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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Inevitavelmente quando se tem gémeos acabamos por ter de trocar o nosso carrinho citadino, que cabe em qualquer metrinho quadrado, por um carro mais espaçoso. Como cá por casa temos alergia às monovolumes (desculpem a quem as tem, mas parece que vamos trancados numa marmita), optámos por uma break (e eis que neste momento acabei de captar a atenção dos gajos que por aqui andam silenciosos, a fingirem que cairam aqui por acaso).
Mais uma vez tenho de agradecer ao meu mecânico (que como passa o dia debruçado sobre automóveis provavelmente nunca irá ver isto, mas mesmo assim sinto-me melhor de agradecer publicamente) pela ajuda preciosa em encontrar aquele que eu já considero o espécime perfeito. A quem esteja no mesmo dilema, fica a dica de quem muito viu e ponderou, e acabou por optar por uma Peugeot 206 SW.
Peugeot porque o co-irresponsável já teve um e não deu nenhuma chatice, 206 SW porque foi aquela que o mecânico arranjou que a minha escassa carteira poderia pagar. Mesmo assim, se me saísse o euromilhões acho que agora não a trocava. Ok, ok... talvez apenas a quitasse um bocadinho (às gajas frequentadoras do blog e que, ao contrário de mim não se interessam grandemente pelo mundo automóvel, fiquem a saber que há possibilidade de transformar os carros, não apenas na versão tunning saloia, mas há por aí coisas feitas com muito gosto). E claro que com um euromilhões contrataria o 'Chip' Foose.
Mas como tenho de viver um pouco na realidade, e enquanto o euromilhões não chega, dei por mim a deambular pela Norauto a ver coisas para a carrinha nova (sim, tem quase 10 anos, mas nas minhas mãos é nova e por isso um brinquedo, capisce??). Árvores de cheiro para o retovisor... pensarão alguns, ursinhos de peluche para o tablier, afirmarão outros. Não... nada disso. Nota-se logo que não me conhecem. Andei a ver caixas de ferramentas, camurças, kits de lâmpadas e fusíveis para aquelas inúmeras viagens que não fazemos pela UE (a quem não sabe há países onde é obrigatório andarmos com um kit extra de lâmpadas e fusíveis, e bolas que agora devo ter deixado a minha prima Luisinha -que é instrutora, examinadora e sei lá mais quê- orgulhosa), mas que temos sempre planeadas para fazer 'para o ano', e chamem-me parva mas ter o kit faz-me sentir mais perto... Também andei a refazer a mala de primeiros socorros e terei de recarregar o extintor, e depois fico feliz!
E sim, nestas coisas eu sou muito gajo, e isso também deu para perceber quando tive de lá deixar o meu carrito. Deu-me imensa chatice, mas foi o primeiro (e em principio permanecerá o único) carro novo que tive, e acompanhou-me em tantas aventuras que acabou por ficar com uma parte de mim lá. Bem... parte da carteira ficou de certeza, mas adiante... chorei, sim! Vim todo o caminho a chorar como uma Madalena, mas felizmente como chovia quem olhasse de fora pensava que era reflexo (ou assim eu espero).
Curiosamente, com tanto receio da Peugeot ser demasiado grande ou difícil de estacionar, de ser estranho conduzir uma viatura a diesel, ou de simplesmente não atinar com os botões, acabou por encaixar tudo no meu cérebro, como se a bichinha fosse minha há anos. E agora gozem à vontade, mas reconheço que a única coisa que me faz espécie é o limpa pára-brisas do lado do pendura ser torto. Melhor dizendo... aquela porra faz um ângulo, e eu vim todo o caminho com a sensação que estava partido ou a partir-se e aquilo stressa-me de morte.
Por isso... e aproveitando que este blog já é mundialmente conhecido (ahahaha, 'yeah...right!', diz a minha consciência, mas entretanto calou-se que acabei de a pontapear para longe) lanço um apelo aos nossos amigos franceses para alterarem o dito limpa pára-brisas para um normal, direitinho, sem ângulos. Mas se acharem que é pedir assim tanto quando me sair o euromilhões compro-vos e obrigo-vos a fazerem-me a vontade!!
E já agora... nota super-positiva para os consumos, já que em 2 dias de voltinhas por Lisboa o ponteiro não se mexeu. ADORO-TE LEOAZITA!!
Ainda uma destas manhãs o co-irresponsável se lamentava que tinha saudades de ver o noticiário de manhã. É que desde que a hora mudou (ver post 'Com sopas e bolos e fusos horários') que os gémeos ficaram presos no fuso horário anterior, pelo que é raro o dia em que não despertam antes das 6h30 e acabam assim por nos fazer companhia ao pequeno almoço e monopolizar a tv com o Miao Mao e outros tais.
Pois nem bem a propósito, pouco depois desse episódio dei por mim estrada fora a caminho do mecânico já que o carro andava a perder potência (sim, sou uma gaja estranha que repara nestas coisas, graças talvez a um instrutor de condução que sempre me ensinou a ser 'mecânica de ouvido'), e na minha demanda por entre as rádios pré-definidas no rádio (felizmente não há nenhuma 'Rádio Panda' ou 'Rádio JimJam' pelo que é tudo conteúdo de 'crescidos') oiço algo que me deixou estupefacta.
Parece que no meio de toda esta crise o Governo teve uma ideia peregrina que foi reduzir os anos das licenciaturas para tentar atingir os patamares europeus em termos de educação. E não sei porquê fiquei com uma sensação de 'dejá-ecouté' (adoro este meu neologismo)... É que a memória daqueles iluminados pode ser curta, mas a minha, embora enevoada pela magnitude de novas exigências que a maternidade acarreta, não estará assim tão limitada. No meu tempo (e lá vou eu...) as licenciaturas eram de 5 anos e os pais andavam a matar a cabeça aos miúdos com a célebre frase 'Estuda para um dia seres alguém'.
Chamem-me desconfiada ou mesmo paranóica mas fiquei com a sensação que esta 'solução' seria mais uma para 'tapar o sol com a peneira'. Semelhante àquela em que colocam desempregados em cursos de formação que pouco ou nada têm a ver com os interesses deles ou mesmo com a utilidade prática dos mesmos, mas que permitem que, mesmo que temporariamente, saiam das estatísticas de desemprego. E cheirou-me (sim, que a minha mãe ensinou-me a ser 'cozinheira de nariz') a esturro. A um esturro muito grande, a uma daquelas decisões de se pôr o lume no máximo para abreviar o tempo de cozedura e...pimba! O resultado não pode ser outro, certo? Pela minha lógica prevejo (sim, agora também sou astróloga e taróloga) um 'boom' de desempregados ainda maior. Mas a curto prazo ficam com o problema resolvido, certo?
Então e perguntam vocês... onde é que queres chegar com isto tudo?
Simples... falava da minha ida ao mecânico, lembram-se? E como o trajecto ainda é longo aproveitei para pensar em todas estas coisas da vida e na fulana que aqui há dias encontrei à porta da minha casa (é natural que se sintam ainda mais perdidos mas juro que no final do discurso delirante haverá uma luz ao fundo do túnel e não será necessariamente um comboio para vos passar por cima). Ora a dita rapariga estava à porta do meu prédio e viu-me aproximar com os miúdos. A quem tem gémeos sabe bem que é uma premissa sermos alvo de gente metediça sempre que saímos à rua, pelo que já estava à espera. Mas curiosamente...nada! Nem se meteu com os miúdos, nem sequer disse boa noite. Simplesmente fez o gesto de entrar no momento exacto em que, já dentro do prédio, fechei a porta.
Perante o ar dela de indignação resolvi (ainda dentro do prédio e de porta fechada em segurança que aqui pelas redondezas têm havido muitos assaltos que começam assim) cumprimentar a senhora e perguntar se podia ajudar. Ao que ela responde no tom mais seco do Mundo:
-Quero entrar no prédio!
Sério? Pensei eu... E eu a julgar que quando alguém se coloca do lado de fora a forçar a porta quereria era sair!! Até aí tinha eu chegado sozinha e não preciso da licenciatura. Mas aquilo não sei porquê não me parecia motivo suficiente para abrir a porta a uma perfeita desconhecida. Vai daí feita parva ainda perguntei:
-Mas quer entrar para quê? É publicidade? Se for isso tem aí uma caixa fora onde pode colocar...
Acham que ela respondeu? Não! E eu, com os miúdos já a puxarem-me escada acima ainda insisti:
-Se pelo menos me explicar ao que vem talvez a possa ajudar...
E nada! Mais uma vez permaneceu calada, com cara de caso, o que só me fez deixar ainda mais intrigada. E em tom de conclusão acabei por dizer:
-Olhe... Não leve a mal mas não posso ficar responsável pela entrada no prédio de alguém que eu não conheço e que nem sequer me diz ao que vem. Se é publicidade coloque na caixa como eu indiquei que as pessoas tiram daí. Se for para ir a casa de alguém e se já tocou e não abriram é porque a pessoa não estará em casa, pelo que também não fará sentido a senhora entrar, certo?
E lá apanhei eu o elevador, com os miudos já a engalfinharem-se, e a tal fulana caladinha à porta. Momentos depois, estavamos nós a dar banho e comer aos miúdos, tocam à porta e oiço aquela mesma vozinha. Já nem me recordo o que disse de início, apenas me apercebi que era de uma operadora de telecomunicações com a qual eu já tive contrato, mas que deixei por má prestação de serviços e em relação à qual até fiz uma reclamação para a Anacom. Claro que disso a senhora não tem culpa pois sendo de uma empresa sub-sub-contratada nem sequer tem acesso a esses dados. Mas tem culpa de ser parva. Bastava ela ter dito ao que vinha e ter-se identificado e eu tinha-lhe aberto a porta.
Vai daí comecei a pensar na situação e depois, como sou imensamente cusca, quando regressei do mecânico decidi pesquisar que tipo de perfil pedem os operadores de telecomunicações para este tipo de serviço. E para meu espanto se em alguns casos basta o 9º ano, alguns há que já pedem o 12º ano. Pudera! Se se consegue acabar a escolaridade mínima obrigatória com este nível de 'sensibilidade e bom senso', então livrem-se de contratar malta que nem ao 9º ano chegou. E foi aí que me caiu a ficha! Por este andar até podem pedir a licenciatura porque não tarda nada acaba por ser só mais 1 ano e este tipo de gente acerebrada qualquer dia até aulas dá aos nossos filhos. Ou nos arranjam os dentes, ou até quem sabe com mais 1 aninho além do primeiro tiram a especialização em obstetrícia. E será este o País que teremos... E no fundo é este o 'estado do Estado'...
Lembrei-me então do sorriso de felicidade que trazia nos lábios ao vir do mecânico (vêm como isto tudo parece que se vai conjugar em algo com sentido??), que me poupou o coração apenas por ir dar uma volta de carro comigo e dizer, por entre risos, esta bela frase:
-O que o seu carro tem é carvão dentro da tubagem de você andar tão devagar com ele. Vá lá para casa descansada e puxe mas é pelo carrinho de vez em quando, que ele está a precisar.
(Diga-se a bem da verdade que quando nos tornamos pais ganhamos velocidade de lesma e se bem que tenhamos alguma consciência disso, dizerem-nos assim na cara faz-nos doer o ego, mas serena-nos o coração de que estaremos a agir correctamente)
Certo... ele resolveu o problema e não me levou nada porque até é uma pessoa séria. Mas acima de tudo é um bom mecânico, uma pessoa educada e prestável, e não me parece que seja licenciado. E se andasse a pregar ligações de fibra por entre as portas duvido que não tivesse o discernimento suficiente para dizer boa noite e explicar ao que vinha. Também o senhor que cá vem arranjar os estores é uma pessoa extremamente competente, ganha rios de dinheiro, e nem por isso deixa de ser alguém com quem se consegue ter uma conversa. Porque há coisas que fazem parte da educação base de uma pessoa, certo? Ou já não?
E por entre todo este raciocínio dei por mim a rezar para que os meus mabecos não queiram ser estudiosos mas sim inteligentes. Será caso para dizer 'Não estudes! Tenta mas é ser alguém!'