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(Des)Gostámos: Perdidos no Paraíso

por twin_mummy, em 23.07.15

Neste caso gostámos e muito. Garanto-vos que foi no Paraíso que nos sentimos no Parque Biológico de Vinhais.

 

Tudo começou com a ideia de visitar a terra da avó paterna, perto de Vinhais. Como quem tem crianças desta idade percebe, ficar num hotel é complicado. Não só pelo preço como pela logística pois encontrar quartos contíguos e comunicantes é praticamente impossível, e por isso a pesquisa vai sempre recair sobre apartamentos ou aparthoteis. E foi assim, um pouco por acaso, um pouco com a ajuda do booking.com, que descobri esta pérola.

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Pertencente à Câmara Municipal de Vinhais, este complexo em pleno Parque Natural de Montesinho oferece um bom ponto de partida para a exploração das zonas circundantes, mas acreditem que só por si já é motivo suficiente para justificar os mais de 400km que o separam de Lisboa. Tendo como objectivo a conservação da natureza e promoção da biodiversidade através de uma vertente de educação ambiental, acaba por dar certamente um grande contributo ao turismo da região. Para nós foi simplesmente um Oásis.

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Para além da zona dos alojamentos em si (à qual já regressarei mais em pormenor), tem também um parque infantil bastante original, um mini-zoo com animais da região e a possibilidade de se fazerem passeios de burro, cavalo ou bicicleta pelos percursos pedestres. Nesse aspecto a recepcionista Paula dá uma grande ajuda em termos de planeamento. Também é com ela que devem falar se quiserem levar umas lembranças do parque (nós optámos por bonés, lápis de cor e cadernos, mas há muito mais e a preços acessíveis).

 

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Todas as actividades extra são pagas à parte, mas devo dizer que, ao contrário de muitos comentários online que vi não me parece demasiado caro. A visita ao zoo é paga uma única vez durante toda a estadia e trata-se mais de um preço simbólico que certamente ajuda na conservação do espaço e dos animais. Desde uma gralha que nos vem dar as boas vindas e nos faz sentirmos especiais (é mentira que mais tarde percebemos que mais desavergonhada que aquela não deve haver já que trata assim toda a gente), até veados, javalis, e as esquivas raposas.

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O passeio no burro Granjo custou 3€ e ajudou a que os meus filhos ganhassem coragem para o passeio a cavalo, onde meia hora de volteio custa 6€ e um passeio pelo campo 30€.

 

Agradecimento especial ao tratador André, que ao vermos o carinho com que cuida daqueles animais e a paciência que tem para os miúdos ninguém adivinharia que ainda recentemente era jardineiro de profissão. Fruto do curso de treinador, é certo, mas sobretudo fruto do valor que lhe é intrínseco, a presença dele ali fez toda a diferença. Foi ele que conduziu as aulas de volteio dos nossos mabecos (as, no plural...porque não lhes bastou uma e mais tempo lá estivessemos mais haveria certamente), no sereníssimo Sarko e que depois nos acompanhou no passeio pelo campo.

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Uma nota a reter desse passeio é que quando eu e o co-(ir)responsável procuramos um momento de relax há SEMPRE qualquer coisa de altamente improvável a acontecer. Neste caso, e apesar do mais expectável ser eu cair do Escolinha, o mais alto cavalo que já alguma vez montei (mas verdade seja dita, um dos mais dóceis e por isso seria completamente despropositado o meu receio em montar um cavalo assim, depois de mais de 10 anos sem montar), foi o meu companheiro de viagem que teve direito a ser brindado com uma série de virares de pescoço e alongamentos relâmpago do Cogumelo que lhe valeram uma rédea partida. Mais uma vez o André esteve à altura e tudo foi resolvido com serenidade e muita risota.

 

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O momento foi também capturado pela GoPro HERO4 Silver que eu levava no toque (que jeito que estas novas tecnologias dão), mas por respeito para com o cavaleiro, que também esteve à altura, decidi não partilhar. Brindemos antes ao lado mais positivo da experiência equina, que levou os meus filhos a apaixonarem-se pelo Ervilha (o jeitoso da foto do lado) e deixem-me reforçar que caso a gralha ou o dito cavalinho precisem de babysitters temos dois mabecos desejosos de os esborracharem com mimos. Bem... a eles e a todos os outros animais, que em tanto nos dificultaram a partida.

 

Quanto ao alojamento, tivesse eu prestado mais atenção e faria a reserva directamente com o Parque e assim pouparia 15€/ noite. Mesmo assim foram 115€/ noite por um luxuoso bungalow T3 (para 6 pessoas) mesmo encostado à piscina biológica, tendo 25% do valor sido dado aquando da reserva, a título de sinal (o que origina alguma estranheza para quem faz reserva pelo booking já que se coloca na mesma os dados do cartão de crédito, mas enfim). 

 

Também podem optar pelo T2 a 65€/noite (para 4 pessoas), o T4 a 135€/ noite (para 8 pessoas) e brevemente um dos T1 que parece uma casinha de Hobbit a 45€/ noite (os designados POD's). Quem vê ao longe não acredita, mas dentro daquelas redondelas minúsculas cabe uma cama de casal, uma sala com kitchenete e um wc.

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Sei porque não resisti e fui espreitar. Ainda não estavam acabados à data da nossa estadia, mas garantiram-me que seria para breve. Ressalva feita de que há os bungalows que têm vista de montanha e os que estão coladinhos à piscina. O meu conselho? Os da piscina! Valem o luxo e juro que não há melgas. Eu depois explico porquê... não o farei já para não assustar logo à partida e porque garanto que assusta apenas a ideia, mas adiante...

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Pontos bons e a melhorar há sempre, quer do ponto de vista da família de loucos que se aventura desta forma com dois mabecos de 4 anos, e que inevitavelmente acaba por aprender por tentativa e erro, quer do ponto de vista do empreendimento, e da região, e por isso aqui fica o meu testemunho como cliente e viajante (que vale o que vale), mas também a partilha da experiência em si, a título de sugestão para quem, como eu, acha que vale a pena dar uma educação diferente às crianças ou, morrer a tentar... 

 

E por falar em morrer a tentar deixem-me que lhes diga que Junho em Trás-os-Montes é como Agosto em pleno Alentejo. Faz calor-comó-caraças! E porque já estávamos de certa forma à espera que assim fosse, planeámos a viagem para que se iniciasse o mais cedo possível. Habituados a levantarem-se às 7h00 para ir para a escola, e com a excitação da viagem que os fez trocar a festinha de final de ano por esta aventura, foi para os mabecos bastante simples levantarem-se ao raiar da aurora. Eram 8h da manhã e já nos faziamos à estrada. Primeira paragem na estação de Serviço de Aveiras para nos reunirmos com os avós paternos e lá seguimos nós, ainda pela fresquinha.

 

Porque a época é de viagens, e porque haverá certamente quem este ano fará a primeira com os seus rebentos, com as mesmas dúvidas que eu tinha e com tantas outras que eu ainda tenho, prometo que me dedicarei em breve de uma forma mais aprofundada às viagens de carro com mabecadas, mas para já, e porque a viagem era longa e inevitavelmente teria de falar dela, aqui ficam apenas umas dicas.

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Antes de mais planear bem o trajecto. Vejam bem os kms que necessitam percorrer ao todo e dividam-no por etapas em função das horas de refeição e das médias horárias que podem fazer em determinados trajectos, contando com uma pausa ou duas para idas ao WC. Se na auto-estrada podem andar a 120kms/h nas vias rápidas e nas estradas nacionais não é assim. Para além dos limites de velocidade  há que ter em conta o estado do piso e o trânsito em locais onde a ultrapassagem não é permitida por kms. Depois é a velha questão de que 'bom comer' e 'estação de serviço' nunca farão parte da mesma frase, a não ser que haja um 'não' ali pelo meio... E por isso snacks comidos no carro (maçãs, nectarinas, bolachas, e muita água) e almoço num restaurante a sério estava decidido desde o início.

 

Assim, depois da pausa de Aveiras, optámos por seguir pela A1 e sair para o IP3 em Coimbra com direcção a Viseu, onde apanhámos a A24 até Vila Real. Depois passámos para a A4, onde fizemos uma pausa de 15 min na estação de serviço junto a Lamas de Orelhão, entre Murça e Mirandela, onde além das idas ao WC por que tanto ansiávamos depois de 3h de caminho, e a compra desesperada de garrafas de água fresca porque o calor já era avassalador, ainda deu para comprar uns produtos regionais (recomendo os chás e doces).

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Paragem em Mirandela para almoçar no restaurante O Pinheiro (escondido numas escadinhas transversais à rua principal), onde uma dose dá para duas pessoas e a simpatia dos donos cativa de tal forma que lá voltámos a parar no regresso. O desvio é pequeno e juro que vale a pena provar a célebre posta Mirandesa ou a vitela grelhada. Para 4 adultos e duas crianças bastaram 3 doses. Os doces sinceramente seria um ponto a melhorar, mas o vinho tinto da região servido fresquinho -oh que mal que isto soa a alguém que como eu tem uma costela alentejana, mas que bem que sabe a alguém que, como eu, enfrentava quase 40ºC- faz-nos esquecer qualquer coisa que possa estar menos bem. Seguimos para a N315 até Rebordelo e a N103 até Vinhais. Dali até ao Parque Biológico são uns meros 2kms e as placas de sinalização ajudam os mais distraídos.

 

E depois de quase 500kms de estrada feita com um calor abrasador, e depois de quase 8h de viagem, foi este o cenário que nos fez perder a compostura e originar uma correria desatada para a piscina.

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O bungalow que nos calhou foi logo o primeiro da esquerda. É bastante espaçoso e tem todas a comodidades de uma qualquer casa ou apartamento (à excepção do forno que confesso, daria bastante jeito para fazer refeições de forma rápida e simples), mas tem um pouco mais que isso.

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Tem aquele toque extra que não era de todo necessário mas que calha tão bem. Um 'je ne sais quois'.

 

Um quadro aqui, uma planta ali. Tudo magistralmente decorado e mobilado estilo catálogo da IKEA. E não, não é apenas em sentido figurado. É mesmo tudo (ou quase tudo) IKEA. E assim se tem um belo exemplo que alguns apontamentos que não serão assim tão caros fazem toda a diferença e conferem o tal factor 'UAU' de que muitas vezes se fala.

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Três quartos com 2 camas individuais (neste aspecto poder haver a opção da cama de casal confesso que ajudaria muito já que passámos todas as santas noites a tentarmos navegar ao encontro um do outro) e dois wc's completos, uma kitchenette com acesso directo a uma sala suficientemente ampla para tomarmos as refeições em conjunto, mas com um deck a convidar de forma desavergonhada às refeições exteriores. E nós, de forma completamente desavergonhada cedemos à tentação de tomar os pequenos almoços no tal deck, com os pezinhos quase de molho na piscina biológica.

 

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E assim chegámos à explicação do porquê de não haver melgas a sugarem-nos o tutano, apesar da proximidade à água. Confesso que para mim foi uma estreia, e que quando falaram em piscina biológica contemplei desde logo os nenúfares e coloquei a hipótese de haver uma rã ou um sapo a pulular nas proximidades.

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Mas ver cobras de água e patos estava além de qualquer sonho mais extremo. Para nós e para os miúdos fez confusão os primeiros 5 minutos já que assim que chegavamos a um raio de menos de 2/3 metros dos ditos animais eles desapareciam para a zona das plantas, mais encostada às extremidades da piscina. Mas a minha sogra assim que ouviu falar em cobras perdeu a vontade de por o pezinho de molho.

 

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O mais curioso é que no dia seguinte, quando fomos visitar a terra dela, ansiou pela visita ao rio, onde costumava tomar banhos e onde, é claro, não existe qualquer animal...

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Aproveitámos também para tentar chegar à zona das antigas Minas da Ervedosa, há muito desactivadas, mas que poderiam, a meu ver, ser ainda um ponto de interesse e de aposta num turismo diferente. Devo confessar que o primeiro pensamento que me veio à mente foi que se estivessemos em Espanha talvez o cenário não fosse este. A beleza das casas antigas da zona e da ponte contrastam com o estado de degradação em que se encontram.

 

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Nenhum dos recantos daquele rio límpido se encontra aproveitado, as estradas estão em mau estado de conservação e as casas tradicionais dão agora lugar a casas de tijolo, sem qualquer alma. Imagino ali um campo aventura com acesso à mina, imagino ali turismo rural de qualidade, com prova de iguarias locais. Consolo-me com o carinho da Maria 'Micha', amiga de infância da mãe da minha sogra, que nos oferece uma sombrinha, um copinho de água fresca e um caloroso sorriso rematado por 'Venha daí um abraço, caralh_!'

 

É assim esta gente, que não nos deixa partir sem uma caixinha de marmelada caseira e uma garrafinha de jeropiga, mas sobretudo com os olhos lavados de lágrimas pelas saudades das gentes e das terras de outros tempos. Se voltam? Acho que depende de nós... A quem tem poder económico para isso fica a sugestão. Por curiosidade fui ver e uma casa recuperada anda à volta dos 55.000€, uma por recuperar 15.000€. Mas claro que haver por parte da governação outro cuidado pelo nosso património cultural e natural ajudaria... 

 

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Curiosamente, na terra das cerejas só as vimos nas árvores ou a cairem desamparadas no chão sem que ninguém lhes tocasse. Peixes de rio também não apareciam em ementa nenhuma. Basicamente a oferta variava entre a Posta Mirandesa e a Alheira de Mirandela. Ambas degustadas com fervor, é certo, e seja feita a devida homenagem à Ana e à Elsa (quem tem filhos da idade dos meus percebe o sorriso que tais nomes em conjugação nos provocam, quem não tem vá já ver o Frozen), duas das colaboradoras do Parque Biológico de Vinhais que nos confeccionaram uma refeição digna de ser servida num dos melhores restaurantes da zona (pena o Parque não ter um serviço de refeições mais regular), mas como não fizemos apenas uma refeição qualquer variante a tal menu seria bem apreciada.

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Valeu-nos a recomendação para uma visita ao Restaurante 'Vasco da Gama', na rua principal da Vila, pois a experiência do dia anterior no Restaurante Comercial (que dista do primeiro por apenas alguns metros) tinha sido para esquecer (desde um cheiro horrível a fritos, loiças, toalhas de mesa e instalações pouco cuidadas para não dizer sujas... upsss... já disse!, até comida mal confeccionada). Uma vergonha para um Restaurante de localização tão central, em frente à Câmara Municipal, que aparece em tantas sugestões.

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Mas demos então o merecido ênfase aos que se destacam pela positiva. À entrada do Restaurante Vasco da Gama fomos logo calorosamente recebidos pelo Sr. Vasco. Assim que me falaram dele pensei tratar-se de homem culto e de humor refinado para aproveitar o facto de se chamar Vasco para dar tal nome ao Restaurante. À saída, quando me deram o cartão de visita para facilitar a próxima reserva (sim, tencionamos lá voltar tantas vezes quanto possível for, ou mais ainda) percebi a minha ingenuidade já que mais do que Vasco lá constava 'Vasco da Gama' no nome do proprietário.

 

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Navegando certeiro pelo mar dos grelhados o tal senhor Vasco da Gama, serviu-nos umas costeletas de cabrito magistrais. Mas a estrela terá sido a D. Zélia com o seu incomparável arroz de cogumelos. E para sobremesa? 

-Se soubesse mais cedo que vinham teria preparado alguma coisa especial. Só tenho um queijinho fresco de cabra com doce de cereja caseiro.

 

E foi assim que ficámos perdidos por ali, e foi assim que vim para casa com um frasco de doce, que 'Não se vende por dinheiro algum' mas que se dá aos amigos de bom grado. E foi sobretudo assim que deixei parte do meu coração em Vinhais.

 

Ervilha... nós voltamos!! Quanto mais não seja em pleno Inverno para ver o Parque Biológico coberto de neve e tentar compreender até que ponto darão serventia à lareira existente numa das muitas castiças paragens de autocarro da zona... Nós voltamos!!

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As imagens utilizadas neste blog são na sua maioria de autoria própria ou de amigos e familiares, com o devido consentimento. A autoria daquelas que são retiradas da internet será indicada sempre que seja possível fazê-lo de forma inequívoca, mas mesmo assim poderão ser removidas caso o autor o entenda, bastando para tal contactar-me para o e-mail aqui indicado.


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