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A normalidade e a felicidade

por twin_mummy, em 12.10.16

meusproblemas2016.jpe

 

"A felicidade, em Portugal, é considerada uma espécie de loucura. Porquê? Porque os Portugueses, quando vêem uma pessoa feliz, julgam que ela está a gozar com eles. Mais precisamente: com a miséria deles. Não lhes passa pela cabeça que se possa ser feliz sem ser à custa de alguém.", Miguel Esteves Cardoso, Os Meus Problemas (aqui na versão reeditada de 2016).

 

Ora aí está uma grande verdade! Confesso que é dos meus autores preferidos e talvez por isso comece desta forma mais um post, mas por muito que tentasse eu não diria melhor. Ser feliz em Portugal, sobretudo nos tempos que hoje correm não é normal. Não termos queixas constantes dos miúdos, da vida, do trabalho, não é normal.

 

E é tanto mais assim quando se tem putos, e é tanto mais assim quando se tem putos pequenos.

 

gemeos.jpg

 

Se de início achava natural que me perguntassem como estavam os bebés, se comiam bem, se faziam cocó (esta reconheço que ainda acho um pouco estranho), e se dormiam a noite toda, ao fim de vários meses de não me queixar em demasia (porque enfim... para mim acordar de 3 em 3h durante aqueles primeiros meses era o preço normal a pagar pela prematuridade, e as cólicas e prisão de ventre parece que fazem parte daquele período inicial de adaptação, e não beberem sempre os 150ml de leite para mim não era problemático pois não estava a fazer nenhuma receita de pão de ló) comecei a notar que as pessoas olhavam para mim de uma forma estranha.

 

E fica ainda pior quando me perguntam se custou muito o parto e eu respondo que correu tudo bem, se custou muito o pós parto e eu digo que não. E juro que não estou a mentir. 'Foi uma sorte!', costumo ouvir logo de seguida. Sim e... não! Sim, correu tudo bem. Sim, poderia ter havido complicações. Mas também fiz o possível e o impossível para que não houvesse. Claro que há depois sempre o factor X, Y e Z que não depende de nós, mas na parte que depende cumpri à risca. E isso ajuda, certo? Senão é como a história do outro que espera ganhar o euromilhões mas nunca joga...

NEO.jpg

 

Se as coisas podiam ter corrido melhor? Sim. Escusava de ter receado pela vida deles quando tive um acidente de carro nos primeiros meses de gravidez. Escusavam de estar 9 dias na NEO, escusava de ter de vir para casa de braços a abanar e a stressar com o leite, escusavam de ter nascido prematuros e assim o Pandinha provavelmente não teria refluxo gástrico durante quase 14 meses. 

 

Ao longo destes quase 6 anos temos tido altos e baixos. A Patapon teve uma infecção urinária que quase a levou a ser hospitalizada; o Pandinha aos dois anos de idade furou a cara de um lado ao outro com um livro e teve que ser cosido no hospital, com a mãe e o pai a terem de segurar porque uma das enfermeiras não teve coragem, e há cerca de 2 meses atrás teve de repetir a experiência (mesmo antes das férias de Verão, claro) ao abanar um daqueles bancos da IKEA de 4 patas rechonchudas até aterrar de queixo na mesa da sala e ter de levar mais 4 pontos (e tudo porque não queria ser o primeiro a tomar banho); temos gasto fortunas em médicos e exames por causa da sintomatologia alérgica do Pandinha, e tanto eu como o pai a nível pessoal e profissional temos passado por momentos mais complicados. Também com o resto da família, e mesmo a nível de saúde as coisas poderiam correr melhor, que a malta agradecia. Mesmo antes dos miúdos nascerem as coisas não eram fáceis para ninguém.

 

Por isso sim, somos uma família normal, a que acontecem todos esses precalços da vida. Que também tem dias complicados, e semanas e meses... Não seremos é pelos vistos normais na forma como os abordamos.

 

Claro que poderia andar por aí a chorar pelos cantos, de ar tristonho e cabisbaixo por tudo aquilo que não corre bem. Mas eu não sou assim. Mesmo porque não adianta nada, certo? Não resolve nada!

 

Sim, também choro de vez em quando e q.b.. Mas se há quem tenha grandes depressões, eu costumo dizer que, quanto muito, tenho depressinha. Simplesmente porque não tenho tempo nem paciência para andar a choramingar muito tempo. Tenho mais e melhor para fazer, percebem? Tenho quem precise e dependa de mim. E não lhes posso falhar. E não ME posso falhar!

 

GOPR9863.JPG

 

Se a vida podia ser melhor? Podia, claro! Podia não andar a fazer contas para o dinheiro chegar até ao fim do mês (sim, aqui também estamos a sentir os efeitos da crise), podiamos estar todos saudáveis o tempo todo, podia não se avariar tanta coisa cá em casa (a ver se sobrava algum dinheirito para umas férias decentes e algum neurónio que não ficasse electrocutado pelo esforço), podia não andar numa constante correria para ter a certeza que não falta nada a ninguém e poder dormir mais umas horinhas seguidas (é que cansa, bolas!). Mas também poderia ser tão pior, não era?

 

Conheço tanta gente a viverem dilemas que nem nunca nos passam pela cabeça. Vejo tanta gente a revirar caixotes do lixo à procura de comida. Há tanta gente no IPO que, com tanta coisa a corromper-lhes o corpo e a alma, conseguem ter os sorrisos mais belos que alguma vez vi.

 

Por isso -e desculpem se de alguma forma pareço um pouco insensível- mesmo que a vida não esteja a ser generosa convosco, apenas por hoje... podem por um sorriso na cara, não se queixar do que corre mal, da crise, do futebol, e encontrarem um pouco da felicidade que têm guardada lá no fundo? Só por hoje que seja... para eu me sentir um pouco menos culpada e mais normal?

 

Obrigada!

Rorschach

por twin_mummy, em 08.11.13

 

Segundo o google hoje seria o 129º aniversário do Rorschach. Para quem não conhece, é a prova de que da suiça não vêm apenas queijos mas também psiquiatras. A ele se deve o famoso teste de Rorschach, que não são mais que uns borrões de tinta simétricos, como aquelas célebres borboletas que faziamos na pré-primária. Que sejam interessantes eu percebo, e ainda hoje quando os meus filhotes as fazem eu fico fascinada a olhar para aquilo pois é realmenete de uma simplicidade extrema mas encerra uma certa mística. Que ele diga que dá para ver ali coisas também percebo, mas eu com uns copos a mais nem preciso das pranchas. O que não percebo é em que é que as dele são melhores que as minhas ou de qualquer outro artista. 

 

E não me acusem agora de sofrer de megalomania. Tomemos o exemplo de Picasso. Ora uma das grandes vantagens de se ter uma mamã que se interessa pelo Mundo que a rodeia é poder crescer a olhar para um Picasso. Não era o original claro -ou eu teria bem mais tempo para escrever no blog- mas era uma reprodução de uma das obras menos conhecidas da sua fase azul. Sempre me falaram dele como a 'Mulher Azul' (desconheço se será o seu nome original), mas para mim ficou conhecida como 'A mulher e o bacalhau'... e digam lá que não o conseguem ver no canto superior direito (direito do quadro, vosso lado esquerdo para quem ainda anda com a lateralidade mal desenvolvida)? Ou a perna da bailarina e a cabeça de um soldadinho de chumbo no canto oposto? Ou um lagarto nas costas e um 'E' no rabiosque? Ou tantas outras figuras por ali dissimuladas. Recordo-me de ficar horas a olhar para aquilo a ver se descobria mais alguma coisa (e não...nem sempre estava alcoolizada). Agora chamem-me lá esquizofrénica por ver ali mais que borrões de tinta!

 

Mas críticas à parte o Rorschach acabou por ter um impacto positivo no Mundo. Pelo menos no meu, já que tornou as aulas de Psicanálise bem mais interessantes, e passei a ter desculpa para por a família inteira a olhar para borrões de tinta e depois fazer uma bela figura a interpretá-los. Tempos giros esses em que ninguém se importava de ser cobaia e até implorava por isso. Um deles era o co-irresponsável, o único que para mim permanece 'incotável'. Digo-lhe que é por ser demasiado complexo e ele baba-se todo. Na verdade talvez seja por medo que não o faço. Imaginem que descubro por ali alguma patologia latente... e depois? Fujo ou atiro-me a ele?

 

Também devo ao psiquiatra Rorschach a inspiração para uma das minhas personagens favoritas de BD, e um dos melhores livros que li na vida. Falo da personagem Rorschach do célebre Watchmen, e aproveito para enviar um beijo especial para o Dave Gibbons, pois foi um marco na minha vida ler esta obra (e aí todo o crédito para o Alan Moore) e um ainda maior poder conhecê-lo e conviver com ele mesmo que por breves instantes. Hoje em dia tenho pena de já não fazer parte dos célebres Festivais de B.D. da Amadora de uma forma tão activa, mas espero em breve poder apresentar os gémeos a esse fascinante Mundo que tanto eu como o co-irresponsável apreciamos.

 

Foi graças também ao psiquiatra Rorschach que o Gnars Barkley pode fazer um vídeo interessantíssimo e inovador, em que as manchas de tinta se sucedem ao som de uma bela melodia em que se fala de loucura e de amor. Uma grande redundância, eu diria... já que amor e loucura parecem estar sempre ligados.

 

http://www.youtube.com/watch?v=bd2B6SjMh_w

 

O triste de toda esta história é que o dito Sr. Rorschach, o da terra dos relógios, queijo e chocolate, morreu cedo. Tinha apenas 37 anos quando morreu de peritonite. Ora eu relógios não uso porque consigo acabar-lhes com a pilha em 2 ou 3 semanas no máximo, chocolate não gosto (e pronto... com esta já coloquei uns quantos de boca aberta a perguntar 'Como é possível??' Mas é verdadinha... nem gelado do dito, nem bolo, nem sequer um cacau quente), mas queijo como às carradas. Vai daí (e porque não falta quase nada para lá chegar) isto deixou-me a remoer na vida. É certo que ultimamente há muita coisa de que me poderia queixar, e que por vezes, no circulo de familia e amigos mais chegados até me queixo, mas de um modo geral acho que sempre tentei aproveitar todos aqueles pequenos prazeres da vida, e que o faço de forma exemplar. E se bem que tenha mau feitio não houve nunca ninguém até à data que me tenha pedido ajuda e que eu tenha negado, e na maior parte dos casos sou mesmo eu a oferecer essa ajuda. Quem me quer bem tem o melhor de mim. Tento também passar todos estes valores para os meus filhos e liderar pelo exemplo, mas tenho plena consciência que também eu falho como mãe, como filha, como irmã, como amiga, como namorada. Por vezes gostava de estar mais presente, e nem sempre consigo... esse é o meu grande pecado.

 

Mas sentada aqui no sofá a olhar para as formas das nuvens (a ver elefantes cor de rosa e outras coisas mais) e fazendo a minha introspecção concluo que, apesar de não ser perfeita, não serei talvez das piores pessoas do Mundo. E gosto de por aqui andar... por causa do queijo e não só. Por causa destes meus 2 ratinhos que tanto adoro... Por isso, se em alguma altura me queixo, e para que não seja mal interpretada pelas instâncias divinas, faço minhas as palavras do Sr. Gnars Barkley (porcaria de nome este... OHHH!! Perdão!) e digo:

 

''My heroes had the heart
To live their lives out on a limb
And all I remember
Is thinking, I want to be like them

 

Ever since I was little
Ever since I was little
It looked like fun
And it's no coincidence I've come
And I can die when I'm done''

 

apenas para concluir: I'm not done yet!! Por isso nada de peritonites aqui para a menina, ok? 



As imagens utilizadas neste blog são na sua maioria de autoria própria ou de amigos e familiares, com o devido consentimento. A autoria daquelas que são retiradas da internet será indicada sempre que seja possível fazê-lo de forma inequívoca, mas mesmo assim poderão ser removidas caso o autor o entenda, bastando para tal contactar-me para o e-mail aqui indicado.


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