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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Como não poderia deixar de ser o post de hoje tem a ver com amor.
Não sou apologista desta sociedade de consumo em que se transforma cada gesto num negócio, nem tão pouco acho que o sentimento deve ser confinado a uma data específica. Tal como o Natal, o Dia dos Namorados é quando um homem quiser. Ou uma mulher. Ou um mabeco. E deveria ser todos os dias.
Muita gente estranha o facto de eu continuar a tratar o co-irresponsável por 'namorado'. E nem é por não sermos oficialmente 'casados', mas porque não gosto sequer da palavra marido ou mesmo companheiro (desculpem-me mas quando referem a palavra companheiro imagino sempre dois gajos a jogar à sueca ou a dar uma corridinha pela expo), e porque espero que ainda seja e queira continuar a ser o meu namorado.
Em todos estes anos de convivência, em todas as festas e aniversários, já tive oportunidade de o presentear de muitas formas, mas acabo por preferir sempre esta forma mais pública, que nada custa, e que o deixa enrubescido. O plano original era irmos jantar fora, num jantar temático a dois em que iriamos trocar poemas originais presos em garrafinhas de vidro (não a ideia lamechas não é minha nem dele mas da nossa tasquinha preferida). Acontece que andamos ambos exaustos e que eu tenho tantas coisas para tratar que decidimos cancelar tudo e ficar em casa. Sem mabecos na mesma, mas em casa, no quentinho e no silêncio.
E como depois de 3 semanas alucinantes não me sobra cérebro para fazer o poema aproveito para fazer minhas as palavras de um dos meus autores preferidos, e reafirmar que adoro o José Carlos Fernandes. Pela simplicidade da escrita, do desenho, mas sobretudo pela coragem que teve para, num País como Portugal, dedicar-se à escrita de... BD. Para ele um grande beijo, muitas saudades, e a promessa de que cá em casa continuará a haver sempre pudim. Para o pessoal todo da 'velha guarda' da editora (Devir) obrigada por terem apostado em BD portuguesa com qualidade. E para o co-irresponsável apenas a garantia de que também eu não hesitaria perante um coração de arame... sempre!
Para quem não conhece fica a sugestão de leitura e de prenda para dia de São Valentim: Coração de Arame, José Carlos Fonseca, Devir.
Votos de um doce dia dos namorados para todos vós, e que o sentimento perdure por muitos anos. Só porque são esses bons sentimentos que valem por toda uma vida.
O Pandinha tem um gosto particular por livros. E uso o plural mais plural que houver porque o miúdo é incapaz de pegar num singelo exemplar. Cada vez que vão dormir o cenário é o mesmo... demora horas a fio para escolher 2 livros para levar para a cama. Tempos houve que levava mais que isso, mas tenho conseguido refreá-lo por causa de uma noite em que acordou aos berros por levar com o maço de livros de eleição na carola.
Já a Patapon chega à prateleira, estica o bracinho e pega num único livro que depois se apressa em ler em voz alta para o mano também ouvir, e nisto deita-se para o lado e diz:
-Mamã já está! Tapa-me que tenho soninho!
Uma delícia esta minha filha, e por isso a quem ainda acha que a gajas demoram horas a fazer seja o que for ou a escolher seja o que for tenham tino, pá!
Mas adiante... este interlúdio era para explicar este nosso ritual antes de adormecer, e que a meu ver é uma excelente forma de os preparar para a caminha como uma sequência normal de acontecimentos que leva a um adormecer mais ou menos sereno (sim, por vezes há birras mas em 99% dos dias resulta na perfeição).
Acontece que há dias e dias em relação ao adormecer propriamente dito (como já referi) e dias e dias em relação à escolha dos livros. E ontem foi um desses dias em que o pandinha não se decidia.
Ora já por aqui referi que a casa é pequena e que os putos não foram planeados, certo? Por isso no ano anterior a eu ter ficado grávida, e completamente ignorantes daquilo que o destino tinha reservado para nós, estivemos a transformar o quarto de hóspedes em escritório/quarto. Um sofá cama muito prático da IKEA (IKEA PS em azul escuro a imitar ganga) permitia fazer uma caminha confortável em segundos, e por isso continuava com a valência do quarto, mas as estantes apinhadas de livros (tanto eu como o co-irresponsável adoramos ler) e a ampla secretária Galant (também da IKEA e juro que não ando a receber royalties) tornava-o num escritório mais luxuoso do que eu alguma vez tive.
Assim que soube que estava grávida ainda considerei a possibilidade de conseguir conciliar o quarto do bebé com o escritório e manter aquela secretária porque, de qualquer forma, ele viria a precisar. (Tretas! mas calha bem justificar assim, certo?) Acontece que os planos cairam completamente por água quando soube que em vez de um vinham lá dois bebés. Como não tinha onde colocar tanto livro as estantes ficaram mas tive que dizer adeus à secretária para colocar as caminhas dos gémeos.
Não me parece que me tenha saído mal com a requalificação do escritório, mas também não serei própriamente daquelas mamãs cor-de-rosa. Passo a explicar... mamãs que fazem cortininhas e edredons a condizer com as saias dos cestinhos de verga onde colocam os produtos de higiene alinhados por tamanhos, que escolhem o berço de verga com dossel a combinar com o restante cenário e pintam as paredes de rosa com aplicações de stencil florido. Aqui não há nada disso! Há cortinas na mesma e edredons mas tudo de compra, e não há cestos de verga pois embora adore os cestos em si acabam por não ser tão práticos e só criam é mais pó e ocupam mais espaço. Nada contra quem pensa de outra forma e reconheço que sou um pouco gajo nestas coisas, mas os putos gostam do quarto com BD na parede e livros nas estantes e pronto!
E gostam tanto, tanto, que de vez em quando lá vão surripiando umas coisias dos pais. Nunca sem antes pedir autorização que nisso (na educação) gastamos muito tempo e suor, mas acaba por compensar no que nos facilita a vida. Adiante...
Pois ontem depois de ter jogado as mãos às edições especiais de BD da Maxmen do co-irresponsável, e olhado para mim com olhar inquiridor lá o Pandinha abandonou o alvo perante o meu olhar sério de reprovação.
-Não 'podo' mamã?
-Essas é melhor não, querido. São do papá e não são para estragar... Escolhe um livro!
Quando dou por isso estava a apontar para a coleção 'Sin City', do Frank Miller:
-'Podo?'
-Esses não, querido! Escolhe um com bonecos!
Nisto viro as costas para ir tratar da Patapon e sou acordada dos meus pensamentos por um sonoro:
-Este, mamã!
E deparo com o puto de sorriso rasgado a segurar o meu exemplar autografado do 'Fadas Láureas' do Luis Louro. Chamem-lhe parvo...
Segundo o google hoje seria o 129º aniversário do Rorschach. Para quem não conhece, é a prova de que da suiça não vêm apenas queijos mas também psiquiatras. A ele se deve o famoso teste de Rorschach, que não são mais que uns borrões de tinta simétricos, como aquelas célebres borboletas que faziamos na pré-primária. Que sejam interessantes eu percebo, e ainda hoje quando os meus filhotes as fazem eu fico fascinada a olhar para aquilo pois é realmenete de uma simplicidade extrema mas encerra uma certa mística. Que ele diga que dá para ver ali coisas também percebo, mas eu com uns copos a mais nem preciso das pranchas. O que não percebo é em que é que as dele são melhores que as minhas ou de qualquer outro artista.
E não me acusem agora de sofrer de megalomania. Tomemos o exemplo de Picasso. Ora uma das grandes vantagens de se ter uma mamã que se interessa pelo Mundo que a rodeia é poder crescer a olhar para um Picasso. Não era o original claro -ou eu teria bem mais tempo para escrever no blog- mas era uma reprodução de uma das obras menos conhecidas da sua fase azul. Sempre me falaram dele como a 'Mulher Azul' (desconheço se será o seu nome original), mas para mim ficou conhecida como 'A mulher e o bacalhau'... e digam lá que não o conseguem ver no canto superior direito (direito do quadro, vosso lado esquerdo para quem ainda anda com a lateralidade mal desenvolvida)? Ou a perna da bailarina e a cabeça de um soldadinho de chumbo no canto oposto? Ou um lagarto nas costas e um 'E' no rabiosque? Ou tantas outras figuras por ali dissimuladas. Recordo-me de ficar horas a olhar para aquilo a ver se descobria mais alguma coisa (e não...nem sempre estava alcoolizada). Agora chamem-me lá esquizofrénica por ver ali mais que borrões de tinta!
Mas críticas à parte o Rorschach acabou por ter um impacto positivo no Mundo. Pelo menos no meu, já que tornou as aulas de Psicanálise bem mais interessantes, e passei a ter desculpa para por a família inteira a olhar para borrões de tinta e depois fazer uma bela figura a interpretá-los. Tempos giros esses em que ninguém se importava de ser cobaia e até implorava por isso. Um deles era o co-irresponsável, o único que para mim permanece 'incotável'. Digo-lhe que é por ser demasiado complexo e ele baba-se todo. Na verdade talvez seja por medo que não o faço. Imaginem que descubro por ali alguma patologia latente... e depois? Fujo ou atiro-me a ele?
Também devo ao psiquiatra Rorschach a inspiração para uma das minhas personagens favoritas de BD, e um dos melhores livros que li na vida. Falo da personagem Rorschach do célebre Watchmen, e aproveito para enviar um beijo especial para o Dave Gibbons, pois foi um marco na minha vida ler esta obra (e aí todo o crédito para o Alan Moore) e um ainda maior poder conhecê-lo e conviver com ele mesmo que por breves instantes. Hoje em dia tenho pena de já não fazer parte dos célebres Festivais de B.D. da Amadora de uma forma tão activa, mas espero em breve poder apresentar os gémeos a esse fascinante Mundo que tanto eu como o co-irresponsável apreciamos.
Foi graças também ao psiquiatra Rorschach que o Gnars Barkley pode fazer um vídeo interessantíssimo e inovador, em que as manchas de tinta se sucedem ao som de uma bela melodia em que se fala de loucura e de amor. Uma grande redundância, eu diria... já que amor e loucura parecem estar sempre ligados.
http://www.youtube.com/watch?v=bd2B6SjMh_w
O triste de toda esta história é que o dito Sr. Rorschach, o da terra dos relógios, queijo e chocolate, morreu cedo. Tinha apenas 37 anos quando morreu de peritonite. Ora eu relógios não uso porque consigo acabar-lhes com a pilha em 2 ou 3 semanas no máximo, chocolate não gosto (e pronto... com esta já coloquei uns quantos de boca aberta a perguntar 'Como é possível??' Mas é verdadinha... nem gelado do dito, nem bolo, nem sequer um cacau quente), mas queijo como às carradas. Vai daí (e porque não falta quase nada para lá chegar) isto deixou-me a remoer na vida. É certo que ultimamente há muita coisa de que me poderia queixar, e que por vezes, no circulo de familia e amigos mais chegados até me queixo, mas de um modo geral acho que sempre tentei aproveitar todos aqueles pequenos prazeres da vida, e que o faço de forma exemplar. E se bem que tenha mau feitio não houve nunca ninguém até à data que me tenha pedido ajuda e que eu tenha negado, e na maior parte dos casos sou mesmo eu a oferecer essa ajuda. Quem me quer bem tem o melhor de mim. Tento também passar todos estes valores para os meus filhos e liderar pelo exemplo, mas tenho plena consciência que também eu falho como mãe, como filha, como irmã, como amiga, como namorada. Por vezes gostava de estar mais presente, e nem sempre consigo... esse é o meu grande pecado.
Mas sentada aqui no sofá a olhar para as formas das nuvens (a ver elefantes cor de rosa e outras coisas mais) e fazendo a minha introspecção concluo que, apesar de não ser perfeita, não serei talvez das piores pessoas do Mundo. E gosto de por aqui andar... por causa do queijo e não só. Por causa destes meus 2 ratinhos que tanto adoro... Por isso, se em alguma altura me queixo, e para que não seja mal interpretada pelas instâncias divinas, faço minhas as palavras do Sr. Gnars Barkley (porcaria de nome este... OHHH!! Perdão!) e digo:
''My heroes had the heart
To live their lives out on a limb
And all I remember
Is thinking, I want to be like them
Ever since I was little
Ever since I was little
It looked like fun
And it's no coincidence I've come
And I can die when I'm done''
apenas para concluir: I'm not done yet!! Por isso nada de peritonites aqui para a menina, ok?