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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Num acesso de mimice aguda, estava eu a prespegar beijos repenicados na bochecha do Pandinha, quando este num acto quase automático saca da manita e limpa a dita bochecha.
-Então a mamã está-te a dar beijos e tu limpas? Assim fico triste...
-Não é a limpar. -responde ele sem hesitar- Eu esfrego assim na cara e eles descem para o coração para eu os guardar.
Sabes muito sabes... E não, este sorriso nunca me enganou...
Acabei de saber que tenho duas das minhas melhores amigas no mesmo hospital.
Uma delas pelas piores razões pois arranjou como companhia um bicharoco que conseguiu enganar as equipas médicas por vários dias. E infelizmente esta é uma história que já conheço pois tive um primo que gosto de igual modo e que também passou por essa estupidez de estar à beira da morte por algo tão incrivelmente parvo, e perdi assim a minha querida avó Vitória.
Não consigo imaginar se será pior a dor física que se sente de ter uma tal companhia dentro de nós ou a dor psicológica de não descobrirem o que temos ao ponto de começarmos a ver o Mundo com outros olhos. Seja como for, nenhum deles merecia. É injusto, e agradeço que informem a Gerência Superior que algo está mal na lotaria das doenças.
E se em relação à minha avó acabámos por perder a luta, a do meu primo, longa que foi, acabou por ser ganha. E tenho agora a minha querida Sónia, que sempre tive como um exemplo de coragem e de altruismo a travar a mesma luta. Felizmente já tudo parece estar bem, mas foram momentos complicados vividos por uma familia que já tanto teve de ultrapassar nos ultimos anos. É INJUSTO!
Valha-me o facto do Mundo ser tão pequeno que a minha querida enfermeira do coração calhou estar no sítio certo, na hora certa. Fizemos juntas a secundária e foi por pouco que não segui enfermagem com ela. Conforta-me saber que a Sónia está bem entregue, nas mãos da Teresa. Conforta-me saber que posso encomendar beijos que estes ser-lhe-ão entregues.
Por tudo o que já passámos juntas, aproveito para lhes agradecer publicamente às duas, e ao Mundo, por ser tão pequeno, que possibilita que dois pedaços do meu coração coexistam no mesmo hospital a dada altura.
Melhor me sentiria ainda se a minha mãe não tivesse acabado de dar entrada nas urgências, com a tensão a 23/11. Também ela está bem acompanhada, pela minha irmã, mas ainda não está livre de perigo. E isto desculpem, mas dilacera-me o resto do coração...
Por isso desculpem se não passar por aqui no fim de semana. Beijos a todos os que me querem bem.
Escrevi e reescrevi este post milhentas vezes, e nunca parecia ficar à altura de quem merece o Mundo. Curiosamente, a quem parece ter sempre algo a dizer falham-me as palavras certas. E por isso recorro, mais uma vez, às palavras de Saint-Exupéry.
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estaria inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...
Exactamente há 3 anos, por volta desta mesma hora, já eu começava a ser feliz. Obrigada aos meus mabequinhos por me manterem cativa a este amor que já não me cabe no coração. Vocês serão sempre o melhor do meu Ano Novo.
Adoro-vos muito, muito!
PARABÉNS!!
Correndo o risco de ser apedrejada na rua há uma coisa que tenho mesmo muita necessidade de dizer: Nem tudo é fruto do acaso ou sorte!
Ultimamente deparo-me com imensas pessoas que, atraídas pelo 'factor gémeos', não se abstêm de comentar que acham imensa piada, mas também que eu tenho 'Muita sorte por eles serem assim calminhos', que é como quem diz... bem educados, certo? É que para mim não é uma questão de 'sorte' nem de genética, mas de educação. E de regras, e de rotinas, e... de trabalhinho! Como diriam em locais bem mais campestres há que semear para colher.
Reparem... com isto não quero dizer que não tive 'sorte' com os putos que me calharam. Claro que tive! Mas tive no sentido em que são saudáveis, o que facilita muito tudo o resto. Agora dêem-me um pouco de crédito e coloquem pelo menos a possibilidade de que o facto deles se encostarem ao fundo do elevador de imediato assim que entramos não será apenas acaso mas fruto da educação que lhe tentamos incutir. Foram meses a fio a jogar ao jogo das lapas. E sim... serem dois facilita no sentido em que há sempre uma competição para ver quem consegue imitar melhor uma lapa, encostadinho ao fundo do elevador. Mas mesmo com um também dá, desde que entremos na brincadeira também.
E claro que também tenho dias em que passo vergonhas perante um vasto auditório de pessoas que se escangalha a rir enquanto os mabecos se esfregam no chão da escola, esperneiam e dizem 'Não quero iiiiiirrrrrrreeeee!' ou 'Quero iiiiireeeeeeee a pé!' (sim...o 'quero' e o 'ir' costumam ser denominadores comuns nas birras dos meus putos, em que também temos a versão 'Quero iiiireeeeeeee para casa da avó' quando os repreendemos, ou 'Quero iiiireeeeeee para a praia', quando chove a potes), e claro que também há noites em que me dão a volta com muita pinta e me fazem trocar-lhes as fraldas 3 ou 4 vezes antes de dormir. Mas sei que é tanga, e tenho plena consciência de que ceder não é o melhor para eles, embora aquelas carinhas angelicais façam derreter o coração de qualquer um, e a experiência dos quase 3 anos lhes dêm já argumentos muito válidos. Recordo muitas vezes as respostas prontas da 'Mafalda'.
Por isso se cedo é sempre a excepção e não a regra. Porque as regras fazem falta a todos, e ainda mais quando se tem gémeos. Mesmo que nos doa um pouco por vezes termos de ser assim, há que pensar que será por um bem maior.
E sim, tenho forma de comparação, pois tenho dois sobrinhos que por serem de idades diferentes, e por os poder despachar ao fim do dia quando já estavam a ficar rabujas, pude mimar à vontade. Sobretudo com o mais velho tive a oportunidade de o embalar ao colo ao mínimo gemido, e ao mais novo gosto de lhe dar uma prendinha inesperada de quando em vez. E faço-lhes toneladas de lasanha, e deixo-os comer quilos de gelado se assim o quiserem. Mas por exemplo não os levo às cadeias de Fast Food nem que a vaca tussa. Porque acho que a comidinha de casa é bem mais saudável, e podemos fazer as nossas próprias pizzas e hamburgueres, mas felizmente também temos pertinho uma boa pizzaria e hamburgueria caso queiram arejar um pouco. É uma questão de princípio e sim, de início foi complicado não ceder à solução mais simples. Mas hoje em dia já nem pedem sequer e penso que já diferenciam bem as alternativas pela qualidade.
Também a hora de deitar por aqui é sagrada. Desde cedo lhes expliquei que para crescer e ter energia para o dia seguinte há que comer e depois descansar. Não pensem que os obrigo a comer pois se já era da opinião que essa não é de todo uma prática construtiva (muitas crianças há que assim ganham aversão à comida), o facto de ter gémeos faz com que não haja sequer tempo para se estar a insistir durante uma hora que o menino coma a carnixazita e a fazer aviõezinhos. Havendo duas bocas para alimentar, duas fraldas para mudar, e dois mabecos para por a dormir tudo o que possa facilitar a vida é bem vindo. E por isso recordo-me daqueles primeiros tempos em que colocava a comida no pratinho e era uma colherada a um e uma colherada a outro. Enquanto um abria a boca o outro mastigava. Assim que começaram a querer pegar na colher sozinhos tanto melhor. Fazem uma chavasquice a toda a volta mas aprendem a desenrascar-se, e isso a meu ver é essencial para a vida. E a rotina do dormir também está cada vez mais interiorizada. Embora haja dias e noites (e dias e noites e dias e noites) em que me salta um berro boca fora, com um rotundo 'ACABOUUU!', na maior parte das vezes confesso que me dá um certo gozo vê-los todos crescidinhos a pegarem num brinquedo e num livro, lerem por 5 minutos e depois dizerem 'Já estááááá, mamã!'.
Por isso quando me dizem que é mera sorte ou me sinto um pouco a rainha má, tento pensar que faço o melhor que sei, e que espero que os ajude pela vida fora a viverem numa sociedade com cada vez mais regras. E com as rotinas e o tempo bem gerido é sempre possível encaixar-se um período para as brincadeiras, para os mimos, ou simplesmente para desafinarmos em cantorias tolas, de músicas inventadas não só por mim, mas já por eles. É bom vê-los crescer, e sim... nesse sentido tenho uma grande sorte!!
Adoro quando os gajos se brotoejam todos por causa daquilo que é socialmente visto como algo masculino ou feminino. Aqui o blog não é excepção, já que por entre os muitos visitantes incógnitos estão alguns amigos meus do sexo masculino, que tiveram a coragem de me dizer que seguem o blog mas que não o comentam por ser de cariz feminino, para não dizer pior. Um deles até usou a expressão 'O único blog de gajas que gosto de ler'. Mas às escondidas, certo? Não vá alguém pensar que ele teria uma pontinha cor-de-rosa (com o novo acordo ortográfico acho que já não é assim que se escreve mas estou-me a borrifar, em primeiro lugar para o acordo, em segundo lugar para quem o defende).
Já por diversas vezes ouvi pais (pais no sentido de progenitores, por incluir ambos e o português ser uma língua machista... espera lá que agora o acordo não me parece tão mal se trouxer um pouco mais de flores à nossa vida e causar mais brotoeja a uns quantos) de crianças de sexos diferentes (e com isto quero dizer que têm filho(s) do género masculino e filho(s) do género feminino) queixarem-se dos comentários de familiares, amigos ou meros transeuntes por verem o puto brincar com uma boneca ou a miúda de manga arregaçada a encher-se de óleo de motor.
Também eu já assiti a olhares reprovadores de soslaio quando o co-irresponsável segura na minha mala. Devem achar que tocar num tal objecto faz com que, à laia de transformer (e desde já aproveito a desculpa para elogiar o novo anúncio da Vodafone, o qual espero poder 'escrutinar' brevemente- assim os mabecos me deixem tempo e neurónios para isso), ele vire gaja. Também adora dar-lhes banho e não me deixa secar o cabelo da Patapon. E mesmo assim ainda é macho! Será o vinho e a cerveja que o protegem?
Pois a esses caríssimos dinossauros ignorantes deixem que vos diga que já o meu pai (homem de outra geração e de uma zona de província, pelo que nem essa desculpa vos resta), quando eu era pequena, ia à mercearia (num tradicional bairro lisboeta onde toda a gente nos conhece e mete na nossa vida) comprar pensos higiénicos para as 3 gajas que tinha lá em casa, e hoje em dia continua com voz grossa. E não será do vinho nem da cerveja, que infelizmente por motivos de saúde (porque interfere com a medicação) ele teve de deixar. Então como se explica?
Acho que no fundo se explica pelo sentido prático das pessoas. Há adeptos dos KISS (não, não me refiro ao grupo musical, mas à célebre máxima 'Keep it simple stupid', no sentido de não complicar as coisas) e há malta com minhocas na cabeça em que tudo lhes faz confusão.
E agora perguntam vocês... (um de cada vez, um de cada vez!) porque raio fui buscar esta conversa? Ora... porque esta semana tocou ao Pandinha ser colocado perante um dilema desses em tão tenra idade.
No seguimento das multiplas Campanhas-de-Angariação-de-Qualquer-Coisa de Natal em que, atendendo à época e ao espírito vivido, ninguém questiona nada, dei por mim a dar 5€ por uma caneta para ajudar uma causa (por acaso nobre, não quero de todo retirar-lhe essa premissa). Pois... mas quando se tem gémeos temos que contar com tudo x2. Por isso foram 10€ por 2 canetas: para a Patapon uma vermelha da Kitty, e para o Pandinha uma azul do Homem-Aranha, segundo a escolha deles.
Que sejam multifunções é irrelevante, porque 10€ por canetas, nem que façam café, custam-me a dar. Só que a semana foi terrivel e aquilo estava estrategicamente colocado ao nível de visão dos mabecos, e eles pediram com jeitinho, e eu estava cansada, e... sim... estou a ficar moleeee!! Bem... dei a repetir para mim própria que uma causa mais nobre se levantava e que alguém ia dar bom uso àquele dinheiro, e trouxe as canetas para casa na condição de só pegarem nelas depois de tomar banho e jantar, porque eu já sei o que a casa gasta quando há uma novidade.
E assim foi! Tomaram banho sem birra, jantaram bem, e depois até ajudaram a levantar a mesa e foram buscar os cadernos. Começam a escrever e a Patapon fica louca ao perceber que aquilo dava luz. Pois... mas a do Pandinha (em tudo semelhante) não dava. Ora uma das vantagens dos filhos únicos é que não há termo de comparação, mas com os gémeos temos sempre que contar com o factor 'outro puto'. Ele estava feliz com a caneta dele até ver a da mana, e não é parvo para achar que merece menos que ela.
Nos minutos seguintes tentei apaziguar as coisas e explicar que a caneta dele deveria estar estragada, mas para não ficar triste que a mamã no dia seguinte falaria com a senhora que me tinha vendido a caneta. E assim foi... no dia seguinte falei com ela e qual não é o meu espanto quando ela me diz que não haveria problema em trocar, não fossem as do Homem-aranha terem esgotado, mas que podia tentar arranjar. Ora eu conheço o Pandinha... ele não ia aguentar ficar nem mais um dia sem caneta. E de repente imaginei-me a calcorrear as papelarias todas de Lisboa com o Pandinha em prantos, mas pelo sim pelo não decidi pedir um tempo para falar com ele, que estava entretanto com o co-irresponsável, a apenas uns metros de distância.
Com aqueles olhos doces a fitarem-me ansiosos comecei a explicar-lhe a medo que não havia mais canetas do Homem-aranha, mas que iam tentar arranjar. E responde-me aquele pequeno homem que cada vez me enche mais de orgulho:
- Mas há da Kitty! Acendem, mamã?
- Sim, acho que só a tua estava estragada.
- 'Podo levar da Kitty?
- Sim, querido! Podes levar da Kitty!
E lá seguiu o Pandinha, de sorriso estampado, a empunhar uma caneta da Kitty, e ainda a acrescentar orgulhoso para a mana:
-Olha! É 'igaaaaal'! (é um jogo que eles fazem que consiste em encontar coisas iguais e anunciarem aos 7 ventos)
Nisto dei por mim a tentar perceber se o que estava mais iluminado era a caneta da Kitty, a cara do Pandinha, ou o meu coração...
Como já percebi que há por aqui muita gente com coração faço um apelo a quem possa disponibilizar um pouco de amor para adoptar esta boneca. Tem apenas 2 semanas e foi abandonada na zona de Lisboa. Mais uma semaninha e já poderá beber leite de um pratinho mas até lá segue com latinha de leite em pó e mini-biberon incluido. Uma delícia!!
MIAUUUUU!! QUEM ME QUER??
Vêm-me as lágrimas aos olhos, mas há certas coisas que têm de ser ditas... eu adoro o meu pai!
Nas memórias mais antigas consigo recuar até uma noite em que estava com otites e que me recordo, como se fosse hoje, de ter sido embalada por aqueles braços fortes até adormecer. Nunca se queixou. Sempre teve a maior das paciências para nós, e quando as coisas começavam a descambar bastava um olhar mais sério para que o respeitinho se fizesse notar. E no entanto tem um coração de mel...
Sempre foi uma pessoa extremamente humana, mesmo para com os nossos 'perros' (diga-se de passagem que embora seja alentejano de gema a proximidade a Espanha deixou-lhe estas marcas). Não havia dia que não se levantasse às 6h00 da manhã para ir com eles à rua, não havia dia que ao chegar do trabalho não fosse para o mato com eles (só ele para descobrir mato em Lisboa!!) e não havia noite que não fosse de robe à rua para mais uma vez os passear. Levava sempre um garrafão de água no porta bagagens quando ia com eles para a caça pois não gostava que bebessem das poças. Com todos os outros caçadores a rir, lá pegava ele na toalha turca para limpar as orelhinhas do nosso Setter ou da nossa Epagneul Breton nos dias de mais chuva. E em casa até de secador de cabelo o vi...
Para nós sempre foi mais que um pai. Era companheiro de brincadeira também, e de fuga muitas vezes... Tinhamos daqueles cestos de vime que enchiamos com um lanche improvisado e fugiamos para junto do rio quando eu ou a minha irmã ficavamos em estado E (E de estupidez), longe de pensar que daí a uns anos alguém havia de ter a mesma ideia e chamar-lhe Parque das Nações... e ali estavamos a ver o rio, a jogar com ele à bola ou simplesmente a conversar.
Quando se reformou tinha a minha mãe (a quem também terei de dedicar o Mundo um dia destes) sido transferida para mais longe de casa, e chegava bastante mais tarde que o normal. Pois para não termos que atrasar o jantar ele decidiu que havia de conseguir adiantar alguma coisa que fosse, e pediu à minha mãe para lhe explicar como se fazia um refogado e outras coisas básicas. E lá dava eu com ele a sacar do cadeninho para depois inventar o resto a seu belo prazer, como qualquer Chef que se preze. E juro que era bom! Mesmo nos petiscos que sempre fez, acho que dava para perceber que se perdeu ali um cozinheiro. Saudadinhas do célebre Coelho à Caçador ou das Cabecinhas de Borrego no Forno...
E foi precisamente depois de se reformar que (re)descobriu a veia artística. Ele que depois de um dia de trabalho de escritório sempre arregaçou as mangas para resgatar um qualquer tareco ao caixote do lixo e lhe dar outra vida, decidiu forrar o sótão a madeira sozinho. De tal forma que foi convidado para trabalhar com um amigo nas obras, e ele lá foi todo feliz...
Estaria ainda feliz se, num qualquer dia, a uma qualquer hora, um qualquer fulano não o tivesse atropelado. Ia a mais de 120 kms/h numa zona residencial limitada a 30 kms/h e desfez completamente o meu pai. Tenho a perfeita noção que perdi 'O Meu Pai' nesse dia, e no entanto recusei-me a deixá-lo ir. Tinha consciência da gravidade das lesões, mas por muito que a médica insistisse para não ter esperanças isso só me deu mais força para lutar. Ninguém melhor que nós, família, para sabermos que tinhamos ali um lutador. Nunca o meu pai iria baixar os braços, nunca iria desistir de nós. Por isso merecia mais, e melhor. E nesse sentido demos tudo o que pudemos. Tomara ter podido dar mais...
Hoje em dia, anos volvidos, ainda continua connosco. Apoia conforme pode e a medicação deixa. E embora a minha mãe tenha sido incansável, há um limite humano e mesmo físico para o que se consegue aguentar. A dada altura tivemos de ceder e deixar que fosse para um Lar. Porque a minha mãe já não o conseguia levantar, porque chegou a fazer traumatismo ao cair, porque andava num ciclo vicioso de se levantar tarde e não fazer convenientemente as refeições. E nisso o coração da minha mãe é muuuuuito mole.
Cheias de mágoa no coração lá fomos procurar uma alternativa menos má... Pois mesmo numa altura dessas deu-nos uma lição de moral e disse, nos poucos momentos de lucidez que ainda vai tendo, que não tinha duvidas que seria o melhor. Para ele, para a minha mãe, e mesmo para nós filhas, que mais à distância sentiamos na alma a mágoa de não poder apoiar mais.
Melhorou bastante desde então, já voltou a ter horários, rotinas, acaba por ter mais companhia, e até come de bom grado os iogurtes a que antigamente torcia o nariz. De manhãzinha é ele que recebe de sorriso nos lábios a senhora que trata dos pequenos almoços, e lhe exige que se vá despachar porque já tem fome. E tem dias melhores, e dias piores, e tem dias em que tenho 'O Meu Pai' de volta!!
Sinceramente...acho que merecia melhor. Sinceramente... tenho pena de não poder fazer o relógio andar para trás e apagar aquele dia das nossas vidas. Mas agradeço-lhe cada dia de luta, cada passo, cada gesto. Agradeço por continuar a tentar pegar nos meus filhos ao colo pois sei bem o quão acolhedor é aquele colinho. E sei bem o que ele se esforça para continuar por cá mais uns tempos... contra todos os prognósticos.
Por tudo isto, neste dia especial, insisto em limpar as lágrimas e por o meu melhor sorriso. Foi o dia em que nasceu, e não o dia em que foi registado (outros tempos em que para não se pagar multa fazia-se destas coisas). Mas não me importo que voltemos a celebrar em Dezembro... só porque ele merece. Isso e muito mais!!
Parabéns papá!!!
Obrigada a quem -sem saber- fez 4 crianças felizes. Passo a explicar...
Andava eu hoje perdida à procura de uma loja onde me garantiram haver umas pecinhas que preciso para a festa da escola dos miúdos quando, ao regressar ao carro deparo com 2 bicicletas junto a um caixote do lixo. Não estavam lá de certeza quando passei a 1ª vez e como demorei uns 10 min na loja deviam ter acabado de as deixar ali.
Inicialmente pareceu-me que estariam cuidadosamente encostadas por alguns miúdos que por ali andassem e até pensei que raio de sítio aquele para brincarem. Mas ao aproximar-me apaixonei-me pelas coisas mais ferrujentinhas que vi nos últimos tempos.
Ali estava uma bicicleta de menino e outra de menina, com ar desgastado e abatido mas com muito potencial dado toda a estrutura ser em metal. Não hesitei em empacotá-las no meu mini-carro e trazê-las para casa, mas não foi tarefa fácil.
Seja como for, vim todo o caminho com um sorriso de perplexidade por terem aparecido no meu caminho logo 2 e sendo que uma era de menino e outra de menina de idades semelhantes. Serão gémeos?
Como cada vez mais percebo que o Mundo é pequeno, e que a pessoa que me alegrou o dia pode bem andar pela net, queria agradecer pela generosidade de ter colocado aqueles 2 miminhos de forma tão cuidadosa, e garantir que serão muito bem lixados, tratados e pintados, e que fizeram sorrir a mamã, o papá e daqui a 1 aninho ou 2 os meus mabequinhos.
Do fundo do coração...