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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Não, não sinto o tempo a esvair-me das veias. Nem sequer páro para pensar nisso. Tenho coisas mais importantes para fazer.
Não, não passo a vida a olhar para o espelho à procura de uma ruga ou de um cabelo branco. Talvez por isso não os tenha.
Não, não desejo que o tempo volte atrás e me transporte para a minha infância. Tal como recordo as coisas boas não me esqueço das más, e sinceramente não me apetece passar por tudo aquilo novamente...
Não, não penso como poderia a minha vida ser diferente se tivesse feito outras escolhas, pois foram estas que me tornaram aquilo que sou. E embora haja muito a melhorar há também muito de que me orgulhar.
Sim, sinto a falta de muita gente que deveria ser eterno de forma a fazer-me sempre companhia nestes dias. Mas sei que, de certa forma o são. Em tudo o que digo e faço, estarão sempre por cá...
E sim, é assim que me continuo a ver, a brincar de joelhos na praia enquanto procuro pelos aviões que passam bem alto. Um dia vou alcancá-los... a TODOS!
Porque no dia das mulheres não se deve olhar a tamanhos quero aqui publicamente fazer a minha homenagem à minha filha que ontem, com 6 anos de idade, e ainda na pré-primária, conseguiu ler pela primeira vez.
Eu sabia que ela já reconhecia algumas palavras e quase todas as letras (às vezes ainda faz confusão com algumas minúsculas), e por isso quando me apareceu na cozinha a dizer que me ia ler um livro não estranhei. Ela costuma olhar para os desenhos e inventa uma história. Mas desta vez foi diferente. Ao fim de 5 páginas de real leitura (com muitas pausas pelo meio, mas mesmo assim impressionante) de um livro infantil extremamente didático (O Panda do Kung Fu) vira-se para mim e diz:
-Mamã... já começo a ficar cansada. Achas que posso ir ver desenhos animados agora um bocadinho?
Fartei-me de rir, claro. Mas foi também nessa altura que acordei para a realidade de que aquela pequenita que ainda ontem nasceu é já uma pequena mulher.
A ela, e a todas as da geração dela, faço meus os votos de um amigo meu, de que um dia não seja preciso haver um dia da mulher.
Alguma vez sentiram que a vida vos passa por entre os dedos? Que numa vã tentativa de sermos melhores mães, melhores namoradas, melhores profissionais, ou simplesmente melhores pessoas há qualquer coisa que se perde?
Hoje dei por mim a pensar que talvez essa perda seja de tempo. Porque parece cada vez mais impossível conciliar tudo isto.
Sou uma pessoa de natureza optimista, e como também nunca fui de baixar os braços tenho sempre aquela vã esperança de que as coisas vão correr melhor. E passam-se dias, semanas, meses até, em que tudo parece é piorar. No meio disto tudo pesa-nos ainda mais porque há outras vidas que dependem da nossa e não lhes queremos falhar.
De repente uma luz ao fundo do túnel, e devo confessar que desta vez quase parecia um clarão desta bonita trovoada que tivemos esta madrugada. Era de tal forma intensa que eu pensei que não seria para mim, e embora me mantivesse na secreta esperança de que tudo iria correr bem, aquele vil bichinho chifrudo que habita o meu ombro esquerdo insistia que eu estava a sonhar, ou então com uma extraordinária e entusiasmante bebedeira, o que acabava por ser ainda mais cruel pois não me recordava de sentir o néctar doce a percorrer-me as veias.
Vencemos uma etapa e começamos a levantar a cabeça daquele buraquinho na lama para onde ela escorregou em tempos. E segue-se outra etapa, outra vitória, e de repente começamos a achar que a luz não só é para nós como é parte de nós. Que poderia andar para aqui escondida (quiçá alojada no estômago devido ao efeito Maria-misturada da gravidez -ver post: 'A boca do estômago') mas que nunca desapareceu completamente.
Sim, eu recordo-me de ter brilhado em tempos. Recordo-me de achar que poderia ser uma estrela, mas também do sentimento de super-nova que se lhe seguiu. De toda aquela explosão que deixou estilhaços demasiado espalhados para os conseguirmos abarcar numa vida que fosse, menos ainda numa simples existência... E eis-me aqui, anos volvidos, com aquela sensação de que algures existe uma cola suficientemente poderosa não só para os colar como para reunir mesmo os estilhaços mais remotos. E eles aparecem sim, e reunem-se numa forma coerente parecendo voltar ao local que lhes pertence.
Mas por muitos pedaços reencontrados, fico sempre com a sensação que existem alguns que perdi para sempre. Espero sinceramente que não sejam os que mais falta me fazem. Espero sinceramente ter força para vencer as restantes etapas (não sei porquê mas fico por vezes com a sensação que a vida é um jogo sem limite de níveis, em que quando ousamos respirar fundo por ultrapassar mais um reparamos que há uma plataforma em cima com um piano prestes a cair), não apenas por mim, mas por aqueles que gostaria que viessem a sentir orgulho em mim. Espero sinceramente que por milagre tudo se encaixe com algum sentido e de forma funcional (não gostaria de todo ficar com um braço na cabeça ou o rabiosque no peito). E espero sinceramente que depois de tudo isto a luz ao fundo do túnel não seja apenas um comboio...
Desculpem-me por este meu lado mais... complicado/ depressivo/ chato/ entediante/ humano (pf riscar as hipóteses que não achem adequadas e deixar as que façam sentido para vós, ou siplesmente acrescentem a vosso belo prazer), que tanto irrita o co-irresponsável, mas por algum motivo eu sou a gaja das psicologias com coração de manteiga e ele é o gajo das engenharias com coração de tijolo. Felizmente no meio do caos, e contra todas as expectativas, ainda nos conseguimos entender, embora nem sempre se consiga evitar o comboio...
Pois soube que em breve irei ser tia emprestada de mais um sobrinho de coração e decidimos em familia que lhes iriamos dar o último 'Boooo'. Era o ursinho Bloom da IKEA que costumavamos dar a todos os bebés de amigos e familiares mas que infelizmente já deixou de ser fabricado -qualquer dia ainda crio um movimento e mandamos uma petição ao Ingvar já que não há miúdo que eu conheça que não o tenha adorado e os substitutos não lhes fazem jus- e do qual apenas restaram cá por casa 3 exemplares (2 dos quais em uso intenso pelos mabecos e dos quais deixo foto para perceberem melhor de que falo).
Como já sou mamã de gémeos há algum tempo calculei que ambos quisessem dar uma prenda e encarreguei um de dar o urso (calhou por acaso ser o Pandinha a pegar nele) e outro de dar uma pecinha de roupa. Obvio que quiseram espreitar para dentro dos sacos e obvio que perceberam que eram prendas diferentes, mas como nem toda a gente tem gémeos eu lá tentei alegar que o bebé não precisava de 2 coisas iguais.
-Mas eu também quero dar um Booo!- retorquia a princesa.
-Querida, mas não há mais Booo's. Há o teu, o do mano, e este que vamos dar. A loja não tem mais...
-Mas eu quero... (e faz aquele ar triste e irredutivel que nos desmancha em segundos)
-Só se deres o teu.
E nisto a miuda, que não vai a lado nenhum sem o ranhoso do boneco, que esfrega as patinhas do dito cujo no nariz até adormecer, e que lhe chega a contar histórias e embalar diz prontamente:
-Está bem!
E só não o deu porque eu insisti que ele não precisava de dois e que o dela já estava velhinho e sujo. Por isso publicamente tenho de dizer... Adoro-te, querida!! És mesmo muuuuito corajosa. E não foste menos do que daquela vez em que estiveste no hospital com 40º de febre e um sorriso nos lábios que contagiava quem passava...