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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Depois de levar o co-irresponsável ao aeroporto a mabeca começa em prantos. Desde que entrámos no carro até termos chegado ao supermercado onde prometi irmos comprar gelados para o lanche, parecia um afluente do Tejo.
Já no supermercado começa a birra porque queria um brinquedo, porque queria cajus com picante (WHAT??), porque não queria que eu comprasse alheiras. Porque apenas os deixei escolherem duas caixas de bolachas quando queriam várias dado trazerem desenhos diferentes. Porque queriam trazer livros mas escolhiam e depois mudavam de ideias ao fim de 30 segundos (comigo já na fila para a caixa). Porque o irmão lhe passou à frente, porque o irmão tentou empurrar o carrinho das compras. Porque eu tentei empurrar o carrinho das compras...
Em tom de desespero digo que caso se acalmem eu pago-lhes um bolo e um sumo. Chegamos a acordo e eles atiram-se a duas bolas de berlim e dois néctares de pêra como se não houvesse amanhã. A meia hora seguinte -até chegarmos a casa- foi o céu, a hora e meia depois disso o inferno. Porque afinal eu sou má, porque nunca dou nada, porque não os deixo fazer nada e... porque o pai não está.
Sessão de abracinhos e os ânimos acalmam. Dirijo-me à cozinha para fazer o almoço e interrompem-me umas 5 vezes. Coisas inadiáveis, claro...
Nova birra quando peço para se acalmarem um pouco e deixarem-me fazer o almoço. Mando-a sair da cozinha e ela fica no corredor, mesmo junto à porta, a gritar o mais alto que pode. Ignoro-a. Cala-se e vem pedir se pode jogar Playstation. Respiro profundamente... uma, duas, três vezes. Respondo no tom mais calmo e grave que consigo:
-O que tu podes fazer depende da forma como te portares. A portares-te assim podes antes ir para o quarto.
Novo afluente do Tejo a fazer cascata direito ao queixo, e aquele arzinho de pespineta a bater com o pé:
-Não vou!!! Não vou para o quartooooooooooo!!! Eu porto-me beeeeeeeeeeemmmmmmmmm...
Dez minutos depois e eu lá consigo acabar o almoço. Almoçam bem e sem prantos. Pedem para comer o gelado de sobremesa e eu cedo a ver se ambiente arrefece. Mini-bola de baunilha, mini-bola de morango, um pouco de chantily e um pouco de canela. Umas taças lindas de se ver e o Pandinha sai-se com a ideia de misturar tudo. Em menos de 2 segundos deixa de se distinguir o gelado do chantily. Sorvem a papa de gelado pelo canudo de bolacha e eu tento ignorar a ver se sobrevivo as restantes horas que me faltam até o dia terminar. Penso para mim... isto não é grave, sê a mãe do Ruca! Sê a mãe do Ruca!
Peço aos putos para me deixarem descansar um pouco a seguir ao almoço. Sento-me no sofá com um cafezinho e respiro fundo. Quase de imediato vejo-o a passar no corredor a falar com ele próprio:
-Xiuuuuuu! A mãe disse que precisa descansar...
Peço para irem brincar para o quarto. Decidem brincar aos pais e aos filhos. Ela é a mãe, ele o filho que faz uma birra que se ouve... na sala! Explico mais uma vez o que significa deixarem-me descansar. Peço 10 minutos que seja e eles resolvem vir para junto de mim. Deixo-os ficar na condição de me deixarem estar a descansar. Ele estica-se no sofá. Ao fim de 3 pontapés desisto e vou para o meu quarto.
Ele choraminga para eu não ir. Diz que se vai portar bem. Peço por favor para me darem apenas 10 minutos. Ambos prometem que sim. Menos de 5 minutos depois grita ela.
-Mãeeeee! O mano deu-me uma chapada!
Estão os dois agora de pena de castigo suspensa. Dependendo de como se portarem na próxima meia hora... ou vamos dar uma volta ou vão para o quarto. E eu estou a pensar se tomo uma Aspirina ou duas...
Já há muito que não ia aos CTT. Hoje tive de lá ir levantar uma carta registada. E não fosse por esse imperativo motivo teria voltado as costas para não mais voltar.
Tiro a senha 20 e há 12 pessoas à minha frente. Quinze minutos depois e o cenário era o mesmo. E porquê? Porque havia um único balcão a atender quem lá ia tratar de assuntos 'típicos' dos CTT. Os outros eram para abertura de conta ou para levantamentos/ depósitos de quem já lá tinha conta. Por momentos pareceu-me um Banco onde se poderia comprar selos, mas devo estar enganada...
Tentando resistir à solução fácil de pegar no telemóvel olho em redor. Envelopes e caixas de correio azul/ verde convivem lado a lado com uma autêntica biblioteca. E no meio de livros sérios para graúdos encontro esta pérola para crianças.
Da colecção 'Pequenos Heróis' o excepcional 'Eu almoço na cantina!' Só quem não comeu numa cantina escolar é que não percebe o herói que se tem de ser...
E assim me vou entretendo até chegar a minha vez, recordando aqueles momentos em que lá ia comprar selos para colocar numa carta 'Espero que estejas bem...' enquanto um e outro ia solicitando acesso à cabine telefónica. Velhos tempos.
Já de saída reparo na bela obra de arte premeditada de um qualquer artista tuga mais arisco.
E dou comigo a pensar... Portugal... espero que estejas bem...
Terminada a saga da varicela, começo eu a respirar de alívio e a pensar nas noites bem dormidas, sem ter que acordar durante a noite para dar medicação, recolocar luvas ou besuntar putos com pomada, por entre gemidos. E nisto recomeça a saga já que o Pandinha, dado estar com as defesas em baixo, apanhou uma infecção no tracto respiratório superior. Expressão pomposa para explicar que, no fundo, deita ranho que até mete dó.
Por isso só regressará à escola hoje. Por isso, e porque eu e o co-irresponsável já tinhamos esgotado as baixas (o gajo também ficou doente entretanto mas diz que já está melhorzito) e as férias, veio para cá o avô paterno tomar conta do catraio. O Avô paterno que nem sequer avô é, que infelizmente nunca chegou a ser pai, mas que os ama da forma como o avô verdadeiro (que nem sequer teve interesse em conhecer os netos) deveria. Ou ainda mais... Enfim... outras histórias que não vêm ao caso.
Isto para dizer que quando se junta um puto de 4 anos e um bastante mais experiente -e que por isso já deveria ter juizo- acontece o caos. Pelo menos foi isto que o Pandinha explicou quando eu e o pai o questionámos pelo estado em que estava a casa ao final do dia. Bola de futebol no corredor, livros pela sala, brinquedos espalhados pelo quarto, outros tantos metidos de qualquer forma nas prateleiras:
-Foi o avô! Ele é que desarrumou tudo. Eu estava sossegado e ele foi buscar os brinquedos.
-O avô???? -questionava o pai.
-Sim! E depois foi embora e deixou tudo desarrumado!
-Ai o malandro! -alinha o co-irresponsável - Vou já ligar à avó e dizer para o por de castigo.
-Vais ligar? -pergunta o Pandinha meio a medo.
-Pois! Se foi o avô que fez isto vou ralhar com ele e pô-lo de castigo.
-Hmmm.... se calhar eu também desarrumei um bocadinho....
Não poderia deixar passar em claro os já 70 anos de 'O Principezinho'. Certamente que já todos ouviram falar, mas infelizmente nem todos leram e por isso fica aqui o desafio para 2014: ler ou reler aquela que é a obra mais traduzida do século XX.
Apesar de ser considerado um livro infantil, foi já na minha adolescência que tomei contacto com ele. E marcou-me.
Numa versão mais simplicista fala de um príncipe que vive num pequeno asteróide, e que nas suas viagens interplanetárias calha de se encontrar com um piloto caído no deserto do Saara, e aproveita para contar a sua história.
Se o lermos de uma forma mais atenta e aprofundada, coloca-nos perante os inúmeros dilemas da vida, como o isolamento, a monotonia, o ter de se cuidar de algo frágil como uma rosa, e que nem sempre retribui da melhor forma. Fala da importância da disciplina, de não descuidarmos de cuidar de quem gostamos, e de apreciarmos cada pequena coisa, como um simples por do sol. Sobre os laços que se criam e a dificuldade que temos em dizer adeus a quem se gosta, que no fundo se traduz num certo egoísmo e egocentrismo que é preciso combater, quanto mais não seja por respeito a tudo aquilo de bom que essa pessoa trouxe à nossa vida.
Numa versão mais alternativa será apenas um E.T. deprimido e chato, que em vez de ligar para o 112 e pedir auxílio para o piloto caído, decide melgá-lo com uma história interminável enquanto exige desenhos.
Eu tenho dias que simplesmente nem tenho coragem para o ler e outros em que o leio e releio, tentando não me esquecer daqueles valores básicos da vida, e que fazem com que no fundo ela faça sentido, apesar de todas as adversidades. Em jeito de conclusão, e porque nada do que eu escrevesse aqui poderia sequer aproximar-se daquilo que foi escrito por Saint-Exupéry, ficam algumas frases chave, daquele que é o meu capítulo preferido, e que fala do encontro entre o Principezinho e uma 'simples' raposa astuta.
Dizia a raposa: 'Por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo.' (...) 'Tenho uma vida terrivelmente monótona.' (...) 'Mas, se tu me cativares, a minha vida fica cheia de Sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música.' (...) 'Só conhecemos as coisas que cativamos.' (...) 'É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...'
Por isso, para evitar mal-entendidos por aqui me fico por hoje... votos de um dia cheio de Sol a todos os que me cativaram!!
Cenário de final de tarde, a Patapon sossegada a brincar na sala e o Pandinha desaparece na direcção do quarto. Minutos depois ainda nada, e decido ir lá ver o que ele estaria a fazer tão sorrateiramente. E deparo com esta paisagem...
O Pandinha tem um gosto particular por livros. E uso o plural mais plural que houver porque o miúdo é incapaz de pegar num singelo exemplar. Cada vez que vão dormir o cenário é o mesmo... demora horas a fio para escolher 2 livros para levar para a cama. Tempos houve que levava mais que isso, mas tenho conseguido refreá-lo por causa de uma noite em que acordou aos berros por levar com o maço de livros de eleição na carola.
Já a Patapon chega à prateleira, estica o bracinho e pega num único livro que depois se apressa em ler em voz alta para o mano também ouvir, e nisto deita-se para o lado e diz:
-Mamã já está! Tapa-me que tenho soninho!
Uma delícia esta minha filha, e por isso a quem ainda acha que a gajas demoram horas a fazer seja o que for ou a escolher seja o que for tenham tino, pá!
Mas adiante... este interlúdio era para explicar este nosso ritual antes de adormecer, e que a meu ver é uma excelente forma de os preparar para a caminha como uma sequência normal de acontecimentos que leva a um adormecer mais ou menos sereno (sim, por vezes há birras mas em 99% dos dias resulta na perfeição).
Acontece que há dias e dias em relação ao adormecer propriamente dito (como já referi) e dias e dias em relação à escolha dos livros. E ontem foi um desses dias em que o pandinha não se decidia.
Ora já por aqui referi que a casa é pequena e que os putos não foram planeados, certo? Por isso no ano anterior a eu ter ficado grávida, e completamente ignorantes daquilo que o destino tinha reservado para nós, estivemos a transformar o quarto de hóspedes em escritório/quarto. Um sofá cama muito prático da IKEA (IKEA PS em azul escuro a imitar ganga) permitia fazer uma caminha confortável em segundos, e por isso continuava com a valência do quarto, mas as estantes apinhadas de livros (tanto eu como o co-irresponsável adoramos ler) e a ampla secretária Galant (também da IKEA e juro que não ando a receber royalties) tornava-o num escritório mais luxuoso do que eu alguma vez tive.
Assim que soube que estava grávida ainda considerei a possibilidade de conseguir conciliar o quarto do bebé com o escritório e manter aquela secretária porque, de qualquer forma, ele viria a precisar. (Tretas! mas calha bem justificar assim, certo?) Acontece que os planos cairam completamente por água quando soube que em vez de um vinham lá dois bebés. Como não tinha onde colocar tanto livro as estantes ficaram mas tive que dizer adeus à secretária para colocar as caminhas dos gémeos.
Não me parece que me tenha saído mal com a requalificação do escritório, mas também não serei própriamente daquelas mamãs cor-de-rosa. Passo a explicar... mamãs que fazem cortininhas e edredons a condizer com as saias dos cestinhos de verga onde colocam os produtos de higiene alinhados por tamanhos, que escolhem o berço de verga com dossel a combinar com o restante cenário e pintam as paredes de rosa com aplicações de stencil florido. Aqui não há nada disso! Há cortinas na mesma e edredons mas tudo de compra, e não há cestos de verga pois embora adore os cestos em si acabam por não ser tão práticos e só criam é mais pó e ocupam mais espaço. Nada contra quem pensa de outra forma e reconheço que sou um pouco gajo nestas coisas, mas os putos gostam do quarto com BD na parede e livros nas estantes e pronto!
E gostam tanto, tanto, que de vez em quando lá vão surripiando umas coisias dos pais. Nunca sem antes pedir autorização que nisso (na educação) gastamos muito tempo e suor, mas acaba por compensar no que nos facilita a vida. Adiante...
Pois ontem depois de ter jogado as mãos às edições especiais de BD da Maxmen do co-irresponsável, e olhado para mim com olhar inquiridor lá o Pandinha abandonou o alvo perante o meu olhar sério de reprovação.
-Não 'podo' mamã?
-Essas é melhor não, querido. São do papá e não são para estragar... Escolhe um livro!
Quando dou por isso estava a apontar para a coleção 'Sin City', do Frank Miller:
-'Podo?'
-Esses não, querido! Escolhe um com bonecos!
Nisto viro as costas para ir tratar da Patapon e sou acordada dos meus pensamentos por um sonoro:
-Este, mamã!
E deparo com o puto de sorriso rasgado a segurar o meu exemplar autografado do 'Fadas Láureas' do Luis Louro. Chamem-lhe parvo...