TwinMummy

Semana complicada esta. Toda a gente constipada (putos e pais), e a mamã a levantar-se constantemente ora para ver se continuam tapados e dar mais uma colher de xarope para a tosse, ora porque o nariz entupido não os deixa dormir.

Resultado? Aquilo que, quando não éramos pais se tratava com um cházinho, miminhos da mãe, e uma noite bem dormida agora leva mais de uma semana a arrastar-se. Simplesmente porque alguém precisa de nós e não lhes podemos falhar...

No meio de tudo isto, recorre-se à dita da cebola cortada (Ver post: 'Dicas da Twin: Mezinhas caseiras - Xaropes para a tosse e mais...) a ver se os miúdos passam uma noite mais descansada (e sim, resultou), e temos de manhã espectáculo quando o Pandinha descobre a dita da cebola. 7 da matina e a conversa era esta:

-Mamã... o que é aquilo ali?

-Então... É uma cebola!

-Porque é que está uma cebola ali?

-Porque ajuda a desentupir o nariz e a respirar melhor.

-Quero comê-la!!

-Não é para comer, querido. Era só para desentupir o nariz.

-Mas eu quero comê-laaaaa!

-Querido... são 7 da manhã e ainda nem pequeno almoço tomaste. Não vais comer uma cebola...

-Mas eu querooooo!

-Olha... esta está cheia de pó porque ficou ali de noite mas logo a mãe faz salada com cebola, está bem?

E foi assim que convenci o puto a trocar a cebola por um iogurte... Mania de cebolite aguda!

Manhã de escola e eu já a desesperar ao tentar despachar os dois mabecos.

Confesso que ando um pouco destreinada pois, desde que comecei a trabalhar por turnos, é o pai que os leva à escola, e seja-lhe feita a homenagem... o gajo despacha-os em meia hora. E quando digo despachar é mesmo assim a despachar. Enquanto um vai ao wc ele veste o outro, depois trocam. Sapatos são eles que calçam, casacos são eles que vestem e para o pequeno almoço não há 'Ahhhh... e se fosse...' É! E pronto!

Eu em tempos já tive este poder. E acreditem que não é um superpoder. Como digo tantas vezes é fruto da necessidade de se ter gémeos e termos na mesma de chegar ao trabalho a horas. Mas como agora acordo de madrugada e saio de casa com o sol a raiar, só me calha a mim quando estou de folga (uma das grandes vantagens das folgas rotativas é precisamente poder deliciar-me com eles e mimá-los um pouco).

Pois... mas ter esta noção não é sinónimo de por em prática a teoria. Por um lado porque estou destreinada do regime militar, por outro porque... hmmmm... tenho saudades deles. E por isso sei que tolero um pouco mais do que devia.

Esta manhã foi um desses dias em que tenho a nítida sensação que tolerei de mais. E não é que se estivessem a portar mal... é que ele escolheu comer papa com bolacha, ela preferiu cereais, mas a dada altura ele disse que depois da papa também queria cereais, e ela pediu-me 'Uma bolachiiiiinha, mamã!' E quando dei por isso era já hora de partir e eu ainda não estava vestida.

-A mamã vai-se vestir num instante enquanto vocês acabam de comer, está bem? Qualquer coisa mais... esperam! -disse em tom decidido e algo autoritário a ver se encaixavam a ideia.

Perante o aceno de cabeças lá fui eu para o quarto convencida que tinha retomado as rédeas do poder, quando oiço uns passinhos apressados pelo corredor. Era a Patapon:

-Ó mãe! O mano diz que os meus cereais não prestam!

-Querida... ele está a comer igual por isso isso nem faz sentido ele dizer isso. E tu gostas, certo? Isso é que importa.

E nisto ela volta para a sala e oiço-a a repetir feita papagaia:

-A mãe diz que tu estás a comer igual e que não faz sentido dizeres isso. E eu gosto! OUVISTEEE?

Não passam nem 30 segundos e aparece-me lá ele:

-A mana disse que a minha papa é de chocolate e não é pois não?

-Não, não é de chocolate.

Mais passinhos plo corredor de regresso à sala e novo papaguear:

-A mãe diz que não é chocolate! Estás a mentir!

Passinhos duplos plo corredor e eu a tentar calçar os ténis. Aparecem os dois com o ar mais queixinhas do Mundo e começa a Pespineta:

-Ó mãe eu...

-Chega! -interrompo eu- Não quero ouvir mais queixinhas. Estou-me a vestir e já vou.

-Mas ó mãe!! -diz ela com um ar muito escandalizado- Eu estava a falar e tu interrompeste. Ora... não se interrompe quem está a falar pois não?

E é nestas alturas que acho que se calhar ando a educá-los demais... Meia dose de educação provavelmente chegava e dava menos chatices.

Sabemos que uma criança está a dormir profundamente quando, em plena madrugada, cerca de 2h depois de a andarmos a embalar porque não consegue dormir com o narizito entupido, vamos pé ante pé com ela na direcção da caminha e ao acertarmos em cheio com a cabeça da dita na esquina do móvel ela geme e continua a dormir.

Hoje a minha filha de 2 anos e meio deu com uma moeda de 50cts em cima da minha mesa de cabeçeira e ficou radiante. Perguntou se podia ficar com ela ao que eu respondi que sim. De imediato e com um sorriso contagiante nos lábios exclamou 'Que bom! Dá para comprar comida e biscoitos e brinquedos e tudo!' 

Ahhhh.... como é bom ter-se a inocência da infância estampada no rosto e não se ter a noção do quanto que este Mundo custa...

A criança que há em mim andava triste! Triste porque há práticamente 3 anos que as responsabilidades me cairam nos ombros e.... a dobrar! Triste porque já pouco penso em mim antes de pensar primeiro em todos os que me rodeiam. Triste porque, por causa de uma série de vicissitudes da vida me vejo numa situação complicada quer a nível pessoal, quer familiar.

Por isso quando este ano a minhã santa mamã me deu uma 'Prendinha do IRS' - como se o Sr. IRS desse prendas a alguém!!- eu resolvi que ia ser apenas um pouquinho criança e comprar algo para mim. E SIM, tive um peso na consciência por pensar que poderia gastar em comida, em roupa para os miúdos, enfim... Mas o certo é que acabo por gastar sempre tudo com toda a gente e tenho-me esquecido de mim, e se agradarmos à alma o humor torna-se tão melhor... E como se tem feito muita ginástica orçamental cá por casa e tinha as necessidades imediatas e a médio prazo satisfeitas pensei... CARAMBA!! Também mereço, né?

Vai daí liguei toda eufórica a contar que tinha comprado um jogo. 

-Um jogo de quê?- diz a minha mãe curiosa.

-Do Killzone, mãe!!! Comprei a edição especial do Kilzone 3, que andava a namorar há tanto tempo, e ainda para mais em promoção!!

Juro-vos que estava aos saltos e completamente deliciada por poder partilhar esta notícia com a minha mãe e agradecer-lhe, uma vez mais pela prendinha. Eis senão quando ela (que pelo titulo deve ter estranhado) me diz:

-Mas para os miúdos???

-Não, mãe!! Comprei para mim. É daqueles da PS3 que eu gosto mas que nunca mais joguei. Daqueles de tiros!!

(e fez-se silêncio do outro lado da linha)

-Eu sei que provavelmente tão cedo não irei ter tempo para jogar, mas assim de tempos a tempos vai-me saber tão bem, mãe!

(e continuava o silêncio)

- ...e claro que não gastei tudo... foi baratinho...

-Pois... sim, fizeste bem. Só não estava à espera que comprasses um jogo.

E foi assim que eu percebi que oficialmente tinha deixado de ser criança. Mas aqui entre nós, de forma não oficial... digam lá que não é o máximo e que não vos apetece também brincar comigo???