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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Estamos quase no fim de ma daquelas semanas que parece não ter fim.
-Não quero mais leiteeeeeee. - diz ela em tom de súplica.
-Estás a brincar, certo? O copo está praticamente cheio.
-Ohhh...
-Vá! Bebe mais um pouco.
(2 goles depois)
-Já chega assim?
-Não, não chega. Bebe o leite. O leite ajuda-te a crescer.
-Crescer? Não preciso.
-Como é que não precisas?
-Ora! Já não te lembras como eu era? Eu não nasci deste tamanho!!! Cresci!!!
Em conversa com a Patapon esta queixava-se que um dos meninos da turma a teria chamado 'bebé' e que outro andava a tratar todos os meninos por 'cocó'. Notei que ela se estva a sentir particularmente incomodada com a situação, porque andava-se a tornar uma coisa repetitiva e decidi então ter uma conversa mais 'profunda' com ela para lhe reforçar um pouco o ego.
-Sabes que há meninos assim... Há meninos que dizem as coisas por dizer, por acharem que têm piada. Não deves ficar chateada com isso porque sabes que não és nem bebé nem cocó, certo? És linda, inteligente, e ao contrário deles, és uma boa amiga... não dizes esses disparates. Tratas os outros meninos sempre bem, não é?
-Pois... mas ele olhou assim mesmo para mim (e exemplifica) e disse 'beeeeee-bééé'!
-Olha... ele até está a ser tolinho, querida. Porque ele é mais novo que tu e o mano. Se ele te está a chamar bebé então imagina o que ele é... seria ainda mais bebé que tu, não é?
-Pois é! Eu estou a ficar crescida, não é? Já vou fazer 4 anos.
-Pois vais! olha... sabes que mais? Se eles insistirem com essa do 'bebé' e do 'cocó' sabes o que lhes podes dizer? Precisamente... que estás quase a fazer anos e que se eles não gostam de ti então nem serão convidados para os anos. Porque só queres na tua festa quem seja teu amigo e te trate bem.
-Boa! Vou dizer isso. Se me chamam bebé e cocó não estão a ser meus amigos, não é? E assim não os convido para a festa.
-É isso sim. E vais ver que eles vão perceber que estão a ser tontos e deixam de dizer disparates porque querem vir à tua festa.
-Pois... a Bia é minha amiga e eu gosto muito dela. Ela não me chama bebé e eu quero que ela venha à minha festa. Mas eles se chamam não vêem, não é? Vou convidar a Bia e a Carolina e... Olha... eu sou convidada também, não é? Eu vou à minha festa?
-Sim, claro! Claro que vais à tua festa.
-Pois... tenho que ir porque precisam de alguém para apagar as velas, não é?
E foi então que acordei um pouco para a 'triste' realidade dos gémeos. A verdade é que ela nunca terá uma festa de anos exclusiva. A verdade é que haverá sempre mais alguém para apagar as velas. Alguém que nasceu 3 minutos antes dela e que ela felizmente adora. Para o bem e para o mal nunca estará sozinha, e em vez de festas em tons de rosa, de princesas e fadas, acaba por ter sempre festas unisexo. Mas ela nunca se queixou disso, tal como o mano. Tento sempre que as temáticas sejam adequadas aos dois e sim, cada um tem sempre o seu bolo e sopra as suas velas.
Porque para mim serão sempre 2 pessoas diferentes, que calharam nascer no mesmo dia. E por isso sorri e respondi:
-Sim, querida. Iremos sempre precisar de ti para soprar as velas mas também porque és a princesa da festa sempre, não é? És sempre a minha princesa!
E ela sorriu de volta com um ar bem mais seguro. E eu senti-me bem por ser mãe de uma menina tão crescida que percebe o quão essencial é para mim.
Aqui há dias quando os fui buscar à escola a Patapon lamentava-se pelo facto de, ao estar sentada na sanita a fazer chichi, ter saltado um pouco do dito para as cuecas e calções, o que fez com que tivesse de trocar de roupa. Expliquei que não fazia mal, que são acidentes que acontecem, e que para evitar situações futuras bastaria puxar a roupa mais para baixo.
À chegada a casa voltou a tocar no tema. Fiquei com aquela sensação que ela se tinha desiludido a ela mesma por ter feito chichi nas cuecas quando na realidade não terá sido propriamente um descuido mas um acidente. E voltei a dizer que não seria culpa dela.
-Mas é que tive de trocar de roupa e eu gostava dos outros calções.
-Pois... percebo, querida. Mas deixa estar que a mamã vai lavá-los já e se quiseres podes voltar a vesti-los amanhã.
E nisto a miúda, que começava a descentrar-se um pouco do lado negativo da coisa exclama entusiasmada:
-Mas as cuecas que me vestiram são giras. São aquelas do castelo e que têm brilhantes!
Nisto o Pandinha, que parecia brincar distraidamente enquanto as gajas falavam de... coisas de gajas... sai-se com esta:
-Mostra-mas!
-O quê? - pergunta a princesa.
-Mostra-me as cuecas!
E nisto algo em mim percebeu que um dia, em vez do pedido ser dirigido à irmã, poderia ser dirigido a uma qualquer flausina com outra qualquer intenção que não saciar a curiosidade em relação a um qualquer desenho. E assustei-me. Não, não vou deixar! Não... ele será SEMPRE o meu bebé! Certo? E então percebi uma outra coisa... um dia o pedido pode partir de um qualquer ranhoso.
E foi nesta altura que me dirigi à cozinha para me servir de uma tacinha de vinho tinto e engendrar o plano de acção para os próximos 30 anos... alguém conhece uma torre alta?
Imagem: uma bela sugestão de mobiliário infantil no site
http://www.decorativehomeinterior.com/
Dizia a Patapon:
-Mamã! Estou quase a crescer?
-Sim, estás a crescer. Estás sempre a crescer.-respondi
-Sim... mas quando? É que acabei de comer e quando a gente come, cresce!
Cada vez mais chego à conclusão que estamos rodeados de Peter Pans, e por isto entenda-se... pessoas que se recusaram a crescer, autênticas criançolas. Infelizmente não apenas no sentido mais lúdico, e passo desde já a explicar.
Trabalho desde há muitos anos -mais do que gosto de admitir...- em funções de Atendimento ao Cliente, pelo que compreendo o quão difícil certas situações podem ser, mas nem sempre é o cliente que falha e senti isso na pele recentemente.
Sempre fui bem tratada no supermercado aqui do bairro. Noto que sempre tiveram um cuidado especial na contratação de pessoas com um mínimo de educação e bom senso, mas infelizmente também por aqui as coisas estão a mudar. Raro é o mês em que não se vê por lá uma cara nova e por diversas vezes tive de reorganizar as coisas dentro dos sacos.
Não é que seja demasiado obsessiva -já sofri mais desse mal, mas parece que ser mãe de gémeos nos deixa pouco tempo para comichices- mas gosto das coisas com um mínimo de organização. Os frescos num saco, as garrafas no outro separadas por um outro saco para não irem a bater, as coisas mais pesadas no fundo e mais leves no cimo, e por isso até gosto de ir a locais onde seja eu a arrumar tudo, mas em supermercados de Bairro já estou habituada a ser atendida de outra forma e até gosto da mordomia para variar.
Pois este terá sido um final de dia particularmente cansativo para mim, e perante a eminência de ter de sair do trabalho a correr e ir buscar os miúdos à escola optei por despachar o jantar no supermercado e comprei uns pastelinhos de bacalhau já cozinhados e prontinhos a comer.
A senhora da charcutaria, como de costume, foi uma querida e retirou-os cuidadosamente da bandeja para uma couvete. A senhora da caixa, no meio de um enfiar atabalhoado de coisas nos sacos colocou a couvete no cimo de um dos sacos e pressionou para baixo para a encaixar melhor.
Ora... como os pasteis estavam entre a couvete e a mão da dita senhora não é preciso ser licenciado em Física Nuclear para perceber que perante uma acção sobre um corpo este reage com uma reacção. Dito de outra forma... esborrachou-me 2 pastéis sem qualquer piedade!
Sim... ainda respirei fundo, mas perante o ar de espeto da dita (para quem não sabe é aquele ar endireitadinho e de cara séria, semelhante a um frango no espeto, mas com o extra da cara que o dito frango não tem) a esticar-me o terminal de pagamento e a mandar-me digitar o código (juro que se não foi essa a intenção foi assim que soou) achei que deveria dizer alguma coisa.
-Sabe que dizer desculpe não lhe fica mal? -perguntei assim suavemente.
(nada)
-Não é que não se comam os pastéis esborrachados na mesma, mas já que a sua colega teve tanto cuidado a colocá-los aí, se não tem respeito pelo cliente ao menos tenha respeito por ela. -insisti.
-Mas eu não fiz de propósito! -responde ela finalmente de ar enjoado e agressivo.
-Mesmo assim, acho que não ficaria mal assumir o erro e pedir desculpa, certo? É que se tem pressa para terminar o turno ou se está chateada por por algum motivo a culpa não é de certeza minha...
Pois ela não só não pediu desculpa como continuou com aquele ar enjoado de quem parece talhado para o Atendimento ao Cliente, desde que o cliente se chame Babe e faca óinc!
Sinceramente não estive para me chatear e vim para casa a pensar que não deve demorar muito para ir para lá outra, mas foi curioso que dois dias depois os gémeos se tenham envolvido numa discussão que, tendo lugar no quarto deles, ecoava pela casa toda.
Chegada a mamã lá, a Patapon apressou-se a explicar que tinha um livro que o Pandinha entretanto decidiu que queria, e como esta não lho deu, ele resolveu tirar-lho. Como o sacana do puto é um brutamontes de primeira, a princesinha caiu no chão e a discussão era por ele não lhe ter pedido desculpa. E quando eu o repreendo pelo sucedido e lhe pergunto porque é que não pediu desculpa à mana ele sai-se com esta:
-Porque eu não fiz de propósito!
E nessa altura percebi que o que o separava esta criança daquela senhora não seriam propriamente 30 anos mas uns 50 centrímetros. E é triste constatar isto... Mas não é de propósito! Juro!
Confesso que desconhecia de todo o local e o conceito antes de ser mãe. Mesmo em frente ao antigo Olivais Shopping -actual Spacio Shopping o que é muito mais esclarecedor que ter a localização no nome, mas adiante...- existe uma Quinta Pedagógica, igual a tantas outras, ou não seria pelo facto de ter lá uma Árvore das Chuchas.
Explicando melhor, é uma árvore perfeitamente banal, com tronco e ramos e miraculosamente folhas, pois que com tanta chucha que lá têm pendurado ao longo dos anos já mal se nota que é uma árvore.
Da primeira vez que visitei o espaço, e alheia a tal conceito, confesso que até achei aquilo um pouco 'creepy' (que é quase como quem diz arrepiante, mas não é bem a mesma coisa e por isso perdoem-me o estrangeirismo). Pior mesmo só o Chucky (para quem não viu o filme acho que não perderam nada a não ser pesadelos)!
Mas depois de passarmos pelas tentativas de desfralde e 'deschuche' (belo neologismo este!), já começamos a achar qualquer técnica interessante. E por isso no Domingo passado lá fomos nós à Quinta Pedagógica dos Olivais com o intuito de pendurarmos as chuchas nas árvores.
Confesso que hesitei muito. Afinal eles 'ainda' só têm 3 anos, afinal estamos também a tentar o desfralde e isso parece-me até mais prioritário que as chuchas, afinal a chucha facilita muito quando temos que os acalmar.
E acreditem que quando se tem 2 putos gémeos e apenas 2 braços por vezes ajuda por a chucha num enquanto se embala o outro, mesmo que esse outro tenha sido o causador daquela confusão toda!
Só que crescer também é isso, certo? Deixar os objectos de transição da infância e 'transitar'. Mais tarde ou mais cedo teria de ser, e já andávamos a falar nisso há tempo. Disse sempre que eles só iam lá por quando quisessem e se quisessem. Que no fundo era por já estarem tão crescidos e quase a deixar a fralda que não fazia sentido estarem sem fralda e com chucha, e olhem... para eles fez sentido. Na véspera, enquanto preparava umas fitas para pendurar as ditas confesso que ainda hesitei. Seria cedo demais? E como os iria depois acalmar? Mas voltei a questionar e eles foram muito convincentes na resposta.
Chegados à Quinta Pedagógica foram direitinhos à Árvore e pediram se podiam ser eles a pendurar. Claro que sim! Claro que a intenção era essa. E por isso lá os erguemos na direcção de um tímido sol, por entre ramos apinhados de chuchas (muitas delas em plena decomposição). Braços em riste, um sorriso nos lábios, e foi assim que eles disseram adeus às chuchas.
Enchi-me de orgulho naqueles pequenos bebés-crianças. E prometi que os iria recompensar com um miminho. A Patapon fez-me prometer que lá iriamos vê-las de vez em quando e não saiu sem, depois da voltinha da praxe para dar cenouras e pão aos animais, fazer mais um adeus à chuchinha.
Curiosamente o Pandinha, que era o que me parecia mais agarrado à chucha, encaixou por completo a ideia de que é crescido, e foi a Patapon que teve dificuldade em adormecer nessa tarde. Perante a choraminguice da noite já eu me questionava 'O que foste fazer minha parva?', mas o miminho também era apreciado (eles acabaram por escolher uns Estrunfes que andavam a namorar há muito) e foi a ele que recorri para justificar que uma devolução da chucha implicaria uma devolução do miminho.
Quem me valeu foi o Pandinha, que criticou a mana por estar a choramingar. Disse que já eram crescidos e que não precisavam. E depois de inicialmente dizer que não, lá acedeu a que a mana fosse para a caminha dele. Dormiram juntos nessa noite, como nos primeiros meses de vida. E na noite seguinte já a situação acalmou.
Desde quarta feira que ela não pede a chucha, mas eu sei que na terça ainda levou o estrunfe à boca para chuchar... minha pequena grande malandra!
Eu sei que coração de mãe é assim. Para mim mesmo com 20 anos eles serão sempre os meus 'bebés'. E por entre as mudas de fraldas e os biberons de leite que ainda os consigo convencer a beber, o certo é que cada vez mais se afastam daquelas meias-lecas que me puseram no colo há cerca de 2 anos e meio atrás.
Se a Patapon sempre foi muito senhora e pespineta, confesso que ainda vejo o Pandinha como mais um gajo que, tão e somente por essa condição, irá certamente amadurecer só lá para os 40 anos. Mas a realidade pega-nos de surpresa... e por vezes tenho mesmo de encarar que ele está a crescer. Como... hoje de manhã.
Pois... hoje de madrugada, e quem sabe para não se ficar atrás da mana, saí de rompante da cama porque o Pandinha semi-acordou a pedir água. Assim que cheguei ao quarto de copinho do cão em riste (é um da IKEA que tem tampa em forma de cão, o que dá imenso jeito para que, no meio dos tombos do sono, o dito liquido não verta), nua e descalça, e me aproximo do berço sinto os pés molhados. De imediato pensei: ''Porra! Andas tão a dormir que não fechaste bem a tampa.'' mas de repente, quando ele estava já a sorver o conteúdo do copinho num trago, reparo que ele também estava nú. Não é que tenha tirado o pijama pois com este calor têm mesmo dormido só de fralda, mas o problema era ter mesmo tirado a dita cuja.
E de repente, com os pés de molho, faz-se luz. E pergunto... ''Fizeste chichi para fora da cama??!!!''
Conselho?? Nunca fazer perguntas para as quais seja melhor não sabermos a resposta.
Mas felizmente ao contrário da mana, que queria ir para a escola contar (no maior dos orgulhos) que tinha conseguido fazer cocó no tapete, o puto lá percebeu que não era coisa para bradar aos céus e ficou de ar envergolhado a olhar para a mãe a limpar o chão. Depois virou-se para o lado e voltou ao seu soninho. Afinal, nada de mais... Só deu uso à 'PILAAAAAA' como ele costuma dizer, certo? E no fundo... não sujou a cama ;)