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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Há quem tenha queda para a música, quem tenha para o teatro ou mesmo para a escrita. Há quem declame poemas a fio de memória, e quem saiba dar toques na bola e fintar como ninguém. E há a minha filha... que tem queda para pisar cocó de cão!
Pois hoje, para não variar, num passeio pelo parque com os avós paternos, calhou de acertar em cheio com um dos ténis novos (que embora tenham sido estreados na semana passada quase parecem ter feito já todo o inverno, ter sido atirados para o lixo, e depois resgatados numa qualquer reciclagem) num enorme poio. Não que eu o tivesse visto, pois por essa altura estava eu ainda no trabalho, mas dei por ele quando apertava os elaborados cintos da Graco, para iniciarmos a viagem de carro de regresso a casa.
Pais que são pais têm sempre toalhetes à mão, e pais de gémeos por norma têm um pack inteiro deles (e quando digo pack é sempre acima de 200 unidades dos ditos), e por isso respirei de alívio e fui buscar os toalhetes ao porta bagagens. Mas nem mesmo se tivesse gasto um pack deles conseguiria tirar o dito cocó, de tão agarrado e seco que estava (nota mental... não é boa ideia comprar ténis com solas de elaborados relevos). A solução passou mesmo por lhe tirar o ténis para, pelo menos, não sujar as costas do meu banco, como tinha acontecido no incidente anterior e que envolveu uma igual (senão maior) quantidade de caca.
Mas claro que isso não nos impediu -pelo contrário- que pudessemos gozar com a situação e com a pontaria da miúda. Mas bastou percorrer alguns metros, com a conversa de crescidos e Pandinha a roçar o limite da estupidez -sim, a malta reconhece!- para a resposta-pronta da Pespineta se fazer ouvir. Do alto do seu metrinho de altura, com voz segura e bem colocada, como se falasse para uma plateia sai-se com esta:
-Sabes... eu acho que é um disparate os cães fazerem cocó na rua. Os donos deviam ensiná-los a ir à sanita para eu não pisar mais cocó!
Pois... eu também acho! E subscrevo!
Recordo-me da minha mãe em tempos me ter dito que um dia haveria de ter uma filhota igualzinha a mim (tooooma que se enganou já que me sairam 2 de uma vez na rifa), e confesso que até passar pela experiência não tinha percebido se isso seria mau ou bom. Pois volvidos quase 2 anos e meio de convivência com estes 2 mabecos percebo que... é mau e bom. E mesmo o 'mau' é no bom sentido, mas acreditem que dou cada vez mais valor à paciência que a minha mãe tinha.
Mas porque nestas coisas convém deixar registo para um dia mais tarde os poder chantagear decidi criar esta pequena rúbrica das ´Pérolas dos mabecos', porque por muito que se esteja à espera há sempre algumas que nos apanham de surpresa... E aqui vai a de estreia, fresquinha e acabadinha de sair.
Dizia a pespineta para o mano:
-Tu queres tapar o panda?? QUERES??? QUERES??? (referia-se ao Panda gigante que lhes deram no Natal)
E como ele não se decidia…
-TAPA!
(passam 5 min)
-Tapaste assim? Assim não!! Olha…tapa assim…
E o miúdo finalmente cansa-se e responde
-Cala-teeeeee!!
Aqui está alguma coisa em que eu juro que tenho experiência...ler etiquetas!!
E quando digo 'ler' não significa apenas tentar perceber se foi feito na China e se tem muito poliester. Naaaaaaa... aqui esta menina teve uma disciplina de 'têxteis' na escola onde aprendeu a fazer tapetes de arraiolos (pena aquela porcaria fazer uma comichão odiosa no nariz!!) e a perceber o que cada símbolo quer dizer. Claro que isto não significa que não se faça na mesma disparates... mesmo porque nem sempre apetece ler e... upsss. Mas pelo menos permite-nos fazer figura de espertos.
Ora então há uns tempos reparei que os sacos da escola dos miúdos estavam a precisar ser lavados e pelo ar dava logo para perceber que não iam à máquina e que iria ter que esfregar, mas por curiosidade reparei na etiqueta (foto abaixo) e constatei que não só não dá para lavar à máquina como NÃO DÁ DE TODO PARA LAVAR!! E não... também não dá para mandar limpar a seco (como se fosse um bom investimento gastar uma pipa de massa a limpar a seco um artigo que custou 1€).
Resta-nos deitar fora e comprar outro, certo? GRANDE NEGÓCIO!! Como é que eu não me lembrei de uma coisa destas antes?? E reparem na ironia da marca... 'Pack It' Eu não diria melhor... Ora embrulha!!
...e foi com esta simples pergunta que a minha vida mudou. ''Se quero o quê???''
Para quem estava a tomar a pílula e ficou em choque por perceber que estava grávida ouvir esta pergunta logo na primeira eco não me deixou mais serena. Bem pelo contrário! Por momentos pensei que estariam a brincar, ou que seria a primeira pergunta de uma qualquer checklist manhosa de aprendizes de ecografistas (nem sei se a palavra existe e não me vou dar ao trabalho de procurar no Priberam porque a vantagem de se ter um blog também terá de ser escrever os neologismos que nos vierem à cabeça, certo?).
E com a voz meio trémula ela lá insistiu 'Perguntava se quer ter um ou dois bebés...'
'Está a brincar??' (juro que procurei dizê-lo no tom mais meigo do Mundo mas provavelmente não deve ter sido assim que saiu)
Nisto ela diz ''Não estou não...olhe! Um... dois. Está a ver?'' E eu vi! Eram 2 coisinhas minúsculas com caudinha e ar de crocodilo, que eu até duvidaria serem de origem humana, mas não havia dúvidas que eram dois.
Sei que pode parecer de pouca sensibilidade para quem há anos tenta engravidar e não consegue, mas foi também a pensar nessas pessoas que me saiu aquele mar de disparates pela boca. Com tanta gente a sonhar com ter gémeos porque raio é que aqueles mabecos me foram escolher a mim??? Logo a mim que até gostava de um dia EVENTUALMENTE ser mãe mas não me sentia ainda minimamente preparada para ser mãe de um, muito menos de dois. Até estavamos ambos (eu e o outro co-irresponsável) numa situação económica estável, até teriamos alguma maturidade (achava eu...loooool), até namorávamos há mais tempo do que a memória me permitia recuar, até tinhamos toda a gente em redor a ansiar para passarmos para esse Mundo maravilhoso da parentalidade, mas... E a crise? E as despesas que teriamos? E eu não ter logo percebido que estava grávida e ter feito os maiores disparates que poderiam ter afectado o bebé? OSSSSSS bebés!! OSSSSS bebés!!!
De imediato começaram-me a escorrer as lágrimas e eu perdi o chão. Pedi para não deixarem entrar a minha mãe e o meu sobrinho mais velho porque não queria que me vissem assim. Porque me sentia completamente perdida. Tentei limpar as lágrimas para ver o resto da eco. Afinal queria que me garantissem que eu não lhes tinha feito qualquer mal, e no meio de tanta coisa que não ouvi, recordo-me que a médica me tentou confortar a dizer que estaria tudo bem com eles.
O papá só dizia que ia correr tudo bem e que estava muito feliz e eu sentia uma dor que me trespassava por não conseguir sentir o mesmo. Ao sair e deparar com a minha mãe foi mais um mar de lágrimas. Recordo-me das palavras dela como se fosse ontem: ''Se um está a rir e outro a chorar é porque não deve ser grave.'' E não era claro, massss.... eram DOIS!! E mais uma a passar para o lado dos felizes e eu ali, com um peso cada vez maior na consciência. Nisto telefonemas para a minha mana, para a minha sogra, mais risos... e eu a achar que devia pertencer a outro Mundo.
Até que senti um abraço forte e as palavras 'Eu percebo, tia... é muita responsabilidade!' trouxeram-me para este Mundo novamente. E foi assim que um rapazinho de 13 anos me fez perceber que não estaria assim tão desfasada da realidade...