha e ter-se identificado e eu tinha-lhe aberto a porta.
Vai daí comecei a pensar na situação e depois, como sou imensamente cusca, quando regressei do mecânico decidi pesquisar que tipo de perfil pedem os operadores de telecomunicações para este tipo de serviço. E para meu espanto se em alguns casos basta o 9º ano, alguns há que já pedem o 12º ano. Pudera! Se se consegue acabar a escolaridade mínima obrigatória com este nível de 'sensibilidade e bom senso', então livrem-se de contratar malta que nem ao 9º ano chegou. E foi aí que me caiu a ficha! Por este andar até podem pedir a licenciatura porque não tarda nada acaba por ser só mais 1 ano e este tipo de gente acerebrada qualquer dia até aulas dá aos nossos filhos. Ou nos arranjam os dentes, ou até quem sabe com mais 1 aninho além do primeiro tiram a especialização em obstetrícia. E será este o País que teremos... E no fundo é este o 'estado do Estado'...
Lembrei-me então do sorriso de felicidade que trazia nos lábios ao vir do mecânico (vêm como isto tudo parece que se vai conjugar em algo com sentido??), que me poupou o coração apenas por ir dar uma volta de carro comigo e dizer, por entre risos, esta bela frase:
-O que o seu carro tem é carvão dentro da tubagem de você andar tão devagar com ele. Vá lá para casa descansada e puxe mas é pelo carrinho de vez em quando, que ele está a precisar.
(Diga-se a bem da verdade que quando nos tornamos pais ganhamos velocidade de lesma e se bem que tenhamos alguma consciência disso, dizerem-nos assim na cara faz-nos doer o ego, mas serena-nos o coração de que estaremos a agir correctamente)
Certo... ele resolveu o problema e não me levou nada porque até é uma pessoa séria. Mas acima de tudo é um bom mecânico, uma pessoa educada e prestável, e não me parece que seja licenciado. E se andasse a pregar ligações de fibra por entre as portas duvido que não tivesse o discernimento suficiente para dizer boa noite e explicar ao que vinha. Também o senhor que cá vem arranjar os estores é uma pessoa extremamente competente, ganha rios de dinheiro, e nem por isso deixa de ser alguém com quem se consegue ter uma conversa. Porque há coisas que fazem parte da educação base de uma pessoa, certo? Ou já não?
E por entre todo este raciocínio dei por mim a rezar para que os meus mabecos não queiram ser estudiosos mas sim inteligentes. Será caso para dizer 'Não estudes! Tenta mas é ser alguém!'