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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Aqui há tempos, num daqueles momentos em que achamos que os miúdos parecem ter tirado o dia para nos infernizar a vida, o co-irresponsável queixava-se por já não saber o que fazer, e que já teria esgotado a paciência. Acabámos por ter (bem depois deles se terem ido deitar e de termos conseguido recuperar neurónios suficientes para voltar a falar) uma daquelas conversas mais filosóficas em que introduzimos o conceito da 'dose diária de paciência'.
A teoria é simples... imaginem como que uma caixa onde cabem todas aquelas respostas 'Que giro, amor' que vociferamos entre-dentes quando deparamos com o Pandinha a fazer obras de arte na parede, ou quando percebemos que a Patapon, ao tentar comer sozinha, parece ter rebentado com uma bomba no prato da comida e espalhado quase todo o conteúdo no metro quadrado que a circunda, num chão acabadinho de lavar. Ora a caixa tem um limite. Podem caber lá 10 frases fofuxas, 20 inspirações profundas, e 40 desviar de olhos, ou até mesmo o dobro destas doses, mas haverá um ponto a partir do qual já não haverá conteúdo na caixa, e acabamos por explodir, ou implodir... sei lá!
E por muito conteúdo que haja, por muito treino e preparação para termos uma graaaaaande caixa, acreditem que quando se tem gémeos na fase dos 2 anos (os famosos 'terrible two') aquilo esgota-se num instante.
Acontece que quando somos mães parece que a tal caixa se torna quase ilimitada. Não é que por vezes não acabe por perder a paciência mas isso ocorre bem mais ocasionalmente do que eu pensava alguma vez ser possível. Acho que nestes quase 3 anos de convívio com os mabecos deve ter acontecido umas 5 ou 6 vezes. E como se consegue isto? Não sei... Mas dou por mim às vezes, no meio do caos, com os gémeos a gritarem um com o outro e a morderem-se, a sussurrar: 'Pronto, pronto! Vamos lá falar um pouco.' E juro que nao me reconheço. Onde está a Miss Impulsiva? Onde está aquela pessoa que nunca teve paciência para estar horas a fio na mesma actividade, quando acabo por ficar uma eternidade a brincar com legos ou a ser vítima dos penteados deles?
O co-irresponsável tem momentos. Tem momentos em que consegue e acaba por me salvar, e outros em que parece ficar vermelho como os desenhos animados. E eu nem me posso queixar porque ele avisa: 'Tenho que sair', e vai quanto mais não seja para o wc. É uma sublimação engraçada esta, em que a cumplicidade que desenvolvemos ao longo destes 18 anos (daasssssss) acaba por se reflectir nas palavras que não necessitam ser proferidas. Sei, quando ele diz isto, que está no limite, e que precisa de respirar.
As quantidades monumentais de fraldas que se gastam cá por casa também lhe dão uma desculpa muito válida para ir à rua. E eu percebo-o. Filho único, sempre brincou sozinho a fazer diálogos de um tropinha para outro (claro que já desconfiei disso, mas ainda não tenho provas que seja esquizofrénico), que sempre foi mimado pela titi, pela mamã, pela vovó... e agora vê-se com dois mabecos que até lhe roubam os 'brinquedos' dele, que sujam, dessarrumam, gritam e barafustam, e quebram aquele silêncio que ele tanto valoriza. Muito equilibrado anda ele... lol
E eu? Eu tenho uma mana mais velha. Ela torturava-me com as brincadeiras das mercearias em que ela era sempre a dona 'Ou não brinco contigo'. Nunca soube o que era estar sozinha até ir para a faculdade. E bem que gostei desse tempo, e bem que por vezes sinto também necessidade de fugir, e saudades do silêncio, mas quando eles estão presentes juro que já tentei, mas não consigo. Porque por muito que o papá tente reconfortar... faz-me lembrar aquela série infantil 'Os Dinossauros' (sim... fazendo a analogia e a piadinha barata eu sou desse tempo dos dinossauros) em que quando o pai se tentava aproximar do bebé levava sempre com uma frigideira na cabeça e a explicação 'Tu não és a mamã!'.
Claro que não é uma questão de falta de confiança, e já os tenho deixado sozinhos com o pai. Também com a minha sogra chegam a passar fins de semana e uns dias de férias. Mas durante todo esse tempo o espírito não descansa. Se eu não estou por perto e me ligam imagino logo o cenário mais tenebroso e que irei ser apedrejada por não ter estado presente. Mas a verdade é que eles também gostam de estar sem a mamã, e eu terei de encarar isso com naturalidade. Por vezes nem querem falar comigo ao telefone, estes sacanas!!
Não... no meio de tudo isto percebo que, para mim, o pior não é ter a dose diária de paciência suficiente para as 24h, mesmo porque eu tenho uma técnica bem desenvolvida no sentido de os fazer dormir pelo menos metade desse tempo, o que facilita muito no doseamento. O problema maior é a 'dose diária de energia', que no meu caso confesso que anda sempre no limite. E mesmo assim, quando achamos que vai acabar, e que temporáriamente culmina com um cair para o sofá a babar-me cerca das 21h30, renasce a qualquer choro ou mesmo sussurro vindo do quarto dos mabecos. Como é que isto é possível?
E já agora... alguém me explica como é que se consegue desviar este automatismo para as tarefas domésticas? Estilo... cerca das 3h00 da matina acordar electrizado para ir passar a ferro ou limpar o chão? Isso dava cá um jeito!!