Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Se é certo e sabido que muita gente necessitava de tirar a carta de condução (e não digo renovar mas tirar já que aquilo não é saber conduzir), todos os cidadãos deveriam ter carta de peão.
Aqui há dias ia eu estrada fora com os miúdos numa coisa estranha que se chama carro, e ao circundar uma rotunda aparece-me uma viatura mais estranha chamada peão pela frente. Sim, havia passeios desimpedidos de um lado e de outro, mas a senhora achou que seria melhor encurtar caminho pelo rotunda e saltou-me para a frente do carro. Acham que se assustou? Pelo contrário! Depois de atravessar pelo meio da rotunda continuou estrada fora a CIRCULAR À MINHA FRENTE! E eu lá fui a 5 kms/h, a buzinar e a fazer sinal de luzes, já que os carros estacionados em 2ª fila não me permitiam ultrapassar aquela viatura sórdida.
Mais uma vez a senhora lá continuou impávida e serena, e só junto ao cruzamento é que decidiu encostar-se um pouco para o lado, permitindo a minha passagem, mas nem assim recorrendo àquela coisa calcetada que eu acho que serve para os peões circularem mas que pelos vistos não é de uso consensual. Claro que perante a revolta dos próprios mabecos, que na sua maturidade de quase 3 anos, não queriam acreditar no que viam, não resistimos a apelidar a senhora de 'Palhacita' e seguimos caminho guardando a indignação no bolso das calças.
Mas pior que por em risco a própria vida é por em risco a vida de terceiros, e já por diversas vezes apanhei valentes sustos em manobras de estacionamento junto à escola dos mabecos devido aos peões que circulavam com crianças (não digam que são pais ou avós porque ninguém que faça uma coisa dessas merece essa classificação) decidirem passar encostados ao carro interrompendo o sentido da marcha do mesmo. Poderiam passar em qualquer outro sítio, poderiam esperar 30 segundos (já que não serei das pessoas mais demoradas a estacionar), mas não... é muito mais emocionante colocarem em risco a vida delas e das criancinhas que nem sempre levam um pouco mais protegidas ao colo, mas frequentemente seguram-nas pela mão mais próxima ao meu carro, a servir de pára-choques.
Outra coisa que me fascina são as passadeiras. Eu sei que há locais onde, devido ao nosso excelente planeamento rodoviário não existe uma única em dezenas de metros, ou quando existe, não serve de todo as necessidades pedonais. Mas outros locais há (e não serão assim tão poucos se repararem) em que as passadeiras estão práticamente lado a lado. Costumamos circular por uma rua em que existem 2 a menos de 5 metros uma da outra, e mesmo aí há sempre um Palhacito qualquer que decide atravessar entre ambas. Juro! E como a dita rua é a subir e os marmelos atravessam logo ao início quando estamos a acelerar para fazer a subida, tal comportamento incauto acaba por originar as manobras mais estranhas por parte dos condutores. Mas pior será para os que vêm embalados a descer e que são obrigados a parar de repente porque essa maltinha não só atravessa em local impróprio como se atira literalmente para a frente das viaturas. E o condutor que se desenrasque, ora essa!
Agora se destes fenómenos muita gente se queixa, acho estranho não haver mais gente a queixar-se de um outro que também incui peões mas em igual medida, ou seja... quando circulamos como peões cuidadosos que somos e levamos com um outro peão em cima. A minha mãe tinha uma colega invisual que costumava queixar-se que os outros eram 'mais cegos' que ela, que constantemente levava encontrões ou colidia com objectos transportados por terceiros (nunca percebi bem esta expressão pois sempre me fez mais sentido dizer 'segundos', mas enfim...). Não poderia concordar mais. Já me aconteceu por diversas vezes, mas registo em particular 2 destas situações que me marcaram de uma forma especial.
Uma foi quando os mabecos tinham cerca de 10 meses, e eu aproveitei uma pausa concedida pela minha sogra para ir à Primark comprar uns trapinhos, porque atendendo ao estado de magreza concedido pela amamentação (ai que saudades), já nada me servia. Estava eu na secção das gajas quando uma troglodita recolhe uma peça de um expositor e avança em marcha-atrás. Vi-a recuar e até me desviei, mas não contei que a dita senhora decidisse depois rodopiar e acertar-me com o cotovelo em cheio no peito direito. Numa situação normal seria complicado, mas para quem está a amamentar gémeos e a fazer concorrência à Mimosa com os seus 2 litros de leite/dia, acreditem que dói. E muito! Perante um 'Ah! Desculpe!' limitei-me a ganir conforme pude e a recorrer ao banco existente no exterior da loja para tentar recuperar o fôlego.
No dia seguinte estava a ser assitida de urgência pois tanto enchia frascos com leite natoso como com sangue. E a dita senhora calculo que estivesse muito bem refastelada a disfrutar dos seus trapinhos novos. Mas queixar-me para quê? Ela pediu desculpa, certo? Isso deveria acabar com a dor e com a preocupação de poder ficar com sequelas ou poder não voltar a amamentar. Foram dias de horror, mas felizmente (até à data) parece não ter passado de um susto.
Outra situação foi mais recentemente à entrada da escola dos miúdos, e doeu-me muito mais que 200 cotoveladas...só porque não foi directamente comigo, mas com o Pandinha. Não é que eu me ache inesquecível, mas o facto de se ter gémeos chama a atenção. E há diversas pessoas que metem conversa só por causa disso. A senhora em causa por diversas vezes se mete com os meus miúdos, e tenho-a em conta como sendo uma pessoa simpática e cautelosa. Só é pena não ter aquela capacidade de raciocínio dedutivo que não se aplica apenas à matemática mas que tanto jeito dá para a vida. Recordam-se do famoso 'se X, então Y?'. Pois aplicado ao caso em concreto seria 'Se Patapon, então Pandinha!' Simples, certo? Mas eu explico melhor e traduzo em miúdos (ou mabecos, como preferirem). Sabendo que são gémeos (como ela sabe), ver um significa que o outro em princípio não andará por longe. Então porquê ver a Patapon através da porta do edifício e em vez de questionar onde andaria o outro (eu própria estava a cerca de 1 metro da porta) simplesmente abrir a porta com força?
Pois... acertou na cara do Pandinha, que não só caiu desamparado de costas no chão como ficou com um pé entalado debaixo da porta. 'Desculpe!!', ouvi eu meio abafado, pensando que ela por esta altura já o estaria a ver bem, mas afinal só perante o meu grito de súplica 'Não abra mais a porta!!' é que ela percebeu que o estava a magoar no pé. Seguiu-se novo pedido de desculpas, que não o teria visto, que apenas viu a mana. E eu ali fiquei a consolá-lo sem saber muito bem como responder. Se acho que poderia ter sido mais previdente? Acho que sim. Mas também de certeza que não o fez de propósito e erros todos cometemos, certo? O problema é que não foi comigo, mas com a minha cria, e o meu instinto maternal exacerbado e animalesco não me permitiu proferir mais que um 'Acontece, deixe lá!', por entre os dentes serrados.
Eu sei que temos de manter a calma, eu sei que nem sempre a vida é fácil e as pessoas andam meio perdidas nos seus pensamentos. Por causa da crise, por causa do amor (ou da falta dele), por causa do tempo (porque o inverno é estatisticamente deprimente, como bem comprovado pelo aumento de taxas de suicídio nesta época), ou do trabalho (da falta dele ou da dificuldade em o manter). Mas problemas também eu tenho e um deles é com palhaços! Que me perdoe o Batatinha e a Picolé mas nunca gostei de palhaços! E desculpem lá o meu mau feitio, mas só me apetece jogar fora a minha carta de peão, as minhas boas maneiras, e ir ao focinho desta gente! E depois... pedir desculpa! Claro!