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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Cada vez mais chego à conclusão que estamos rodeados de Peter Pans, e por isto entenda-se... pessoas que se recusaram a crescer, autênticas criançolas. Infelizmente não apenas no sentido mais lúdico, e passo desde já a explicar.
Trabalho desde há muitos anos -mais do que gosto de admitir...- em funções de Atendimento ao Cliente, pelo que compreendo o quão difícil certas situações podem ser, mas nem sempre é o cliente que falha e senti isso na pele recentemente.
Sempre fui bem tratada no supermercado aqui do bairro. Noto que sempre tiveram um cuidado especial na contratação de pessoas com um mínimo de educação e bom senso, mas infelizmente também por aqui as coisas estão a mudar. Raro é o mês em que não se vê por lá uma cara nova e por diversas vezes tive de reorganizar as coisas dentro dos sacos.
Não é que seja demasiado obsessiva -já sofri mais desse mal, mas parece que ser mãe de gémeos nos deixa pouco tempo para comichices- mas gosto das coisas com um mínimo de organização. Os frescos num saco, as garrafas no outro separadas por um outro saco para não irem a bater, as coisas mais pesadas no fundo e mais leves no cimo, e por isso até gosto de ir a locais onde seja eu a arrumar tudo, mas em supermercados de Bairro já estou habituada a ser atendida de outra forma e até gosto da mordomia para variar.
Pois este terá sido um final de dia particularmente cansativo para mim, e perante a eminência de ter de sair do trabalho a correr e ir buscar os miúdos à escola optei por despachar o jantar no supermercado e comprei uns pastelinhos de bacalhau já cozinhados e prontinhos a comer.
A senhora da charcutaria, como de costume, foi uma querida e retirou-os cuidadosamente da bandeja para uma couvete. A senhora da caixa, no meio de um enfiar atabalhoado de coisas nos sacos colocou a couvete no cimo de um dos sacos e pressionou para baixo para a encaixar melhor.
Ora... como os pasteis estavam entre a couvete e a mão da dita senhora não é preciso ser licenciado em Física Nuclear para perceber que perante uma acção sobre um corpo este reage com uma reacção. Dito de outra forma... esborrachou-me 2 pastéis sem qualquer piedade!
Sim... ainda respirei fundo, mas perante o ar de espeto da dita (para quem não sabe é aquele ar endireitadinho e de cara séria, semelhante a um frango no espeto, mas com o extra da cara que o dito frango não tem) a esticar-me o terminal de pagamento e a mandar-me digitar o código (juro que se não foi essa a intenção foi assim que soou) achei que deveria dizer alguma coisa.
-Sabe que dizer desculpe não lhe fica mal? -perguntei assim suavemente.
(nada)
-Não é que não se comam os pastéis esborrachados na mesma, mas já que a sua colega teve tanto cuidado a colocá-los aí, se não tem respeito pelo cliente ao menos tenha respeito por ela. -insisti.
-Mas eu não fiz de propósito! -responde ela finalmente de ar enjoado e agressivo.
-Mesmo assim, acho que não ficaria mal assumir o erro e pedir desculpa, certo? É que se tem pressa para terminar o turno ou se está chateada por por algum motivo a culpa não é de certeza minha...
Pois ela não só não pediu desculpa como continuou com aquele ar enjoado de quem parece talhado para o Atendimento ao Cliente, desde que o cliente se chame Babe e faca óinc!
Sinceramente não estive para me chatear e vim para casa a pensar que não deve demorar muito para ir para lá outra, mas foi curioso que dois dias depois os gémeos se tenham envolvido numa discussão que, tendo lugar no quarto deles, ecoava pela casa toda.
Chegada a mamã lá, a Patapon apressou-se a explicar que tinha um livro que o Pandinha entretanto decidiu que queria, e como esta não lho deu, ele resolveu tirar-lho. Como o sacana do puto é um brutamontes de primeira, a princesinha caiu no chão e a discussão era por ele não lhe ter pedido desculpa. E quando eu o repreendo pelo sucedido e lhe pergunto porque é que não pediu desculpa à mana ele sai-se com esta:
-Porque eu não fiz de propósito!
E nessa altura percebi que o que o separava esta criança daquela senhora não seriam propriamente 30 anos mas uns 50 centrímetros. E é triste constatar isto... Mas não é de propósito! Juro!
Se é certo e sabido que muita gente necessitava de tirar a carta de condução (e não digo renovar mas tirar já que aquilo não é saber conduzir), todos os cidadãos deveriam ter carta de peão.
Aqui há dias ia eu estrada fora com os miúdos numa coisa estranha que se chama carro, e ao circundar uma rotunda aparece-me uma viatura mais estranha chamada peão pela frente. Sim, havia passeios desimpedidos de um lado e de outro, mas a senhora achou que seria melhor encurtar caminho pelo rotunda e saltou-me para a frente do carro. Acham que se assustou? Pelo contrário! Depois de atravessar pelo meio da rotunda continuou estrada fora a CIRCULAR À MINHA FRENTE! E eu lá fui a 5 kms/h, a buzinar e a fazer sinal de luzes, já que os carros estacionados em 2ª fila não me permitiam ultrapassar aquela viatura sórdida.
Mais uma vez a senhora lá continuou impávida e serena, e só junto ao cruzamento é que decidiu encostar-se um pouco para o lado, permitindo a minha passagem, mas nem assim recorrendo àquela coisa calcetada que eu acho que serve para os peões circularem mas que pelos vistos não é de uso consensual. Claro que perante a revolta dos próprios mabecos, que na sua maturidade de quase 3 anos, não queriam acreditar no que viam, não resistimos a apelidar a senhora de 'Palhacita' e seguimos caminho guardando a indignação no bolso das calças.
Mas pior que por em risco a própria vida é por em risco a vida de terceiros, e já por diversas vezes apanhei valentes sustos em manobras de estacionamento junto à escola dos mabecos devido aos peões que circulavam com crianças (não digam que são pais ou avós porque ninguém que faça uma coisa dessas merece essa classificação) decidirem passar encostados ao carro interrompendo o sentido da marcha do mesmo. Poderiam passar em qualquer outro sítio, poderiam esperar 30 segundos (já que não serei das pessoas mais demoradas a estacionar), mas não... é muito mais emocionante colocarem em risco a vida delas e das criancinhas que nem sempre levam um pouco mais protegidas ao colo, mas frequentemente seguram-nas pela mão mais próxima ao meu carro, a servir de pára-choques.
Outra coisa que me fascina são as passadeiras. Eu sei que há locais onde, devido ao nosso excelente planeamento rodoviário não existe uma única em dezenas de metros, ou quando existe, não serve de todo as necessidades pedonais. Mas outros locais há (e não serão assim tão poucos se repararem) em que as passadeiras estão práticamente lado a lado. Costumamos circular por uma rua em que existem 2 a menos de 5 metros uma da outra, e mesmo aí há sempre um Palhacito qualquer que decide atravessar entre ambas. Juro! E como a dita rua é a subir e os marmelos atravessam logo ao início quando estamos a acelerar para fazer a subida, tal comportamento incauto acaba por originar as manobras mais estranhas por parte dos condutores. Mas pior será para os que vêm embalados a descer e que são obrigados a parar de repente porque essa maltinha não só atravessa em local impróprio como se atira literalmente para a frente das viaturas. E o condutor que se desenrasque, ora essa!
Agora se destes fenómenos muita gente se queixa, acho estranho não haver mais gente a queixar-se de um outro que também incui peões mas em igual medida, ou seja... quando circulamos como peões cuidadosos que somos e levamos com um outro peão em cima. A minha mãe tinha uma colega invisual que costumava queixar-se que os outros eram 'mais cegos' que ela, que constantemente levava encontrões ou colidia com objectos transportados por terceiros (nunca percebi bem esta expressão pois sempre me fez mais sentido dizer 'segundos', mas enfim...). Não poderia concordar mais. Já me aconteceu por diversas vezes, mas registo em particular 2 destas situações que me marcaram de uma forma especial.
Uma foi quando os mabecos tinham cerca de 10 meses, e eu aproveitei uma pausa concedida pela minha sogra para ir à Primark comprar uns trapinhos, porque atendendo ao estado de magreza concedido pela amamentação (ai que saudades), já nada me servia. Estava eu na secção das gajas quando uma troglodita recolhe uma peça de um expositor e avança em marcha-atrás. Vi-a recuar e até me desviei, mas não contei que a dita senhora decidisse depois rodopiar e acertar-me com o cotovelo em cheio no peito direito. Numa situação normal seria complicado, mas para quem está a amamentar gémeos e a fazer concorrência à Mimosa com os seus 2 litros de leite/dia, acreditem que dói. E muito! Perante um 'Ah! Desculpe!' limitei-me a ganir conforme pude e a recorrer ao banco existente no exterior da loja para tentar recuperar o fôlego.
No dia seguinte estava a ser assitida de urgência pois tanto enchia frascos com leite natoso como com sangue. E a dita senhora calculo que estivesse muito bem refastelada a disfrutar dos seus trapinhos novos. Mas queixar-me para quê? Ela pediu desculpa, certo? Isso deveria acabar com a dor e com a preocupação de poder ficar com sequelas ou poder não voltar a amamentar. Foram dias de horror, mas felizmente (até à data) parece não ter passado de um susto.
Outra situação foi mais recentemente à entrada da escola dos miúdos, e doeu-me muito mais que 200 cotoveladas...só porque não foi directamente comigo, mas com o Pandinha. Não é que eu me ache inesquecível, mas o facto de se ter gémeos chama a atenção. E há diversas pessoas que metem conversa só por causa disso. A senhora em causa por diversas vezes se mete com os meus miúdos, e tenho-a em conta como sendo uma pessoa simpática e cautelosa. Só é pena não ter aquela capacidade de raciocínio dedutivo que não se aplica apenas à matemática mas que tanto jeito dá para a vida. Recordam-se do famoso 'se X, então Y?'. Pois aplicado ao caso em concreto seria 'Se Patapon, então Pandinha!' Simples, certo? Mas eu explico melhor e traduzo em miúdos (ou mabecos, como preferirem). Sabendo que são gémeos (como ela sabe), ver um significa que o outro em princípio não andará por longe. Então porquê ver a Patapon através da porta do edifício e em vez de questionar onde andaria o outro (eu própria estava a cerca de 1 metro da porta) simplesmente abrir a porta com força?
Pois... acertou na cara do Pandinha, que não só caiu desamparado de costas no chão como ficou com um pé entalado debaixo da porta. 'Desculpe!!', ouvi eu meio abafado, pensando que ela por esta altura já o estaria a ver bem, mas afinal só perante o meu grito de súplica 'Não abra mais a porta!!' é que ela percebeu que o estava a magoar no pé. Seguiu-se novo pedido de desculpas, que não o teria visto, que apenas viu a mana. E eu ali fiquei a consolá-lo sem saber muito bem como responder. Se acho que poderia ter sido mais previdente? Acho que sim. Mas também de certeza que não o fez de propósito e erros todos cometemos, certo? O problema é que não foi comigo, mas com a minha cria, e o meu instinto maternal exacerbado e animalesco não me permitiu proferir mais que um 'Acontece, deixe lá!', por entre os dentes serrados.
Eu sei que temos de manter a calma, eu sei que nem sempre a vida é fácil e as pessoas andam meio perdidas nos seus pensamentos. Por causa da crise, por causa do amor (ou da falta dele), por causa do tempo (porque o inverno é estatisticamente deprimente, como bem comprovado pelo aumento de taxas de suicídio nesta época), ou do trabalho (da falta dele ou da dificuldade em o manter). Mas problemas também eu tenho e um deles é com palhaços! Que me perdoe o Batatinha e a Picolé mas nunca gostei de palhaços! E desculpem lá o meu mau feitio, mas só me apetece jogar fora a minha carta de peão, as minhas boas maneiras, e ir ao focinho desta gente! E depois... pedir desculpa! Claro!