Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Não, não sinto o tempo a esvair-me das veias. Nem sequer páro para pensar nisso. Tenho coisas mais importantes para fazer.
Não, não passo a vida a olhar para o espelho à procura de uma ruga ou de um cabelo branco. Talvez por isso não os tenha.
Não, não desejo que o tempo volte atrás e me transporte para a minha infância. Tal como recordo as coisas boas não me esqueço das más, e sinceramente não me apetece passar por tudo aquilo novamente...
Não, não penso como poderia a minha vida ser diferente se tivesse feito outras escolhas, pois foram estas que me tornaram aquilo que sou. E embora haja muito a melhorar há também muito de que me orgulhar.
Sim, sinto a falta de muita gente que deveria ser eterno de forma a fazer-me sempre companhia nestes dias. Mas sei que, de certa forma o são. Em tudo o que digo e faço, estarão sempre por cá...
E sim, é assim que me continuo a ver, a brincar de joelhos na praia enquanto procuro pelos aviões que passam bem alto. Um dia vou alcancá-los... a TODOS!
Bela promoção! Confesso publicamente... não gosto de chocolate, não gosto de azeitonas e não gosto de cerveja. Mas como faço anos daqui a menos de um mês pareceu-me boa ideia aproveitar a promoção (por €7.50) e comprar umas Super Bock com baldinho para quem não partilha dos meus gostos. Depois é só acrescentar o gelo... e as sapateiras, os queijos, os percebes, os brownies, o champanhe, a cidra...
Para onde quer que a vida agora me leve, quero que fique bem claro que adorei o percurso até aqui, e quero agradecer por ser quem sou.
Primeiramente aos meus pais e avós, de quem não apenas herdei os genes mas a quem, no fundo, devo a vida. Sei que não foi fácil, sei que não é fácil, mas também sei que de uma forma ou de outra posso sempre contar convosco.
Lembro-me das festas de aniversário de quando éramos pequenas, da trabalheira que a minha mãe tinha e do sorriso que lhe ficava no rosto. É aí que vou buscar a minha inspiração, mãe! E é também a ti que fui buscar o meu gosto pela escrita. E ao meu pai, a quem a vida lhe pregou uma grande rasteira, mas que nem por isso deixa de sorrir quando me vê e, como se os anos não tivessem passado, como se nada de mau lhe tivesse acontecido, me diz na voz calma e forte que sempre lhe foi característica 'Senta-te aqui ao colo do pai'. E juro que nesse momento tudo desaparece.
À birrenta da minha irmã que insistia querer brincar sempre às mercearias e ser ela a dona, que me dizia 'Deixa provar' e de uma dentada me comia o chupa inteiro. Sei que no fundo me preparavas para as contrariedades da vida (aproveita agora e diz que sim, que era isso). Recordo sobretudo as corridas pelo corredor, comigo sentada no carrinho das bonecas. Adoro-te mana! Hoje e sempre!
Ao meu companheiro de 20 anos, o meu muito obrigado por me teres mentido na primeira eco e teres dito 'Vai correr tudo bem'. É a isso que me agarro quando as forças me faltam e preciso enxugar as lágrimas para continuar. É por eles que me movo, que acordo a cada dia, e que luto para que tenham uma vida melhor.
Sentada aqui às 6h da manhã, no silêncio do campo (interrompido por uma quantidade abismal de passarada e pelo sacana do galo que, a título premonitório, baptizei de 'Cabidela') onde eles estiveram ontem sentados, chego à conclusão que sem eles estes 39 anos não teriam valido a pena, não fariam sentido. Por isso aos dois mabecos que ainda dormem, e que estão ansiosos para daqui a pouco irem fazer a minha prenda às escondidas... para que não subsistam dúvidas... a melhor prenda de todos estes anos são vocês!!
Numa ida ao supermercado reparei que a data de validade de muitos produtos termina no dia dos meus anos. Será que o Mundo me quer dizer alguma coisa? Devo ficar preocupada?
Fomos a uma festa de aniversário e o meu filho imobilizou outro puto no chão. Não posso dizer que ele não andasse a pedi-las, já que andava armado em parvo a roubar brinquedos aos outros e a empurrar. O meu é mais pequeno e talvez por isso parecia um alvo fácil. Parecia...
Depois de um koshi-guruma que deixou o outro de barriguinha para cima, meteu-se em cima dele e, encostando-lhe o braço ao pescoço susurrou qualquer coisa. Eu não ouvi, nem sequer vi. Estava noutra divisão da casa e contaram-me. O outro a partir dali piou fininho e passou a ser todo sorrisinhos.
Por curiosidade hoje perguntei o que é que ele tinha feito ao outro menino.
-Nada, mãe!
-Podes dizer que a mãe nem sequer está chateada contigo. Se lhe bateste fizeste bem porque foi para te defenderes a ti e à mana.
-Mas eu não bati, mãe.... só lhe dei educação!
Para quem não tem mabecos pequenos aconselho a sintonizarem o JimJam e espreitarem um episódio do Pingu. Como o próprio nome faz adivinhar é um pinguim, que vive num igloo com os pais e a irmã mais nova, a Pinga.
Trata-se de uma série animada pelo método claymation (sim fui ver na wikipedia qual era o nome pomposo para designar a animação feita com aqueles bonecos de plasticina) iniciada nos anos 80 e que se prolongou até ao século XXI. Tem a grande desvantagem de se vislumbrar por lá uma mosca de vez em quando no cenário, mas os bonecos ficam extremamente patuscos e sempre podemos fingir que é um Sasquatch (vulgo Bigfoot mas como o blog é meu uso a designação que mais me aprouver).
Por incrível que pareça tornou-se série de culto ao ponto do mershandising atingir valores exurbitantes. E bem que percebemos isso quando nos decidimos pelo tema do Pingu para o 2º aniversário dos miúdos. Como não havia nada no site oficial da série e muito menos em Portugal, tivemos que adquirir as figurinhas via leilão do ebay e para não me chamarem parva nem sequer irei dizer quanto demos por elas, mas sinceramente valeu cada cêntimo...ou melhor... cada libra... só pela forma como os miúdos reagiram.
Retomando o tema da série, permite-nos acompanhar as aventuras nada didácticas de um pinguim que só faz disparates, entre os quais perder a irmã quando esta era apenas um ovinho. Mas diabruras à parte, o que me fascina mesmo é a casa...ou igloo.
Por um lado acho extraordinário que seja arraçada de saco de Sport-billy (uma outra série de culto... esta do 'meu tempo'), e que os meros 5m2 exteriores correspondam a uma mansão a perder de vista no interior. Confesso que muitas vezes ao abrir a porta do nosso minúsculo apartamento dou por mim a pensar se terá havido na minha ausência um Querido Mudei a Casa ou um Reconstrução Total (o equivalente estrangeiro e em escala megalómana) que lhe permitam assumir essa característica. Dava-me jeito não só ter um quarto extra onde conseguisse aliar a função do escritório perdido com a transformação do dito para quarto dos mabecos com a de quarto de brincadeiras para os ditos (os mabecos), de forma a voltarmos a ter uma sala de estar bem arrumada (dream on!).
Outra questão tem a ver com as janelas e a iluminação das divisões pois por norma no exterior do igloo a única abertura que se vislumbra é a porta, mas quando se observa as cenas de interior há sempre uma janela em cada divisória ou pelo menos uma iluminação digna de palco de teatro mas sem que se veja um único holofote ou mesmo candeeiro. Seria um espectáculo poder usufruir dessas janelas mágicas na minha casa de banho interior e poder poupar na conta da electricidade apenas com o brilho que emanasse das paredes. Mas não sei porquê... aqui não funciona.
Também não consigo, com estes dois mabecos, manter a casa com aquela limpeza e arrumação imaculada mas penso que se deva também ao facto de não haver por ali cantos (nem na junção das divisões eles parecem existir) para onde o cotão e o pó se esgueirem e não haver assim tantos armários onde guardar coisas. E com menos coisas claro que haverá menos desarrumação.
Só não compreendo porque é que o pai do Pingu está constantemente a passar roupa a ferro porque também nesse aspecto, e como se pode ver pla imagem, podiam poupar imenso tempo e esforço dado andarem sempre de barbatana à mostra.
E como não poderia deixar de ser, invejo também aquele sistema monetário em que se pode adquirir tudo usando peixe como moeda de troca, e em que a solução para a falta de moeda é nada mais nada menos que uma cana de pesca sem isco, um orifício circular aberto em qualquer localização no gelo (não me parece de todo que tentem localizar os lagos, mas os peixes-moeda estão sempre a menos de 30cms da superfície). Aquilo é a famosa árvore das patacas tornada realidade, apenas com a diferença de que não é uma árvore e que o 'cacau' vem do chão e não do ar.
Chamem-me sonhadora, mas caramba... como seria bom eu poder dizer no supermercado 'Peço desculpa mas vou ali apanhar mais duas pescadas para poder levar outro carrinho de compras.' ou então numa loja de griffe eu ousar exclamar 'Guarde-me aí esse vestido de gala que eu já venho com um atum para troca!'. Acabaríamos era com a secção de pescado dos supermecados mas olhem... era por um bom motivo!
Escrevi e reescrevi este post milhentas vezes, e nunca parecia ficar à altura de quem merece o Mundo. Curiosamente, a quem parece ter sempre algo a dizer falham-me as palavras certas. E por isso recorro, mais uma vez, às palavras de Saint-Exupéry.
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estaria inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...
Exactamente há 3 anos, por volta desta mesma hora, já eu começava a ser feliz. Obrigada aos meus mabequinhos por me manterem cativa a este amor que já não me cabe no coração. Vocês serão sempre o melhor do meu Ano Novo.
Adoro-vos muito, muito!
PARABÉNS!!
Este ano decidimos ir para casa da avó paterna celebrar o aniversário do dito. A minha sogra leva essas festividades muito a sério e, apesar de ser um almoço apenas para 4 adultos e 2 mabecos, começou a preparar logo tudo de véspera.
Chegados ao dia apressou-se a mostrar as iguarias que teriamos à espera enquanto tirava a melhor loiça para por a mesa e colocava o champanhe a gelar.
-Vamos ter almoço de gala! -brincava ela.
-Não se diz gala, avó... é galo. -corrige a Patapon.
Créditos da imagem: www.mercado.etc.br
Recordo-me de ser pequenina e a minha mamã nos fazer umas incríveis festas de anos. A casa era pequena e não eramos própriamente abastados, mas conseguia-se ter um bom nível de vida comparativamente aos tempos actuais.
Na sala de estar/ jantar afastava-se toda a mobilia para o lado e em cima da mesa, com uma toalha perfeitamente normal, colocavam-se os mais variados doces e salgadinhos, tudo caseiro e delicioso. Também havia sempre uns chupas colocados em meia batata coberta a prata (esta técnica aproveitei da minha mãe e dá um jeitaço) e uns rebuçados e a malta servia-se e pronto. E no terraço colocava-se uma mesa para os adultos, com chouricito e bifanas ou moelas, uma jolinhas e ficávamos ali todos reunidos, pequenos e graúdos, a celebrar mais um ano. Quando os miúdos estavam a chegar ao ponto D (de doidice) abria-se a porta e mandava-se tudo para a rua jogar futebol ou às escondidas em pleno bairro, sem sequer haver muita necessidade de supervisão.
E convidava-se as pessoas olhos nos olhos e nem era preciso horário. Todos sabiam onde comparecer e a que horas porque fazia parte da rotina. Porque estávamos habituados a conviver assim, com regras.
Hoje em dia há convites personalizados, espaços alugados qual baptizado, com mesas postas alusivas a um 'Tema' que se formos a ceder à pressão consumista das grandes superfícies ou lojas da especialidade nos fica numa pequena fortuna. Parece quase mal a comida ser caseira e não haver pelo menos um bolo 3D em maçapão/pasta de açúcar que corresponda à temática. E ainda é de bom tom ter um ou dois animadores.
E mesmo assim, mesmo com tanta 'oficialização' e sofisticação, parece que se perdeu algo essencial que é a educação.
No meu caso como a casa é mesmo minuscula não temos feito festas por cá, mas na sala de convivio do prédio, e talvez por eu indicar logo a hora de inicio e fim, ou porque não sendo a minha casa, as pessoas percebem quando subimos com os miúdos que estará na hora de encerramento, ou simplesmente porque a média etária dos mini-convidados é mais baixa, as coisas têm sido mais ou menos pacificas. Mas por exemplo nos aniversários dos meus sobrinhos, bem mais velhinhos, é frequente haver amiguinhos deixados por lá até tarde. E se no caso do mais velho (já com 16 anos) isso me pareça mais normal, juro que não consigo perceber o conceito de pais de crianças de 6/7 anos que largam os miudos à hora de almoço numa casa alheia e os vão buscar depois das 22h, e de muita insistência por parte da mãe do aniversariante.
Curiosamente nos ultimos tempos reparei até que o fenómeno já não se restringe apenas a festas. Mais do que a excepção à regra, agora parece que a regra é aproveitarmos os pais dos outros para babysitters dos nossos filhos. E eu até percebo o motivo económico já que estamos em crise, mas... e o respeito pelo espaço do outro? E perguntarem antes de o deixar a que horas deverão ir buscá.lo e RESPEITAR essa hora?
Juro que fiquei chocada quando há dias fui petiscar a casa da minha irmã. Era Domingo e o meu sobrinho mais novo brincava com um amiguinho. Passam-se umas horas e ninguém ligava sequer a saber do miúdo. Chega a hora de jantar e a minha irmã na dúvida se deveria contar com ele ou se os pais o viriam buscar entretanto. Quando eu comento com o miúdo:
- Vê lá se queres ligar à tua mãe, porque está quase na hora de jantar e pode ela já estar preocupada de não dizeres nada.
Ele responde com o ar mais natural do Mundo:
- Não! Ela disse logo que só me vinha buscar lá para a noitinha.
E pronto! Jantou connosco, e ficou até cerca das 22h00, que foi quando a mãe apareceu. Escusado será dizer que a minha irmã, que serviu de babysitter, ia trabalhar no dia seguinte, e tinha coisas a fazer antes de se deitar, mas acabou por ter de prolongar o serão porque não lhe podia virar costas. Não que ela sequer se queixe muito porque não tem o meu mau feitio, mas caramba... não acho normal.
E o mais incrível é que quando eu disse que achava aquilo estranhissimo ela me explicou que não seria o pior caso, já que o miúdo era um doce e os pais atendiam sempre o telemóvel, mas que no dia anterior tinha lá estado outro menino (e esse sim dava imenso trabalho já que só fazia disparates uns atrás de outros, e acaba por haver sempre confusão com o meu sobrinho) cujos pais simplesmente DESLIGARAM o telemóvel e foram buscá-lo às horas que entenderam (também depois das 22h).
Ora... serei só eu que acho isto estranho e uma falta de educação? Estarei eu assim tão desactualizada e com mentalidade retrógrada?
Reparem... é que no meu tempo também poderia dar-se o caso de ficarmos até mais tarde em casa dos amigos, mas por norma até estavamos com os nossos pais, ou então era mesmo por CONVITE dos donos da casa. Ia-se passar a noite a casa dos amigos, ia-se jantar também, claro... mas por convite, percebem? Nunca por imposição e nunca fiquei com a sensação que qualquer amigo meu fosse simplesmente abandonado em minha casa. Havia uma nítida preocupação com os miudos e muitos pais chegavam a ligar 1 ou 2 vezes a perguntar se estava tudo bem. Seria exagero? Eu não acho exagero, acho que é simplesmente boa educação...
No meio de tudo isto quastiono-me como é que eu, com o meu mau feitio, irei reagir quando os meus tiverem 6 ou 7 anos (espero que antes disso não me larguem cá as bombas-miúdo) e em vez de tomar conta de 2 me vir forçada a tomar conta de 10. Sim, tudo bem que já trabalhei uns aninhos com crianças/adolescentes, mas era paga para isso!! E num dos casos até bastante bem paga... Por isso resolvi elaborar um convite-tipo nuns moldes diferentes do habitual. Ora digam-me o que acham...
Estavamos a ver um episódio da Casa do Mickey Mouse em que a Minnie fazia anos. Já no final, depois da canção de encerramento, a minha filhota exclama aflita:
-Oohhh! eu n cantei os parabéns à Minnie!!
E lá tive eu que 'rebobinar' para lhe fazer a vontade.
...gajas!! Sempre preocupadas com a etiqueta!
Porque antes de sermos pais eramos namorados fazemos questão de celebrar anualmente a data a dois. E se nos anos anteriores o ‘a dois’ resumiu-se a um jantar (um belo jantar, diga-se de passagem, mas ainda assim apenas um jantar) depois dos miúdos estarem na caminha, este ano, e porque a data era também especial, resolvemos aventurar-nos por terras de Espanha.
Mas quem tem filhos sabe que nestas coisas nada é simples, e por entre doenças à vez (começou o Pandinha, depois eu e para terminar a Patapon) faltava pouco mais de uma semana quando decidimos arriscar e fazer as reservas. Contra toda a lógica de se viajar rápido quando o tempo é escasso, e porque o interesse era fugir da azáfama diária, optámos pela viagem nocturna no Lusitânia Comboio Hotel. Obvio que tão em cima da hora já não havia o alojamento mais barato e por isso tivemos de desembolsar 146eur por uma viagem em Grand Classe, mas deve ter sido dos valores mais bem gastos da minha vida.
Eram 20h00 e já andávamos pela Gare do Oriente meio ansiosos, a pensar o que iria falhar. Por diversas vezes conferimos o bilhete, perguntámos a seguranças e ao pessoal da CP qual a linha e se era necessário mais alguma coisa além das folhas A4 impressas da net (que saudades dos bilhetes à moda antiga!). E não sem uns dias antes nos ter dado um piripaico (como diriam os gestores do Sapo) por constatar que os bilhetes não tinham números contíguos. Sim… eu sei que no comboio, como em tantos outros locais, os pares são ao lado dos pares e os ímpares ao lado dos ímpares, mas nós tínhamos 2 ímpares que não eram seguidos. Foram telefonemas para a CP (que apesar de também vender os bilhetes não sabia informar porque a empresa que gere o Lusitânia é espanhola), e-mails para a Renfe (que nos respondeu que deveríamos escrever em inglês pois não percebem português), até que quase na véspera num telefonema para a linha deles, nos conseguiram desencantar um qualquer estrangeiro com sotaque de leste que falava abrasileirado. Embora não soubesse explicar porquê, garantiu-nos que o compartimento era o mesmo e que eu não teria que dormir com um desconhecido… e eu lá acalmei.
Mas confesso que só às 21h27 em ponto (mais uma vantagem das viagens de comboio é não haver atrasos) ao entregar os bilhete
s ao… bem… não posso chamar simplesmente revisor porque era mais que isso… talvez ‘Gestor de Acolhimento’ (porque aquilo parece MESMO tratamento VIP de Hotel de 5 estrelas) e sermos encaminhados até ao compartimento é que acreditei ser mesmo verdade. Íamos fazer uma viagem de comboio nocturna Lisboa-Madrid durante 10h00 num compartimento exíguo com 2 cadeirões confortáveis que desapareciam por baixo das camas estilo beliche que saíam da parede, e um wc completo colocado em pouco mais de 1m2.
Naquele breve instante ainda pensei… se sobrevivermos a isto, talvez seja possível aguentar o convívio por mais 18 anos.
E no entanto todos os receios desapareceram quando ao perguntar ao tal Gestor ‘‘Como é que as camas saem?’’ me respondeu ‘’Não necessita fazer nada, o bilhete inclui jantar e pequeno-almoço pelo que podem ir para a carruagem-restaurante quando quiserem que o jantar já está a ser servido, e enquanto lá estiverem vem cá alguém preparar o quarto e abrir as camas.’’…e PLIM!! Fez-se luz… estava no céu!!
Chegados à carruagem restaurante já o comboio estava em movimento e nós ainda a tentarmos equilibrar-nos pelo que foi muto agradável acompanharem-nos de imediato ao lugar. O jantar incluía bebidas, pão, café, entrada, prato principal e sobremesa, escolhidos de entre uma meia dúzia de opções, todas elas com uma descrição deliciosa. E eu só pensava como raio é que a garrafa de vinho se iria equilibrar com o balanço…
Apesar da estação do Oriente estar repleta de pessoas que embarcaram para o Lusitânia, a carruagem restaurante ia praticamente vazia, talvez fruto dos preços praticados que me fizeram dar graças pela reserva de última hora nos ter levado a comprar o pacote Grand Classe.
Mas na mesa do lado estava um casal de brasileiros com 2 filhos que, não tendo o menu incluído no bilhete, se queixavam não apenas dos preços como da quantidade de comida. ‘’Mamãe!! Você reparou que dizia brócolo em vez de brócolos? Cá está porquê!’’, dizia o rapaz a apontar para um exemplar isolado daquele vegetal, num canto do seu prato. Apesar do pão quentinho estar divinal barrado com a manteiga, ainda questionei se iriamos passar fome. Mas longe disso… A entrada de tomate e cebola estava simples mas apetitosa, o ‘entrecôte’ era servido numa quantidade generosa e não houve qualquer razão de queixa das deliciosas sobremesas. E sabem o melhor? Apesar dos solavancos que faziam oscilar o vinho nas taças não entornámos qualquer gota!! E tudo isto a viajar com uma paisagem nocturna em constante movimento. Haverá melhor?
Depois de tal repasto e de bebermos calmamente aquele quer seria, provavelmente, o último café de jeito dos próximos dias, recolhemos ao compartimento onde duas caminhas abertas estilo camarata nos aguardavam. Apesar do espaço exíguo eram muito confortáveis, e cerca de 2horas depois já estávamos perfeitamente adaptados aos embalos.
Acordámos noutra terra, com outra paisagem que fazia lembrar o Alentejo. Apressamo-nos a tomar banho naquela que terá sido a casa de banho mais minúscula em que já estive, mas nem por isso deixava de ter todas as comodidades. Desde um kit de higiene que faria envergonhar muitos hotéis de luxo, até secador de cabelo. Tinha de tudo. E tinha um poste no duche, que se numa primeira observação poderíamos pensar ser um acessório para animar a festa, assim que sofríamos o primeiro solavanco ao tomar duche o motivo de tal acessório era mais que evidente. E foi assim, por entre solavancos e abanicos, com uma mão no poste e outra no gel de banho, que lá conseguimos tomar um belo duche e rumar, já completamente restabelecidos, cheirosos e fresquinhos, à carruagem restaurante, onde um farto pequeno-almoço nos aguardava.
Deu para comer calmamente, trocar dois dedos de conversa com o empregado de mesa, e constatar que, a meio da noite, o comboio tinha sido invadido por turistas. Curiosamente, ao contrário do que acontece em Portugal, eram na sua maioria, turistas espanhóis a viajarem por terras de Espanha. Seguíssemos nós este exemplo e talvez a economia nacional não andasse tanto pelas ruas da amargura.
Mais uma vez com a pontualidade de carril lá chegámos a Madrid às 8h10 da manhã, hora local, corrigida em mais uma hora que a portuguesa. A preguicite aguda que me invadia é que não deixava enganar o corpo, de que era bem mais cedo do que aquilo que me tentavam convencer, e foi com muita nostalgia de deixar para trás a caminha de embalo que pusemos o pé na estação de Chamartin.