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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Porque hoje as palavras se transformam em lágrimas fica apenas o testemuho de melhores momentos. Amo-te muito, pai!
Lembro-me das cartas de amor da minha adolescência. Andei numa escola secundária pouco convencional em que uma das iniciativas era fomentar a troca de cartas de amor no Dia de São Valentim.
Hoje em dia certamente acharão piroso -caramba... eu própria se pensar nisso de forma mais profunda também acho!- mas não há SMS que chegue aos cacanhares de uma boa carta de amor.
Não falo daqueles bilhetes que trocávamos no recreio da primária em que dizia simplesmente 'Gosto de ti. Gostas de mim?' e depois tinha três opções: sim, não e talvez, seguidos de um quadradinho onde o/a destinatário/a deveria colocar um 'X' a assinalar a sua escolha. Esses nunca apreciei. Nem a serenata feita por um admirador inconsciente, ao qual eu já tinha explicado com todas as palavras que não gostava dele. Se decidiu interromper-me a aula de Desenho ao gritar juras de amor para um 2º andar e declarar-se em frente a toda a escola, no fundo merecia a vergonha que passou -quando é que estes gajos vão aprender a ouvir as mulheres?- mas ok, foi um gesto bonito, estupido mas bonito!
Falo antes de cartas melosas e bem pensadas, de poemas roubados a um tal de Camões ou a uma tal de Florbela Espanca ou, muito raramente mas ainda melhor... vindos da alma e escritos por um punho que tremia de emoção.
Sim, no 'meu tempo' escrevia-se à mão. Cartas, trabalhos da escola, postais das terriolas que se visitava. Comprava-se selos bonitos e enviava-se para o destinatário dentro de envelopes igualmente escolhidos a dedo. Hoje bloga-se dedicatorias, publica-se videos no perfil de facebook do objecto da nossa afeição e manda-se selfies de beiçola esticada. E onde fica o amor?
Recordo-me de ter um conjunto de papel de carta em tom de rosa velho (para os gajos leitores deste blog é aquele tipo de rosa em que se mistura água e se deixa secar ao sol, como velhas pétalas de rosa) com uma flor a baixo relevo (como que impressa mas sem tinta, estilo selo em branco). Guardava para as ocasiões mais especiais, para os amigos mais especiais. E a caneta era igualmente escolhida a rigor. Tinha uma caneta de tinta da china, da qual confesso já não saber o paradeiro. Nesse papel tudo fazia outro sentido. O amor era mais... amor!
Mas -pasme-se!- eu não escrevia assim muitas cartas de amor. Poemas sim, escrevi muitos. De amor, de desespero, de amor novamente. Porque as paixões de adolescência são assim... é o êxtase em homenagem àquele amor único, a morte do artista perante o desgosto e de repente a tomada de consciência que há mais peixes no mar e alguns deles que até nadam bastante bem. Guardava-os todos para mim, porque achava que no fundo os meus sentimentos a mim me pertencem, mas sobretudo porque era mesmo para mim que os fazia. Como desabafo, como testemunho, como... forma de existir. E sim, já escrevi alguns ao co-irresponsável que ele insiste em guardar. É aquele lado meloso dele que poucos conhecem.
Sim, hoje estou poética. Talvez porque me apercebi que ao fim de quase 22 anos ainda estou apaixonada pela mesma pessoa que me roubou o coração de uma forma que eu nunca iria esperar. De início detestei-o por não me ter emprestado a prancha de surf, por não ter aceite o meu convite para ir andar a cavalo. Uns anos -e uns copos- depois os olhos deles brilharam de uma outra forma e foi neles que eu me perdi - e que ainda me perco!
Nunca gostámos de tradições consumistas, e por isso o dia dos namorados é por norma um jantar especial a dois. Mas agora somos pais de... dois! De dois mabecos que ainda ontem nasceram e já têm 6 anos. E por isso este ano o jantar será a 4. Fiz questão de convidar formalmente os miúdos para o jantar especial de terça feira. Porque se eu e o pai somos namorados a eles também o devemos. Engane-se quem pensar que as crianças salvam uma relação, pelo contrário penso que a ponham à prova, e como a prova tem sido superada também com a ajuda deles, é apenas justo que celebrem connosco.
E a vocês cuscos que para aí pensam... e que será o jantar? Confesso que andei a pesquisar aqueles pratos especiais que me deixariam na cozinha uma boa hora e meia. Mas para quê? E assim decidi que serão uns especiais... bifes! Daqueles que se derretem na boca, acompanhados de cogumelos portobello e de batata doce frita -que me faz lembrar a infância- e um tinto de ocasião - Ping'Amor! E a parte melhor é que se faz em 10 minutos. E o resto do tempo? Namora-se!
Mas fica o desafio... escrever uma carta de amor pirosa à moda antiga. Quem alinha?
Andava eu a tratar da minha vidinha quando, para apanhar uma coisa do chão me vejo temporariamente de rabiosque para o ar e PIMBA! Levo com uma palmada bem arrefinfada pelo Pandinha.
-Então??? -Interrogo eu admirada. - Não se dá palmadas à mãe!
-Ora! O pai também dá que eu já vi!!
O_O
Um dos melhores hinos ao amor que conheço. Um dos sonetos de Camões que, a meu ver, deveria ser mais divulgado. Porque Camões não é só Lusíadas (aqui neste cantinho rosa em que nenhum Português extremista me apanha, devo confessar que os Lusíadas são... uma seca!!!) e porque hoje é dia dos namorados. Ao amor eterno!
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia o pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se não a tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
dizendo: Mais servira, se não fora
pera tão longo amor tão curta a vida!
(Luís de Camões)
(imagem de autor desconhecido)
Como não poderia deixar de ser o post de hoje tem a ver com amor.
Não sou apologista desta sociedade de consumo em que se transforma cada gesto num negócio, nem tão pouco acho que o sentimento deve ser confinado a uma data específica. Tal como o Natal, o Dia dos Namorados é quando um homem quiser. Ou uma mulher. Ou um mabeco. E deveria ser todos os dias.
Muita gente estranha o facto de eu continuar a tratar o co-irresponsável por 'namorado'. E nem é por não sermos oficialmente 'casados', mas porque não gosto sequer da palavra marido ou mesmo companheiro (desculpem-me mas quando referem a palavra companheiro imagino sempre dois gajos a jogar à sueca ou a dar uma corridinha pela expo), e porque espero que ainda seja e queira continuar a ser o meu namorado.
Em todos estes anos de convivência, em todas as festas e aniversários, já tive oportunidade de o presentear de muitas formas, mas acabo por preferir sempre esta forma mais pública, que nada custa, e que o deixa enrubescido. O plano original era irmos jantar fora, num jantar temático a dois em que iriamos trocar poemas originais presos em garrafinhas de vidro (não a ideia lamechas não é minha nem dele mas da nossa tasquinha preferida). Acontece que andamos ambos exaustos e que eu tenho tantas coisas para tratar que decidimos cancelar tudo e ficar em casa. Sem mabecos na mesma, mas em casa, no quentinho e no silêncio.
E como depois de 3 semanas alucinantes não me sobra cérebro para fazer o poema aproveito para fazer minhas as palavras de um dos meus autores preferidos, e reafirmar que adoro o José Carlos Fernandes. Pela simplicidade da escrita, do desenho, mas sobretudo pela coragem que teve para, num País como Portugal, dedicar-se à escrita de... BD. Para ele um grande beijo, muitas saudades, e a promessa de que cá em casa continuará a haver sempre pudim. Para o pessoal todo da 'velha guarda' da editora (Devir) obrigada por terem apostado em BD portuguesa com qualidade. E para o co-irresponsável apenas a garantia de que também eu não hesitaria perante um coração de arame... sempre!
Para quem não conhece fica a sugestão de leitura e de prenda para dia de São Valentim: Coração de Arame, José Carlos Fonseca, Devir.
Votos de um doce dia dos namorados para todos vós, e que o sentimento perdure por muitos anos. Só porque são esses bons sentimentos que valem por toda uma vida.
Escrevi e reescrevi este post milhentas vezes, e nunca parecia ficar à altura de quem merece o Mundo. Curiosamente, a quem parece ter sempre algo a dizer falham-me as palavras certas. E por isso recorro, mais uma vez, às palavras de Saint-Exupéry.
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estaria inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...
Exactamente há 3 anos, por volta desta mesma hora, já eu começava a ser feliz. Obrigada aos meus mabequinhos por me manterem cativa a este amor que já não me cabe no coração. Vocês serão sempre o melhor do meu Ano Novo.
Adoro-vos muito, muito!
PARABÉNS!!
Se é certo e sabido que muita gente necessitava de tirar a carta de condução (e não digo renovar mas tirar já que aquilo não é saber conduzir), todos os cidadãos deveriam ter carta de peão.
Aqui há dias ia eu estrada fora com os miúdos numa coisa estranha que se chama carro, e ao circundar uma rotunda aparece-me uma viatura mais estranha chamada peão pela frente. Sim, havia passeios desimpedidos de um lado e de outro, mas a senhora achou que seria melhor encurtar caminho pelo rotunda e saltou-me para a frente do carro. Acham que se assustou? Pelo contrário! Depois de atravessar pelo meio da rotunda continuou estrada fora a CIRCULAR À MINHA FRENTE! E eu lá fui a 5 kms/h, a buzinar e a fazer sinal de luzes, já que os carros estacionados em 2ª fila não me permitiam ultrapassar aquela viatura sórdida.
Mais uma vez a senhora lá continuou impávida e serena, e só junto ao cruzamento é que decidiu encostar-se um pouco para o lado, permitindo a minha passagem, mas nem assim recorrendo àquela coisa calcetada que eu acho que serve para os peões circularem mas que pelos vistos não é de uso consensual. Claro que perante a revolta dos próprios mabecos, que na sua maturidade de quase 3 anos, não queriam acreditar no que viam, não resistimos a apelidar a senhora de 'Palhacita' e seguimos caminho guardando a indignação no bolso das calças.
Mas pior que por em risco a própria vida é por em risco a vida de terceiros, e já por diversas vezes apanhei valentes sustos em manobras de estacionamento junto à escola dos mabecos devido aos peões que circulavam com crianças (não digam que são pais ou avós porque ninguém que faça uma coisa dessas merece essa classificação) decidirem passar encostados ao carro interrompendo o sentido da marcha do mesmo. Poderiam passar em qualquer outro sítio, poderiam esperar 30 segundos (já que não serei das pessoas mais demoradas a estacionar), mas não... é muito mais emocionante colocarem em risco a vida delas e das criancinhas que nem sempre levam um pouco mais protegidas ao colo, mas frequentemente seguram-nas pela mão mais próxima ao meu carro, a servir de pára-choques.
Outra coisa que me fascina são as passadeiras. Eu sei que há locais onde, devido ao nosso excelente planeamento rodoviário não existe uma única em dezenas de metros, ou quando existe, não serve de todo as necessidades pedonais. Mas outros locais há (e não serão assim tão poucos se repararem) em que as passadeiras estão práticamente lado a lado. Costumamos circular por uma rua em que existem 2 a menos de 5 metros uma da outra, e mesmo aí há sempre um Palhacito qualquer que decide atravessar entre ambas. Juro! E como a dita rua é a subir e os marmelos atravessam logo ao início quando estamos a acelerar para fazer a subida, tal comportamento incauto acaba por originar as manobras mais estranhas por parte dos condutores. Mas pior será para os que vêm embalados a descer e que são obrigados a parar de repente porque essa maltinha não só atravessa em local impróprio como se atira literalmente para a frente das viaturas. E o condutor que se desenrasque, ora essa!
Agora se destes fenómenos muita gente se queixa, acho estranho não haver mais gente a queixar-se de um outro que também incui peões mas em igual medida, ou seja... quando circulamos como peões cuidadosos que somos e levamos com um outro peão em cima. A minha mãe tinha uma colega invisual que costumava queixar-se que os outros eram 'mais cegos' que ela, que constantemente levava encontrões ou colidia com objectos transportados por terceiros (nunca percebi bem esta expressão pois sempre me fez mais sentido dizer 'segundos', mas enfim...). Não poderia concordar mais. Já me aconteceu por diversas vezes, mas registo em particular 2 destas situações que me marcaram de uma forma especial.
Uma foi quando os mabecos tinham cerca de 10 meses, e eu aproveitei uma pausa concedida pela minha sogra para ir à Primark comprar uns trapinhos, porque atendendo ao estado de magreza concedido pela amamentação (ai que saudades), já nada me servia. Estava eu na secção das gajas quando uma troglodita recolhe uma peça de um expositor e avança em marcha-atrás. Vi-a recuar e até me desviei, mas não contei que a dita senhora decidisse depois rodopiar e acertar-me com o cotovelo em cheio no peito direito. Numa situação normal seria complicado, mas para quem está a amamentar gémeos e a fazer concorrência à Mimosa com os seus 2 litros de leite/dia, acreditem que dói. E muito! Perante um 'Ah! Desculpe!' limitei-me a ganir conforme pude e a recorrer ao banco existente no exterior da loja para tentar recuperar o fôlego.
No dia seguinte estava a ser assitida de urgência pois tanto enchia frascos com leite natoso como com sangue. E a dita senhora calculo que estivesse muito bem refastelada a disfrutar dos seus trapinhos novos. Mas queixar-me para quê? Ela pediu desculpa, certo? Isso deveria acabar com a dor e com a preocupação de poder ficar com sequelas ou poder não voltar a amamentar. Foram dias de horror, mas felizmente (até à data) parece não ter passado de um susto.
Outra situação foi mais recentemente à entrada da escola dos miúdos, e doeu-me muito mais que 200 cotoveladas...só porque não foi directamente comigo, mas com o Pandinha. Não é que eu me ache inesquecível, mas o facto de se ter gémeos chama a atenção. E há diversas pessoas que metem conversa só por causa disso. A senhora em causa por diversas vezes se mete com os meus miúdos, e tenho-a em conta como sendo uma pessoa simpática e cautelosa. Só é pena não ter aquela capacidade de raciocínio dedutivo que não se aplica apenas à matemática mas que tanto jeito dá para a vida. Recordam-se do famoso 'se X, então Y?'. Pois aplicado ao caso em concreto seria 'Se Patapon, então Pandinha!' Simples, certo? Mas eu explico melhor e traduzo em miúdos (ou mabecos, como preferirem). Sabendo que são gémeos (como ela sabe), ver um significa que o outro em princípio não andará por longe. Então porquê ver a Patapon através da porta do edifício e em vez de questionar onde andaria o outro (eu própria estava a cerca de 1 metro da porta) simplesmente abrir a porta com força?
Pois... acertou na cara do Pandinha, que não só caiu desamparado de costas no chão como ficou com um pé entalado debaixo da porta. 'Desculpe!!', ouvi eu meio abafado, pensando que ela por esta altura já o estaria a ver bem, mas afinal só perante o meu grito de súplica 'Não abra mais a porta!!' é que ela percebeu que o estava a magoar no pé. Seguiu-se novo pedido de desculpas, que não o teria visto, que apenas viu a mana. E eu ali fiquei a consolá-lo sem saber muito bem como responder. Se acho que poderia ter sido mais previdente? Acho que sim. Mas também de certeza que não o fez de propósito e erros todos cometemos, certo? O problema é que não foi comigo, mas com a minha cria, e o meu instinto maternal exacerbado e animalesco não me permitiu proferir mais que um 'Acontece, deixe lá!', por entre os dentes serrados.
Eu sei que temos de manter a calma, eu sei que nem sempre a vida é fácil e as pessoas andam meio perdidas nos seus pensamentos. Por causa da crise, por causa do amor (ou da falta dele), por causa do tempo (porque o inverno é estatisticamente deprimente, como bem comprovado pelo aumento de taxas de suicídio nesta época), ou do trabalho (da falta dele ou da dificuldade em o manter). Mas problemas também eu tenho e um deles é com palhaços! Que me perdoe o Batatinha e a Picolé mas nunca gostei de palhaços! E desculpem lá o meu mau feitio, mas só me apetece jogar fora a minha carta de peão, as minhas boas maneiras, e ir ao focinho desta gente! E depois... pedir desculpa! Claro!
Segundo o google hoje seria o 129º aniversário do Rorschach. Para quem não conhece, é a prova de que da suiça não vêm apenas queijos mas também psiquiatras. A ele se deve o famoso teste de Rorschach, que não são mais que uns borrões de tinta simétricos, como aquelas célebres borboletas que faziamos na pré-primária. Que sejam interessantes eu percebo, e ainda hoje quando os meus filhotes as fazem eu fico fascinada a olhar para aquilo pois é realmenete de uma simplicidade extrema mas encerra uma certa mística. Que ele diga que dá para ver ali coisas também percebo, mas eu com uns copos a mais nem preciso das pranchas. O que não percebo é em que é que as dele são melhores que as minhas ou de qualquer outro artista.
E não me acusem agora de sofrer de megalomania. Tomemos o exemplo de Picasso. Ora uma das grandes vantagens de se ter uma mamã que se interessa pelo Mundo que a rodeia é poder crescer a olhar para um Picasso. Não era o original claro -ou eu teria bem mais tempo para escrever no blog- mas era uma reprodução de uma das obras menos conhecidas da sua fase azul. Sempre me falaram dele como a 'Mulher Azul' (desconheço se será o seu nome original), mas para mim ficou conhecida como 'A mulher e o bacalhau'... e digam lá que não o conseguem ver no canto superior direito (direito do quadro, vosso lado esquerdo para quem ainda anda com a lateralidade mal desenvolvida)? Ou a perna da bailarina e a cabeça de um soldadinho de chumbo no canto oposto? Ou um lagarto nas costas e um 'E' no rabiosque? Ou tantas outras figuras por ali dissimuladas. Recordo-me de ficar horas a olhar para aquilo a ver se descobria mais alguma coisa (e não...nem sempre estava alcoolizada). Agora chamem-me lá esquizofrénica por ver ali mais que borrões de tinta!
Mas críticas à parte o Rorschach acabou por ter um impacto positivo no Mundo. Pelo menos no meu, já que tornou as aulas de Psicanálise bem mais interessantes, e passei a ter desculpa para por a família inteira a olhar para borrões de tinta e depois fazer uma bela figura a interpretá-los. Tempos giros esses em que ninguém se importava de ser cobaia e até implorava por isso. Um deles era o co-irresponsável, o único que para mim permanece 'incotável'. Digo-lhe que é por ser demasiado complexo e ele baba-se todo. Na verdade talvez seja por medo que não o faço. Imaginem que descubro por ali alguma patologia latente... e depois? Fujo ou atiro-me a ele?
Também devo ao psiquiatra Rorschach a inspiração para uma das minhas personagens favoritas de BD, e um dos melhores livros que li na vida. Falo da personagem Rorschach do célebre Watchmen, e aproveito para enviar um beijo especial para o Dave Gibbons, pois foi um marco na minha vida ler esta obra (e aí todo o crédito para o Alan Moore) e um ainda maior poder conhecê-lo e conviver com ele mesmo que por breves instantes. Hoje em dia tenho pena de já não fazer parte dos célebres Festivais de B.D. da Amadora de uma forma tão activa, mas espero em breve poder apresentar os gémeos a esse fascinante Mundo que tanto eu como o co-irresponsável apreciamos.
Foi graças também ao psiquiatra Rorschach que o Gnars Barkley pode fazer um vídeo interessantíssimo e inovador, em que as manchas de tinta se sucedem ao som de uma bela melodia em que se fala de loucura e de amor. Uma grande redundância, eu diria... já que amor e loucura parecem estar sempre ligados.
http://www.youtube.com/watch?v=bd2B6SjMh_w
O triste de toda esta história é que o dito Sr. Rorschach, o da terra dos relógios, queijo e chocolate, morreu cedo. Tinha apenas 37 anos quando morreu de peritonite. Ora eu relógios não uso porque consigo acabar-lhes com a pilha em 2 ou 3 semanas no máximo, chocolate não gosto (e pronto... com esta já coloquei uns quantos de boca aberta a perguntar 'Como é possível??' Mas é verdadinha... nem gelado do dito, nem bolo, nem sequer um cacau quente), mas queijo como às carradas. Vai daí (e porque não falta quase nada para lá chegar) isto deixou-me a remoer na vida. É certo que ultimamente há muita coisa de que me poderia queixar, e que por vezes, no circulo de familia e amigos mais chegados até me queixo, mas de um modo geral acho que sempre tentei aproveitar todos aqueles pequenos prazeres da vida, e que o faço de forma exemplar. E se bem que tenha mau feitio não houve nunca ninguém até à data que me tenha pedido ajuda e que eu tenha negado, e na maior parte dos casos sou mesmo eu a oferecer essa ajuda. Quem me quer bem tem o melhor de mim. Tento também passar todos estes valores para os meus filhos e liderar pelo exemplo, mas tenho plena consciência que também eu falho como mãe, como filha, como irmã, como amiga, como namorada. Por vezes gostava de estar mais presente, e nem sempre consigo... esse é o meu grande pecado.
Mas sentada aqui no sofá a olhar para as formas das nuvens (a ver elefantes cor de rosa e outras coisas mais) e fazendo a minha introspecção concluo que, apesar de não ser perfeita, não serei talvez das piores pessoas do Mundo. E gosto de por aqui andar... por causa do queijo e não só. Por causa destes meus 2 ratinhos que tanto adoro... Por isso, se em alguma altura me queixo, e para que não seja mal interpretada pelas instâncias divinas, faço minhas as palavras do Sr. Gnars Barkley (porcaria de nome este... OHHH!! Perdão!) e digo:
''My heroes had the heart
To live their lives out on a limb
And all I remember
Is thinking, I want to be like them
Ever since I was little
Ever since I was little
It looked like fun
And it's no coincidence I've come
And I can die when I'm done''
apenas para concluir: I'm not done yet!! Por isso nada de peritonites aqui para a menina, ok?