Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Parecia uma versão saloia do MIB-Homens de Negro, mas foi deles que me lembrei ontem durante o meu percurso de autocarro. A história conta-se em meia dúzia de linhas, mas mil palavras houvessem e não substituiria uma imagem. Pena não ter já trocado de telemóvel para o XPTO que me foi oferecido pelo co-irresponsável no meu aniversário de 2012 (sim, leram bem... ainda não me adaptei àquela tecnologia toda, mas juro que está nos meus planos).
Se já há muito tempo me tinha deixado de transportes públicos (excepção feita para quando opto pelo Metro para ir para o centro de Lisboa) não só por uma questão prática (havendo essa possibilidade não me parece lógico levar duas horas em transportes) mas também de comodidade -confesso- recentemente tive que recorrer novamente a estes. E estranhei aquele sistema de bilhetes. Pagar 0.50€ que seja por um bocado de papel recarregável que ao fim de 2 dias de uso já não funciona bem não me parece lógico. Mas agora é assim. E o papel do combóio não pode ser recarregado para o Metro, e o do metro nem sempre afina com o da Carris. Por isso 0.50€ para um, mais 0.50€ para outro, mais 0.50€ quando somos obrigados a substitui-lo e fico com aquela sensação de que me estão a roubar descaradamente.
De manhã, a horas impronunciáveis, é frequente ver passageiros em desespero para validarem os bilhetes. A paragem cheia de carneirinhos à espera que o carneiro da frente passe com o chip na máquina e que esta 'valide verde'. Aliás, recomendam que andemos sempre com o talão da compra para fazer prova de que está válido quando aquilo não funciona. É a mesma coisa que nos venderem uma tv que só dá os 'animados' (como diz o meu filho) de vez em quando e acharem isso normal. Chamem-me retrógrada, mas há tecnologias que não me parece que tragam grande melhoria à nossa vida.
Sou do tempo dos simples passes de plástico em que se colava uma senha mensal. Havia senha para a Carris e a combinada Metro-Carris. Agora, mesmo não andando de Metro, sou obrigada a pagar pela possibilidade de andar. E sou ainda do tempo do 'Pica', que era o nome que davamos ao revisor, que entrava pelo autocarro adentro com uma máquina estilo agrafador, e nos perfurava o bilhete.
Lembro-me de afinar com isso quando era pequenina, porque achava que de certa forma me estava a estragar aquele pedacinho de papel, e no entanto depois da experiência de ontem tenho saudade dos velhos 'Picas', que para além de nos estragarem o bilhete nos desgrenhavam o cabelo.
Ora e afinal o que se passou ontem? Nada mais que um encontro imediato com uma versão estilo MIB ou mesmo Matrix dos Picas. Ou melhor... três versões, ou melhor, 5 versões... Eu explico...
Ia eu e mais uma carrada de ovelhas num autocarro atrasado (isso não é novidade mas pelo menos agora com as novas tecnologias e o sistema de SMS podemos saber quão atrasado está) e apinhado quando o dito se imobilizou numa paragem central onde, por muito que entre carneirada, não costuma levar mais que 1 minuto ou 2 a retomar caminho. Estranhei a demora, sobretudo porque me apercebi também que havia pessoas a pedirem em vão para o motorista os deixar sair, e virei-me para trás (devido ao apinhanço seguia nas traseiras do autocarro num daqueles lugares que estimulam a toma de Kompensan).
Avançando de forma quase abutrea (mais um neologismo inteiramente da minha responsabilidade) por entre a carneirada aproximavam-se 3 silhuetas negras. Dois deles tinham casacos de 3/4 mas o terceiro envergava mesmo uma gabardine até aos pés, que lhe conferia o tal efeito Matrix. Com aparelhos electrónicos nas mãos seguiam corredor fora a apontar para cada um dos passageiros. Por momentos pensei que com uma luz intensa me iriam fazer esquecer do meu dia, mas afinal só queriam fazer scan no meu Navegante (para quem não está adaptado à terminologia é o nome pomposo que os passes têm agora).
De olhar ameaçador o Matrix fitou então uma ovelhinha tresmalhada que falava ao telemóvel com ar distraído. Notei um certo receio nos olhos dela quendo ele a fitou do alto dos quase 2 metros (sim, estou a exagerar mas acreditem que pela cara VIP do espécimen ele devia acreditar que tinha mesmo 2 metros) e lhe disse 'Este bilhete é da CP'. E nisto a senhora tira outro do bolso e pede que confirme se será aquele o certo. Com o scanner em riste e de olhar ameaçador o Matrix exclama 'Este foi validado pela última vez ontem às 16h32m e agora acusa que tem as viagens esgotadas.' E fica a fitar a dita senhora com cara de investigador de CSI que acabou de desmascarar um assassino em série.
Surgem então os dois restantes elementos do bando para terminarem de fiscalizar a rectaguarda do autocarro enquanto o Matrix dizia em voz seca e cara de poucos amigos para a senhora 'Vai ter de me acompanhar. Tem o seu documento de identificação?' e nisto olhei novamente só a ver se lhe teria crescido um crachá da PJ à cintura, mas não. Continuava um simples fiscal da Carris, inchado no alto dos seus já 2 metros e meio. Foi então que o terceiro elemento do grupo disse em tom de caso para o motorista 'Já estão todos. Pode abrir a porta!'
E assim sairam os três, escoltando a senhora franzina, e indo-se juntar a mais dois MIB que aguardavam do lado de fora do autocarro. Ainda espreitei a ver se a senhora sacava de duas Desert Eagle ou de uma Kalashnikov, mas nada! Apenas sacou do Cartão de Cidadão e ficou impávida e serena enquanto o Matrix abria o caderninho das multas.
Foi assim, perante um autocarro apinhado de gente que comentava o absurdo de tal aparato, e a atitude excessiva dos MIB, que me recordei das palavras de um grande professor de faculdade:
-Quem não tem colh... puxa dos galões.