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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
E agora com as férias a acabar eis que começa o verão. Mas que timing tão perfeito... Raistaparta!
De férias há duas semanas continuamos à procura do Verão. Perante o cenário primaveril abaixo percebemos que já devemos estar perto...
Neste dia dos avós, e estando eu a tentar ter férias no sossego do campo, gostaria de prestar a minha homenagem aos avós do puto aqui do lado que está a aprender a tocar saxofone.
Fico com a certeza de três coisas:
1. Fazer escalas repetidamente de manhã e à tarde é um bom começo e um mal necessário, mas não é o mesmo que saber tocar (por isso não vale a pena filmarem e baterem palmas);
2. Compreendo agora melhor a relação entre velhice, paciência e surdez. Só isso explica o sorriso que lhes persiste nos lábios depois de dias a fio de escalas...
3. NUNCA serás a Lisa!
Ao fim de quatro dias de férias em que se aproveita este tempo primaveril o melhor que se pode, virar-me para ele e dizer com orgulho:
-Já estou a ganhar uma corzinha!
Ele responder:
-Estás. É vermelho!
E eu não lhe dar um murro. Isto... é amor!
Depois de me terem origado a mim e ao co-irresponsável a ir buscar incontáveis baldinhos de água para por na piscina escavada no areal da praia, a Patapon vira costas, atira-se para o areal e começa a agitar os braços para fazer anjinhos na areia. Diz o Pandinha:
-Então e a piscina?
-Já está boa.
-Não! Temos que alargar e fazer um muro a toda a volta.
-Olha! Faz tu! Eu estou farta.
-Mas a piscina é dos dois. Tens de ajudar.
-Eu? Eu não. Eu quero ser veterinária e não vejo aqui nenhum animal. Mas tu como queres ser construtor, constrói-me aí uma piscina.
Dia maravilhoso de praia (sim estamos de férias), e o puto enterra-se até à cintura. Digo eu na brincadeira:
-Pareces um sereio.
Pergunta o co-irresponsável:
-Não é sereio que se diz, pois não? Como é que se chama a um homem com cauda de peixe?
(silêncio)
-Então... é tritão, não é?
-Ah, sim! -exclamam os putos em uníssono.
-Então e o rei dos tritões e das sereias, quem se lembra? -pergunto eu.
Resposta pronta da patapon:
-Quarentão!
Muita gente me pergunta como se faz férias com gémeos. Da mesma maneira que se faz com um filho ou com dois... não se faz! Ou melhor, faz-se de uma maneira diferente daquela que se fazia quando não se tinha filhos.
Desengane-se quem achar que vai com putos para a praia apanhar sol, ou que vai tirar uns dias para descansar pois por norma quando se regressa de umas férias com putos estamos mais cansados do que quando viemos.
Vale pelo tempo de qualidade que se passa com eles. Vale porque se tem tempo para certas coisas que não se tem no dia a dia. E há estratégias, claro... Estas são as minhas:
1-Planear a Estadia
Acabou-se o pôr duas mudas de roupa na mochila e partir à aventura. Há quem o faça mesmo com um rebanho de filhos atrás, é certo. Mas certamente tem mais energia que eu, mais paciência que eu e menos trabalho que eu. Ou não... ou serei simplesmente eu que não sou capaz.
Seja como for cá em casa as coisas planeiam-se com uns mesinhos de antecedência. O local é cuidadosamente escolhido em função do interesse da zona em si mas também das características do alojamento.
Até cerca dos 2 anos ainda é execuível colocá-los nuns bercinhos no nosso quarto, mas há duas coisas a reter. Primeiro é que nem todos os locais (à excepção dos hóteis de maior dimensão) têm muitos berços ao dispor, e por isso ou a reserva é logo feita com garantia de inclusão dos ditos ou corre-se o risco de ter cancelar à última hora. A outra é que convém levar resguardos. Estejam ou não com o desfralde feito acidentes acontecem e ter de pedir outro colchão para o berço é coisa a evitar.
Eu dou sempre preferência a apartamentos, aparthóteis ou hóteis com quartos comunicantes. Enquanto são pequeninos ter acesso a uma kitchenette é essencial. Não só para os que estão a leite artificial, mas também para se fazer uma papa ou guardar uns iogurtes.
Em Vilamoura por exemplo ficamos sempre no meu T1, reservamos o quarto para os miúdos e ficamos nós na sala. Estamos nós mais à vontade que assim também podemos ficar a ver TV depois deles se deitarem e ficam eles também mais resguardados. E quando forem mais crescidos é uma boa desculpa para controlar entradas e saídas...lol
Já ficámos no Vale de Milhanos, um monte alentejano na zona de Serpa, onde optámos por quartos contíguos com serventia de cozinha, e mais recentemente no Parque Biológico de Vinhais, onde tivemos direito a um bungalow inteirinho. De uma forma ou de outra wc privativo e acesso à cozinha são mais que aconselhados. E dou sempre uma espreitadela às críticas online. Tudo o que tenha nota baixa de higiene elimino.
2-Planear a viagem
Sabendo o destino há que depois ver qual o melhor trajecto. Sendo longe ir pela Auto-Estrada é mais rápido mas também mais monótono e as paragens não ficam baratas. Assim sendo caso seja perto prefiro as estradas nacionais ou vias rápidas. Sendo o trajecto pela auto-estrada inevitável, leva-se um farnel no carro que é mais saudável e mais barato e em vez de ir aos restaurantes da área de serviço assim pode-se parar na zona dos piqueniques e torna-se tudo mais divertido.
Há que não esquecer as actividades para fazer durante a viagem. Para os mais pequenos sou fã das Lousas Mágicas -confesso que tive de ir pesquisar o nome à net pois para mim sempre foram e serão 'aquelas-coisas-para-desenhar-e-apagar'- pois são versáteis e infindáveis. Melhor que levar uma resma de papel atrás e permite uma variedade incrível de jogos. Por exemplo desenhar o que se vai vendo pela estrada, treinar letras e números, ou simplesmente desenhar algo em que se está a pensar e depois o resto da família tenta adivinhar.
Pode-se também aproveitar o tempo para cantar e contar histórias (esta segunda é sempre a mais segura para quem tem voz de grafonola como eu) e olhem que não me refiro apenas a uma relação unilateral pais-filhos. Acreditem que por volta dos 3/4 aninhos já eles conseguem contar histórias -simples, claro... mas nem por isso menos interessantes- que vos irão com certeza surpreender. E assim não só descansam vocês a voz como estimulam a imaginação deles.
Também levamos sempre umas mini-mochilas com brinquedos para o caminho. Na dele invariavelmente terão de estar carros, na dela bonecas. Deixo-os sempre escolher o que levar, mas há que supervisionar a tarefa ou em vez de mini-mochilas passam a ter malas do Sport Billy (para quem não percebeu a piada vá navegar pela net).
E não esquecer de levar água para a viagem e uns quantos snacks (qualquer coisa que não faça muitas migalhas no carro é o principal critério). Em relação à água em todas as viagens confirmo que optar pelas cadeiras Graco Nautilus foi a melhor escolha que poderia ter feito. Não só são robustas e confortáveis como têm uns úteis compartimentos para guardar brinquedos e... um porta-copos onde costumamos encaixar uma garrafa de água para cada um.
3- Fazer as malas
Saber o que levar é sempre complicado, pois quando se tem filhos pequenos não se pode pedir para aguentar o frio que surge de repente em pleno verão ou as famosas chuvas de Agosto e por isso há que ir prevenido e pecar ligeiramente por excesso. E digo ligeiramente ou de repente em vez de ir de carro passam a ter de ir de autocaravana. Mesmo assim, e como já aqui tive oportunidade de referir, ter uma carrinha ajuda muito. Bendita a hora que a Peugeot veio fazer parte da família pois no meu Corsa quase deixávamos de ver os putos no banco de trás, tanta era a tralha que não cabia no porta-bagagens.
Aconselho vivamente a que façam uma lista e que a sigam a rigor. Se possível, ponham o dia anterior de férias (mesmo férias, o que implica que seja sem os putos, ok?) para conseguirem fazer as malas com antecedência, e ao regresso recomendo o mesmo... um dia de férias extra. Deveria ser para descansar mas quem é mãe sabe que é para tratar das toneladas de roupa suja, fazer compras para a casa, e arranjar espaço para as 200.000 pedras e conchas que eles insistiram em trazer de recordação.
Partilho aqui a minha lista, constantemente sujeita a melhoramentos.
Para as criancinhas:
-Roupa de cama: Os resguardos para a cama de que aqui já falei (dois por cada puto para se poder trocar a meio da noite e dar tempo para lavagens) e confirmar se há lençóis, cobertores, etc;
-Roupa: 1 muda de roupa por dia mais uma extra a cada dois dias, para evitar ter de se lavar roupa;
-2 ou 3 pijamas por semana (ter em conta a temperatura do local para onde se vai e a eventualidade de haver um descuido nocturno ou dois por causa da excitação);
-calçado: chinelos que tanto dão para andarem por casa naquelas situações em que o piso é mais frio como para uma ida à piscina ou à praia, um par de ténis e um par de sandálias a cada um;
-chapéus para proteger a moleirinha dos catraios e não terem de passar as férias a baixar-lhes a febre;
-objectos de transição (incluem-se nesta categoria as chuchas e os bonecos para dormir, mas também as fraldas ranhosas que muitos putos insistem em arrastar pelo chão antes de colocar na caminha lavada)
Para todos:
-Kit de primeiros socorros não só com o normal para crescidos (ainda tenho de aqui falar sobre isso mais em pormenor pois já lá vai o tempo da água oxigenada, ao contrário do que muita gente ainda acha), porque acreditem que pelo menos um joelho esfolado há sempre, e um penso rápido daqueles com bonecos toda a gente sabe que tira as dores;
-Kit de praia: chapéu de sol, toalhas, protector solar, baldes e pás e meia dúzia de forminhas; um saco grande para um dos crescidos levar as toalhas e as braçadeiras dos putos e de resto os baldes eles que levem e vão ver como a vossa vida fica muito mais fácil e eles deixam de insistir em levar a casa às costas; não esquecer depois no destino de levar água e qualquer coisita que se coma (pessoalmente sou fã de fruta, uma ou outra bolachinha e porque não uns frutos secos);
-Kit roupa: daqueles simples que se encontram por pouco mais de 1€ à venda em cada esquina mas que são sempre precisos quando as lojas estão já fechadas e que incluem linha, tesoura e meia dúzia de molas e botões para um arranjo de emergência;
-documentos (documentos de identificação e cartões de saúde para uma eventual ida ao médico que seja necessária)
-medicamentos SOS: para nós, aqueles mais básicos como Aspirina ou Ben-U-Ron para aguentarmos aqueles dias em que o céu se parte e cai um toró que nos obriga a ficar fechados em casa com aqueles pequenos anjos que se transformam em diabretes, mas também um Imodium ou um Ultra-Levur vêm muitas vezes a calhar para os disparates alimentares que se fazem nestas alturas; para eles NUNCA esquecer o parzinho maravilha Ben-U-Ron Xarope e Brufen Xarope, mas também as belas das pomadas como o Fenistil e uma pomadinha hidratante;
-toalhetes (mesmo depois do desfralde acreditem que dá sempre jeito quanto mais não seja para limpar mãos e bocas);
-produtos de higiene: para não esquecer nada o segredo é pensarmos naquilo que vamos fazendo ao longo do dia e assim temos champô, gel de banho, desodorizante; escova/ pente cabelo, elásticos e ganchos; escovas dentes, pasta, fio dental e elixir; e.... algo que muita gente esquece: kit unhas com o belo do corta unhas, uma tesourinha pequena e uma lima;
-repelente insectos: se forem para uma zona costeira ou de grande vegetação que vos cheire levemente a que possa ter insectos, e porque em férias de verão a probabilidade de ter de se abrir uma janela ou apetecer dar uma volta mais tardia pelo exterior é grande, é aconselhável levar aparelhos repelentes de insectos. Há os de tomada e há os de lapela. Nós temos um desses de lapela da Chicco, que tanto encaixa no carrinho de passeio ou na mochila, mas confesso que o que uso mais regularmente é o de tomada. Ou coloco no corredor e deixo lá ficar, ou no quarto deles e retiro antes deles se deitarem.
4- Planear actividades
Durante a estadia há que não esquecer que as actividades devem ser diversificadas. Não custa nada levar papel e uns lápis de cor para aqueles momentos em que precisamos estar mais sossegadas a preparar refeições. Caso exista leitor de DVDs também não pesa nada levar um ou dois filmes de desenhos animdos para se ver em família, mesmo porque a TV cabo que existe nos locais de destino nem sempre é igual à que temos em casa e assim sendo aqueles desenhos animados que eles estão habituados a ver poderão não estar disponíveis.
Depois para as actividades ao ao livre, raquetes e bolas vêem sempre a calhar mas do que eu sou mesmo fã é dos papagaios de papel. Quando eu era pequena o meu avô materno ajudava-me sempre a fazer um com canas e jornal. Hoje em dia já conseguem encontrar em muitos hipers e lojas da especialidade a um preço acessível. Na Tiger por exemplo têm papagaios muito originais e em conta.
5- Divirtam-se!
Parece estranho acabar esta forma, mas na realidade (e falo por mim) damos por nós tão stressados a seguir as rotinas das férias (da mesma forma que seguiriamos se estivessemos a trabalhar) que nos esquecemos de nos divertir. Não é obrigatório irmos para a praia, não é imprescindível almoçar ao meio dia em ponto. Férias são para relaxar, curtir estar com os putos sem tempos definidos e rirmo-nos da chuva que não tarda em passar enquanto nos enroscamos em família no sofá. Por isso, independentemente do destino escolhido... aproveitem o tempo de qualidade! Façam aquilo que normalmente não conseguem fazer. Aproveitem para os conhecerem melhor e darem-se a conhecer melhor. Contem histórias da vossa infância ou do tempo em que eles eram bebés. Falem da família, das vossas experiências de vida, de como se ligava um ZX Spectrum 48K ou se saltava ao elástico. De certeza que eles vão gostar e de certeza que isso vos irá aproximar.
E depois... venham cá contar e partilhar sugestões!!
Estivemos a passar uns dias no campo/ praia, em casa de familiares. Por lá não há tantos canais e o tempo passa mais lentamente. E assim acabamos muitas vezes por ver programas menos usuais como o Tour de France.
Esta é uma das zonas mais frequentadas por ciclistas em treinos. Não só amadores como profissionais, daqueles com equipamento completo a evidenciar os patrocínios.
Numa ida à mercearia local (a pé como convém), passa por nós um grupo de ciclistas e exclama entusiasmada a Patapon:
-Olha! O pai costuma ver esta série!
Neste caso gostámos e muito. Garanto-vos que foi no Paraíso que nos sentimos no Parque Biológico de Vinhais.
Tudo começou com a ideia de visitar a terra da avó paterna, perto de Vinhais. Como quem tem crianças desta idade percebe, ficar num hotel é complicado. Não só pelo preço como pela logística pois encontrar quartos contíguos e comunicantes é praticamente impossível, e por isso a pesquisa vai sempre recair sobre apartamentos ou aparthoteis. E foi assim, um pouco por acaso, um pouco com a ajuda do booking.com, que descobri esta pérola.
Pertencente à Câmara Municipal de Vinhais, este complexo em pleno Parque Natural de Montesinho oferece um bom ponto de partida para a exploração das zonas circundantes, mas acreditem que só por si já é motivo suficiente para justificar os mais de 400km que o separam de Lisboa. Tendo como objectivo a conservação da natureza e promoção da biodiversidade através de uma vertente de educação ambiental, acaba por dar certamente um grande contributo ao turismo da região. Para nós foi simplesmente um Oásis.
Para além da zona dos alojamentos em si (à qual já regressarei mais em pormenor), tem também um parque infantil bastante original, um mini-zoo com animais da região e a possibilidade de se fazerem passeios de burro, cavalo ou bicicleta pelos percursos pedestres. Nesse aspecto a recepcionista Paula dá uma grande ajuda em termos de planeamento. Também é com ela que devem falar se quiserem levar umas lembranças do parque (nós optámos por bonés, lápis de cor e cadernos, mas há muito mais e a preços acessíveis).
Todas as actividades extra são pagas à parte, mas devo dizer que, ao contrário de muitos comentários online que vi não me parece demasiado caro. A visita ao zoo é paga uma única vez durante toda a estadia e trata-se mais de um preço simbólico que certamente ajuda na conservação do espaço e dos animais. Desde uma gralha que nos vem dar as boas vindas e nos faz sentirmos especiais (é mentira que mais tarde percebemos que mais desavergonhada que aquela não deve haver já que trata assim toda a gente), até veados, javalis, e as esquivas raposas.
O passeio no burro Granjo custou 3€ e ajudou a que os meus filhos ganhassem coragem para o passeio a cavalo, onde meia hora de volteio custa 6€ e um passeio pelo campo 30€.
Agradecimento especial ao tratador André, que ao vermos o carinho com que cuida daqueles animais e a paciência que tem para os miúdos ninguém adivinharia que ainda recentemente era jardineiro de profissão. Fruto do curso de treinador, é certo, mas sobretudo fruto do valor que lhe é intrínseco, a presença dele ali fez toda a diferença. Foi ele que conduziu as aulas de volteio dos nossos mabecos (as, no plural...porque não lhes bastou uma e mais tempo lá estivessemos mais haveria certamente), no sereníssimo Sarko e que depois nos acompanhou no passeio pelo campo.
Uma nota a reter desse passeio é que quando eu e o co-(ir)responsável procuramos um momento de relax há SEMPRE qualquer coisa de altamente improvável a acontecer. Neste caso, e apesar do mais expectável ser eu cair do Escolinha, o mais alto cavalo que já alguma vez montei (mas verdade seja dita, um dos mais dóceis e por isso seria completamente despropositado o meu receio em montar um cavalo assim, depois de mais de 10 anos sem montar), foi o meu companheiro de viagem que teve direito a ser brindado com uma série de virares de pescoço e alongamentos relâmpago do Cogumelo que lhe valeram uma rédea partida. Mais uma vez o André esteve à altura e tudo foi resolvido com serenidade e muita risota.
O momento foi também capturado pela GoPro HERO4 Silver que eu levava no toque (que jeito que estas novas tecnologias dão), mas por respeito para com o cavaleiro, que também esteve à altura, decidi não partilhar. Brindemos antes ao lado mais positivo da experiência equina, que levou os meus filhos a apaixonarem-se pelo Ervilha (o jeitoso da foto do lado) e deixem-me reforçar que caso a gralha ou o dito cavalinho precisem de babysitters temos dois mabecos desejosos de os esborracharem com mimos. Bem... a eles e a todos os outros animais, que em tanto nos dificultaram a partida.
Quanto ao alojamento, tivesse eu prestado mais atenção e faria a reserva directamente com o Parque e assim pouparia 15€/ noite. Mesmo assim foram 115€/ noite por um luxuoso bungalow T3 (para 6 pessoas) mesmo encostado à piscina biológica, tendo 25% do valor sido dado aquando da reserva, a título de sinal (o que origina alguma estranheza para quem faz reserva pelo booking já que se coloca na mesma os dados do cartão de crédito, mas enfim).
Também podem optar pelo T2 a 65€/noite (para 4 pessoas), o T4 a 135€/ noite (para 8 pessoas) e brevemente um dos T1 que parece uma casinha de Hobbit a 45€/ noite (os designados POD's). Quem vê ao longe não acredita, mas dentro daquelas redondelas minúsculas cabe uma cama de casal, uma sala com kitchenete e um wc.
Sei porque não resisti e fui espreitar. Ainda não estavam acabados à data da nossa estadia, mas garantiram-me que seria para breve. Ressalva feita de que há os bungalows que têm vista de montanha e os que estão coladinhos à piscina. O meu conselho? Os da piscina! Valem o luxo e juro que não há melgas. Eu depois explico porquê... não o farei já para não assustar logo à partida e porque garanto que assusta apenas a ideia, mas adiante...
Pontos bons e a melhorar há sempre, quer do ponto de vista da família de loucos que se aventura desta forma com dois mabecos de 4 anos, e que inevitavelmente acaba por aprender por tentativa e erro, quer do ponto de vista do empreendimento, e da região, e por isso aqui fica o meu testemunho como cliente e viajante (que vale o que vale), mas também a partilha da experiência em si, a título de sugestão para quem, como eu, acha que vale a pena dar uma educação diferente às crianças ou, morrer a tentar...
E por falar em morrer a tentar deixem-me que lhes diga que Junho em Trás-os-Montes é como Agosto em pleno Alentejo. Faz calor-comó-caraças! E porque já estávamos de certa forma à espera que assim fosse, planeámos a viagem para que se iniciasse o mais cedo possível. Habituados a levantarem-se às 7h00 para ir para a escola, e com a excitação da viagem que os fez trocar a festinha de final de ano por esta aventura, foi para os mabecos bastante simples levantarem-se ao raiar da aurora. Eram 8h da manhã e já nos faziamos à estrada. Primeira paragem na estação de Serviço de Aveiras para nos reunirmos com os avós paternos e lá seguimos nós, ainda pela fresquinha.
Porque a época é de viagens, e porque haverá certamente quem este ano fará a primeira com os seus rebentos, com as mesmas dúvidas que eu tinha e com tantas outras que eu ainda tenho, prometo que me dedicarei em breve de uma forma mais aprofundada às viagens de carro com mabecadas, mas para já, e porque a viagem era longa e inevitavelmente teria de falar dela, aqui ficam apenas umas dicas.
Antes de mais planear bem o trajecto. Vejam bem os kms que necessitam percorrer ao todo e dividam-no por etapas em função das horas de refeição e das médias horárias que podem fazer em determinados trajectos, contando com uma pausa ou duas para idas ao WC. Se na auto-estrada podem andar a 120kms/h nas vias rápidas e nas estradas nacionais não é assim. Para além dos limites de velocidade há que ter em conta o estado do piso e o trânsito em locais onde a ultrapassagem não é permitida por kms. Depois é a velha questão de que 'bom comer' e 'estação de serviço' nunca farão parte da mesma frase, a não ser que haja um 'não' ali pelo meio... E por isso snacks comidos no carro (maçãs, nectarinas, bolachas, e muita água) e almoço num restaurante a sério estava decidido desde o início.
Assim, depois da pausa de Aveiras, optámos por seguir pela A1 e sair para o IP3 em Coimbra com direcção a Viseu, onde apanhámos a A24 até Vila Real. Depois passámos para a A4, onde fizemos uma pausa de 15 min na estação de serviço junto a Lamas de Orelhão, entre Murça e Mirandela, onde além das idas ao WC por que tanto ansiávamos depois de 3h de caminho, e a compra desesperada de garrafas de água fresca porque o calor já era avassalador, ainda deu para comprar uns produtos regionais (recomendo os chás e doces).
Paragem em Mirandela para almoçar no restaurante O Pinheiro (escondido numas escadinhas transversais à rua principal), onde uma dose dá para duas pessoas e a simpatia dos donos cativa de tal forma que lá voltámos a parar no regresso. O desvio é pequeno e juro que vale a pena provar a célebre posta Mirandesa ou a vitela grelhada. Para 4 adultos e duas crianças bastaram 3 doses. Os doces sinceramente seria um ponto a melhorar, mas o vinho tinto da região servido fresquinho -oh que mal que isto soa a alguém que como eu tem uma costela alentejana, mas que bem que sabe a alguém que, como eu, enfrentava quase 40ºC- faz-nos esquecer qualquer coisa que possa estar menos bem. Seguimos para a N315 até Rebordelo e a N103 até Vinhais. Dali até ao Parque Biológico são uns meros 2kms e as placas de sinalização ajudam os mais distraídos.
E depois de quase 500kms de estrada feita com um calor abrasador, e depois de quase 8h de viagem, foi este o cenário que nos fez perder a compostura e originar uma correria desatada para a piscina.
O bungalow que nos calhou foi logo o primeiro da esquerda. É bastante espaçoso e tem todas a comodidades de uma qualquer casa ou apartamento (à excepção do forno que confesso, daria bastante jeito para fazer refeições de forma rápida e simples), mas tem um pouco mais que isso.
Tem aquele toque extra que não era de todo necessário mas que calha tão bem. Um 'je ne sais quois'.
Um quadro aqui, uma planta ali. Tudo magistralmente decorado e mobilado estilo catálogo da IKEA. E não, não é apenas em sentido figurado. É mesmo tudo (ou quase tudo) IKEA. E assim se tem um belo exemplo que alguns apontamentos que não serão assim tão caros fazem toda a diferença e conferem o tal factor 'UAU' de que muitas vezes se fala.
Três quartos com 2 camas individuais (neste aspecto poder haver a opção da cama de casal confesso que ajudaria muito já que passámos todas as santas noites a tentarmos navegar ao encontro um do outro) e dois wc's completos, uma kitchenette com acesso directo a uma sala suficientemente ampla para tomarmos as refeições em conjunto, mas com um deck a convidar de forma desavergonhada às refeições exteriores. E nós, de forma completamente desavergonhada cedemos à tentação de tomar os pequenos almoços no tal deck, com os pezinhos quase de molho na piscina biológica.
E assim chegámos à explicação do porquê de não haver melgas a sugarem-nos o tutano, apesar da proximidade à água. Confesso que para mim foi uma estreia, e que quando falaram em piscina biológica contemplei desde logo os nenúfares e coloquei a hipótese de haver uma rã ou um sapo a pulular nas proximidades.
Mas ver cobras de água e patos estava além de qualquer sonho mais extremo. Para nós e para os miúdos fez confusão os primeiros 5 minutos já que assim que chegavamos a um raio de menos de 2/3 metros dos ditos animais eles desapareciam para a zona das plantas, mais encostada às extremidades da piscina. Mas a minha sogra assim que ouviu falar em cobras perdeu a vontade de por o pezinho de molho.
O mais curioso é que no dia seguinte, quando fomos visitar a terra dela, ansiou pela visita ao rio, onde costumava tomar banhos e onde, é claro, não existe qualquer animal...
Aproveitámos também para tentar chegar à zona das antigas Minas da Ervedosa, há muito desactivadas, mas que poderiam, a meu ver, ser ainda um ponto de interesse e de aposta num turismo diferente. Devo confessar que o primeiro pensamento que me veio à mente foi que se estivessemos em Espanha talvez o cenário não fosse este. A beleza das casas antigas da zona e da ponte contrastam com o estado de degradação em que se encontram.
Nenhum dos recantos daquele rio límpido se encontra aproveitado, as estradas estão em mau estado de conservação e as casas tradicionais dão agora lugar a casas de tijolo, sem qualquer alma. Imagino ali um campo aventura com acesso à mina, imagino ali turismo rural de qualidade, com prova de iguarias locais. Consolo-me com o carinho da Maria 'Micha', amiga de infância da mãe da minha sogra, que nos oferece uma sombrinha, um copinho de água fresca e um caloroso sorriso rematado por 'Venha daí um abraço, caralh_!'
É assim esta gente, que não nos deixa partir sem uma caixinha de marmelada caseira e uma garrafinha de jeropiga, mas sobretudo com os olhos lavados de lágrimas pelas saudades das gentes e das terras de outros tempos. Se voltam? Acho que depende de nós... A quem tem poder económico para isso fica a sugestão. Por curiosidade fui ver e uma casa recuperada anda à volta dos 55.000€, uma por recuperar 15.000€. Mas claro que haver por parte da governação outro cuidado pelo nosso património cultural e natural ajudaria...
Curiosamente, na terra das cerejas só as vimos nas árvores ou a cairem desamparadas no chão sem que ninguém lhes tocasse. Peixes de rio também não apareciam em ementa nenhuma. Basicamente a oferta variava entre a Posta Mirandesa e a Alheira de Mirandela. Ambas degustadas com fervor, é certo, e seja feita a devida homenagem à Ana e à Elsa (quem tem filhos da idade dos meus percebe o sorriso que tais nomes em conjugação nos provocam, quem não tem vá já ver o Frozen), duas das colaboradoras do Parque Biológico de Vinhais que nos confeccionaram uma refeição digna de ser servida num dos melhores restaurantes da zona (pena o Parque não ter um serviço de refeições mais regular), mas como não fizemos apenas uma refeição qualquer variante a tal menu seria bem apreciada.
Valeu-nos a recomendação para uma visita ao Restaurante 'Vasco da Gama', na rua principal da Vila, pois a experiência do dia anterior no Restaurante Comercial (que dista do primeiro por apenas alguns metros) tinha sido para esquecer (desde um cheiro horrível a fritos, loiças, toalhas de mesa e instalações pouco cuidadas para não dizer sujas... upsss... já disse!, até comida mal confeccionada). Uma vergonha para um Restaurante de localização tão central, em frente à Câmara Municipal, que aparece em tantas sugestões.
Mas demos então o merecido ênfase aos que se destacam pela positiva. À entrada do Restaurante Vasco da Gama fomos logo calorosamente recebidos pelo Sr. Vasco. Assim que me falaram dele pensei tratar-se de homem culto e de humor refinado para aproveitar o facto de se chamar Vasco para dar tal nome ao Restaurante. À saída, quando me deram o cartão de visita para facilitar a próxima reserva (sim, tencionamos lá voltar tantas vezes quanto possível for, ou mais ainda) percebi a minha ingenuidade já que mais do que Vasco lá constava 'Vasco da Gama' no nome do proprietário.
Navegando certeiro pelo mar dos grelhados o tal senhor Vasco da Gama, serviu-nos umas costeletas de cabrito magistrais. Mas a estrela terá sido a D. Zélia com o seu incomparável arroz de cogumelos. E para sobremesa?
-Se soubesse mais cedo que vinham teria preparado alguma coisa especial. Só tenho um queijinho fresco de cabra com doce de cereja caseiro.
E foi assim que ficámos perdidos por ali, e foi assim que vim para casa com um frasco de doce, que 'Não se vende por dinheiro algum' mas que se dá aos amigos de bom grado. E foi sobretudo assim que deixei parte do meu coração em Vinhais.
Ervilha... nós voltamos!! Quanto mais não seja em pleno Inverno para ver o Parque Biológico coberto de neve e tentar compreender até que ponto darão serventia à lareira existente numa das muitas castiças paragens de autocarro da zona... Nós voltamos!!
Quem tem filhos sabe de que falo! Se há dias na vida em que a Lei de Murphy se aplica, quando envolve crianças o efeito é exponenciado, e quando tentamos ir de férias com eles então... bem... é inexplicável!!
Mas para quem não percebeu ainda, vou tentar dar umas luzes. Num dia normal é certo que o pão cai sempre com a manteiga para baixo, e que quando temos pressa todos os semáforos são vermelhos. Mas nestes casos não envolve necessariamente uma criancinha a rebentar-nos os tímpanos. Agora imaginem estes mesmos cenários ou outros quaisquer em que os acontecimentos de bosta se sucedem e que temos não uma mas, no meu caso, até duas criancinhas histéricas a tentar ajudar.
Querem pior? E tudo isto numa casa que não é a nossa e a kms de casa? Ainda não estão convencidos? Vou tentar então ser mais explícita, e quem já tem mabecos por favor pronunciem-se se não é assim para que os outros não achem que é exagero. Ora aqui ficam algumas das Leis de Murphy Infantis mais observadas cá em casa sempre que tentamos ir para algum lado com eles.
E claro que com tudo isto contem em voltar mais cansados do que aquilo que foram, e pensem sériamente antes da próxima viagem se não seria melhor deixarem-nos com alguém e fugirem vocês.
Querem saber que mais?? Foi mesmo isso que tentámos fazer logo de seguida...