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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Depois de me terem origado a mim e ao co-irresponsável a ir buscar incontáveis baldinhos de água para por na piscina escavada no areal da praia, a Patapon vira costas, atira-se para o areal e começa a agitar os braços para fazer anjinhos na areia. Diz o Pandinha:
-Então e a piscina?
-Já está boa.
-Não! Temos que alargar e fazer um muro a toda a volta.
-Olha! Faz tu! Eu estou farta.
-Mas a piscina é dos dois. Tens de ajudar.
-Eu? Eu não. Eu quero ser veterinária e não vejo aqui nenhum animal. Mas tu como queres ser construtor, constrói-me aí uma piscina.
Não apenas por causa dos mais pequeninos, mas sobretudo aqui por causa dos 'velhotes' achei que seria boa ideia, depois da visita ao Badoca, ficarmos pelo Alentejo. Numa pesquisa belo booking.com descobri um destino de sonho, a poucos quilómetros do Parque que daria para os 5 adultos e 3 crianças (na altura estava a contar com o meu sobrinho mais velho), o que já de si não é fácil de encontrar, mas que também prometia mais do que um simples descanso. Inserido na natureza o Eco Suites Resort dá-nos o cenário idílico do Alentejo, mas com um toque de modernidade e luxo.
Feitas as contas 160€ por uma noite para 8 pessoas não é assim tão caro, nós é que não ganhamos bem, e por isso o factor decisivo acabou mesmo por ser a minha mãe querer-nos dar esse miminho. A ela o meu eterno obrigado, e aqui fica a experiência imortalizada.
Para começar a parte da reserva através do booking.com não tem muito que saber, mas convém reservar com muita antecedência pois a herdade não tem muitas vagas e a procura é grande. Como mais perto da data tinha algumas questões a colocar ao Resort decidi enviar um email. Basicamente queria saber, mesmo porque iriamos viajar com duas crianças de 5 anos, o que seria preciso levar em termos de roupa de cama/ banho e produtos de higiene e se pagariam pequeno almoço completo (o preço indicado era de 5€/ pessoa). Em relação ao pequeno almoço não tardaram a responder que pagariam apenas metade do valor, em relação à roupa não obtive resposta, mas decidi arriscar e levar apenas os resguardos de colchão, para alguma eventualidade, e os produtos de higiene. E acertei. Há toalhas e roupa de cama, mas não há produtos de higiene. Curiosamente há detergente, e por isso ficamos com a sensação que a loiça é mais mimada do que nós.
O que lhes falhou a nível de email compensou depois no telefonema que a colaboradora Joana fez quando ainda estavamos no Badoca. Relembrou a reserva, questionou a hora de entrada, ensinou-nos o caminho e colocou-se à disposição para qualquer escarecimento que fosse necessário.
Com ajuda da Joana o trajecto para o Eco Suites Resort foi facilitado. Bastava voltarmos para trás na IC33 e virar para Santa Cruz/ Ademas. Depois junto a Ademas haveria placas para o Eco Suites. Realmente havia uma placa à direita que, embora pequena, era visivel. A melhor referência que posso dar é que existe uma paragem de autocarro à esquerda, mas a partir daí em alguns cruzamentos ficámos na duvida, e quando em dúvida segue-se em frente, mesmo que seja terra batida.
Ao depararmos com as placas em madeira compreendemos estar no sítio certo, e na aventura achámos que dariamos com a casa e seguimos pela estrada do Eco Suites Resort. Estrada errada, mas um telefonema para a Joana e a voz simpática dela a pedir para aguardarmos um minuto que ela ia-nos buscar. E lá aparece o rosto com correspondência total à voz, num sorriso rasgado e um aceno para seguirmos o carro dela. Estranha-se o facto de não haver recepção, mas a verdade é que não é mesmo preciso pois a Joana parece quase omnipresente e aquele sorriso deixa-nos sempre bem dispostos. E lá vamos nós para a Eco House, seguindo o caminho da esquerda.
À chegada a constatação que as fotografias no booking.com correspondem mesmo à realidade. À excepção da imagem que foi tirada do booking.com todas as outras fotos foram tiradas por nós e apresentam-se sem qualquer filtro. A casa é espaçosa e luxuosa, e a cor escarlate contrasta com a paisagem campestre alentejana, salpicada em tons de verde e castanho, e uma temperatura amena de final de verão, o que lhe confere um certo glamour. Mas a parte melhor é mesmo a sensação de espaço, o cheiro do campo e o silêncio, quebrado pelo chilrear dos pássaros. Nas traseiras da casa, com esta paisagem a preencher-nos o horizonte, saltava uma rã, indiferente às crianças que corriam e gritavam a cada metro percorrido. É isto que nos falta em Lisboa.
Claro que a corrida para a piscina privativa da casa também foi inevitável. Valeu-me o co-irresponsável para eu não ter que me sentir um gelado numa arca frigorífica. Convinha explicarem à piscina que ela mora no Alentejo e que por isso se devia deixar de frescuras.
A casa em si também é espaçosa. A entrada principal é pela cozinha, de onde depois se desce para a sala comum. Por toda a casa o moderno intercala com o antigo, numa conjugação perfeita. O mobiliário antigo está recuperado com gosto e torna a moradia em algo mais do que uma casa para alugar. Esta bancada antiga com torno foi muito invejada pelos elementos masculinos do grupo.
Mas para mim e para a Patapon, que passou lá o tempo deitada a ler, a zona de eleição seria o estrado na sala, com nichos repletos de livros, a convidar à leitura.
A cozinha com ilha, em painéis lacados vermelhos, acessórios inox e máquina de café à disposição dá-nos aquele impacto inicial de luxo. Vistas as coisas mais de perto nota-se que o interior dos armários já viu melhores dias, pois todos os que têm calhas apresentam ferrugem, e numa casa deste nível são pormenores que não deveriam ser descurados. Fica a sugestão de melhoria, pois é realmente uma pena.
Outro ponto a melhorar é o facto do quarto que tem os 2 beliches (onde ficariam as crianças) precisar de protecção para os beliches de cima. Nem o meu sobrinho se sentiu com coragem de passar lá a noite, e por isso recorremos a uma solução simples que foi colocar um dos colchões superiores no chão, mas não seria necessário tanto caso as traves de protecção fossem colocadas. Um ponto muito positivo é que o quarto em si é espaçoso (e por isso não foi complicado encontrar um espaço para o colchão) e fica mesmo ao lado de uma das duas casas de banho da casa, o que lhes facilita as idas nocturnas à casa de banho, caso seja necessário.
No corredor entre o quarto dos beliches e a suite (por onde há uma porta secundária de acesso à rua) mais um pormenor que nos deixa deliciados e orgulhosos de vivermos num País onde se fazem obras de arte com cortiça. O mini-cadeirão fez as delícias dos meus filhos, assim como o recanto com a estrutura em madeira, onde eles entravam e saiam como se de uma mini-casa se tratasse. E sim, embora por piada tenhamos aproveitado para tirar fotos com os miúdos lá trancados optámos por publicar a mais politicamente correcta. São estes pequenos detalhes que fazem toda a diferença.
Quanto à suite em si também é espaçosa e a casa de banho contígua é na minha opinião a melhor da casa já que tem espaço para algo luxuoso chamado toalheiro e comunicação para o exterior, facilitando assim a ventilação. Um extra que veio a calhar foi ter secador pois no Alentejo, mesmo em Outubro, os dias são quentes mas as noites tendem a ser sempre mais frias, e sabe bem andar de cabelo seco ao luar.
E por falar em andar ao luar, o nosso quarto era o mais pertinho do céu. Para lhe aceder mais um dos apontamentos de estilo, a bela escadaria em madeira que partia de bem perto da lareira de duas faces (uma a dar para a sala de estar, outra para a sala de jantar). Como ainda sabia a verão não chegámos a experimentar, mas fica o desejo de regressar em dias mais frios, só para se estar sentado ao quentinho da lareira, a ver a lenha crepitar de ambas as faces.
Lá em cima, como já seria de esperar, uma zona com o mesmo cuidado na decoração, e com o vão a dar-lhe aquele ar de casinha de bonecas. Claro que já sabiamos que a tarefa de não bater no tecto seria difícil, mas não demasiado para nos demover de ali pernoitar, e a verdade é que tirando a porcaria da trave manhosa que se encontra junto às escadas (e que ganha vida e se desloca de propósito ao nosso encontro quando vamos a descer), não foi assim tão complicado.
Depois de nos termos instalado decidimos seguir o conselho da Joana e ir ao restaurante Monte da Vinha, em Ademas. Não há nada que enganar pois é o único e fica logo a seguir a uma curva apertada. Dado o alerta que o serviço era demorado decidimos ir cedo, logo a seguir a um banho quentinho que nos soube pela vida depois da ida à piscina. Não há fotografias do restaurante nem da comida porque com a ânsia de matar a fome ninguém se lembrou de documentar o momento, mas recomenda-se. O serviço não é tão demorado quanto isso e a comida é saborosa e farta. Assim que a palavra 'enguias' foi pronunciada a Patapon não se calou mais até ter à frente dela uma travessa das ditas, fritinhas. E eu, como mãe esmerada, tive que me sujeitar à tortura de a dividir com ela. O resto da malta comeu secretos de porco preto e carne de porco à portuguesa, tudo muito bem confeccionado. Com bebidas e sobremesas incluidas (e os meus putos a comerem como adultos) não chegou a 10€ por pessoa.
Regresso à Eco House e o cenário é este, já com o cair da noite e a brisa exterior a pedir uns momentos de descontracção na sala de estar. Tempo pra ler um livro, ver televisão, ou simplesmente esticarmo-nos no convidativo sofá. Depois de um dia a calcorrear o Badoca Safari Park soube muito bem este descanso.
E assim é o amanhecer através da janela mais catita do Alentejo. Esta é a vista do telhado da Eco House para o lado das Eco Suites, onde iriamos mais tarde.
Acordar no campo tem outro gosto quando olhamos pela janela e vemos perdizes a debicar a terra, a cerca de 10 metros da moradia, por baixo das figueiras e macieiras que abundam no terreno em frente à casa. O silêncio é interrompido pelo chilrear dos pássaros que nos convidam a sair. No jardim, o cheiro a ervas aromáticas deixa-nos enebriados à espera do pequeno almoço que infelizmente tarda em chegar.
Talvez por isso e com as árvores ali tão perto a tentação aperta, e não resistimos a 'ir à chincha' com os miúdos. Comer figos ao despertar não era o que tinhamos em mente, mas soube muito bem já que o pequeno almoço só é servido a partir das 9 e ninguém estava com vontade de se encharcar em bolachas. Por isso fica aqui a confissão pública de que sim, fomos aos figos. Fica-nos a doer o coração de ver que as árvores de fruto estão um pouco deixadas ao abandono. Seria com certeza uma mais valia para a herdade poder oferecer estes momentos de contacto com a natureza aos visitantes. Não é todos os dias que miúdos da cidade têm a oportunidade de apanhar frutos da árvore, e por isso fica mais uma sugestão e nosso obrigado pelo petisco inesperado.
Quanto ao pequeno almoço valeu a espera, sim. Vários pares de olhos esfomeados perscrutavam o horizonte quando o carro chegou. Pela porta da cozinha surgia um cesto em verga cheio de coisas boas e foi servido em quantidade generosa. Pão quentinho, leite, sumos e fruta, estava tudo delicioso. Pena terem optado pelos doces de compra e não por produtos regionais e teria sido 5 estrelas. Assim fica pelas 4 e meia, quase a tocar nas 5 por ter chegado na altura certa e por ser muito ansiado.
Depois de retemperadas as forças, toalhas ao ombro e lá vamos a caminho das piscinas das Eco Suites. Estas são piscinas comuns mas vale a pena o trajecto, quanto mais não seja pela beleza que nos espera. O caminho ainda é longo mas preferimos ir a pé para poder saborear cada momento.
Confesso ter ficado com alguma curiosidade de ver como seriam as Eco Suites por dentro, e embora sejam bastante mais pequenas que a Eco House alugar várias também me pareceu uma opção viável para quem tenha filhos maiores ou queira passar um fim de semana diferente entre amigos.
Uns metros à frente e o cenário é indescritível. Ficam as imagens da infinity pool e da piscina biológica, onde me deliciei a tirar fotos às rãs.
Este é mais um dos casos em que as imagens deverão valer por 1000 palavras. E assim vos deixo a pensar na terceira parte da aventura, de olhos no horizonte alentejano.
O nosso primeiro Verão...
-Oh, Mãe! Nunca mais é Verão! - dizia a minha filha a suspirar.
-Ainda estamos no Inverno. Falta um bocadinho para o Verão. -explico eu.
-Mas eu penso no Verão, penso, penso... e nunca mais acontece!
-Oh, querida... se fosse assim tão fácil. Infelizmente não basta pensar no que queremos para as coisas acontecerem. E há coisas que podem ser e outras que não podem, por muito que se queira.
-Mas eu gosto mesmo do Verão. Pode-se andar na praia, estar na piscina sem ter frio. Nunca devia ser Inverno!
-Ahhh... mas isso não pode ser. Depois como é que as plantas cresciam e os rios ficavam com água? O Inverno também é preciso.
-Então... então... era uns dias Verão e outros Inverno... para não demorar tanto!
E assim, como homenagem à minha filha, cá vai...
Neste caso gostámos e muito. Garanto-vos que foi no Paraíso que nos sentimos no Parque Biológico de Vinhais.
Tudo começou com a ideia de visitar a terra da avó paterna, perto de Vinhais. Como quem tem crianças desta idade percebe, ficar num hotel é complicado. Não só pelo preço como pela logística pois encontrar quartos contíguos e comunicantes é praticamente impossível, e por isso a pesquisa vai sempre recair sobre apartamentos ou aparthoteis. E foi assim, um pouco por acaso, um pouco com a ajuda do booking.com, que descobri esta pérola.
Pertencente à Câmara Municipal de Vinhais, este complexo em pleno Parque Natural de Montesinho oferece um bom ponto de partida para a exploração das zonas circundantes, mas acreditem que só por si já é motivo suficiente para justificar os mais de 400km que o separam de Lisboa. Tendo como objectivo a conservação da natureza e promoção da biodiversidade através de uma vertente de educação ambiental, acaba por dar certamente um grande contributo ao turismo da região. Para nós foi simplesmente um Oásis.
Para além da zona dos alojamentos em si (à qual já regressarei mais em pormenor), tem também um parque infantil bastante original, um mini-zoo com animais da região e a possibilidade de se fazerem passeios de burro, cavalo ou bicicleta pelos percursos pedestres. Nesse aspecto a recepcionista Paula dá uma grande ajuda em termos de planeamento. Também é com ela que devem falar se quiserem levar umas lembranças do parque (nós optámos por bonés, lápis de cor e cadernos, mas há muito mais e a preços acessíveis).
Todas as actividades extra são pagas à parte, mas devo dizer que, ao contrário de muitos comentários online que vi não me parece demasiado caro. A visita ao zoo é paga uma única vez durante toda a estadia e trata-se mais de um preço simbólico que certamente ajuda na conservação do espaço e dos animais. Desde uma gralha que nos vem dar as boas vindas e nos faz sentirmos especiais (é mentira que mais tarde percebemos que mais desavergonhada que aquela não deve haver já que trata assim toda a gente), até veados, javalis, e as esquivas raposas.
O passeio no burro Granjo custou 3€ e ajudou a que os meus filhos ganhassem coragem para o passeio a cavalo, onde meia hora de volteio custa 6€ e um passeio pelo campo 30€.
Agradecimento especial ao tratador André, que ao vermos o carinho com que cuida daqueles animais e a paciência que tem para os miúdos ninguém adivinharia que ainda recentemente era jardineiro de profissão. Fruto do curso de treinador, é certo, mas sobretudo fruto do valor que lhe é intrínseco, a presença dele ali fez toda a diferença. Foi ele que conduziu as aulas de volteio dos nossos mabecos (as, no plural...porque não lhes bastou uma e mais tempo lá estivessemos mais haveria certamente), no sereníssimo Sarko e que depois nos acompanhou no passeio pelo campo.
Uma nota a reter desse passeio é que quando eu e o co-(ir)responsável procuramos um momento de relax há SEMPRE qualquer coisa de altamente improvável a acontecer. Neste caso, e apesar do mais expectável ser eu cair do Escolinha, o mais alto cavalo que já alguma vez montei (mas verdade seja dita, um dos mais dóceis e por isso seria completamente despropositado o meu receio em montar um cavalo assim, depois de mais de 10 anos sem montar), foi o meu companheiro de viagem que teve direito a ser brindado com uma série de virares de pescoço e alongamentos relâmpago do Cogumelo que lhe valeram uma rédea partida. Mais uma vez o André esteve à altura e tudo foi resolvido com serenidade e muita risota.
O momento foi também capturado pela GoPro HERO4 Silver que eu levava no toque (que jeito que estas novas tecnologias dão), mas por respeito para com o cavaleiro, que também esteve à altura, decidi não partilhar. Brindemos antes ao lado mais positivo da experiência equina, que levou os meus filhos a apaixonarem-se pelo Ervilha (o jeitoso da foto do lado) e deixem-me reforçar que caso a gralha ou o dito cavalinho precisem de babysitters temos dois mabecos desejosos de os esborracharem com mimos. Bem... a eles e a todos os outros animais, que em tanto nos dificultaram a partida.
Quanto ao alojamento, tivesse eu prestado mais atenção e faria a reserva directamente com o Parque e assim pouparia 15€/ noite. Mesmo assim foram 115€/ noite por um luxuoso bungalow T3 (para 6 pessoas) mesmo encostado à piscina biológica, tendo 25% do valor sido dado aquando da reserva, a título de sinal (o que origina alguma estranheza para quem faz reserva pelo booking já que se coloca na mesma os dados do cartão de crédito, mas enfim).
Também podem optar pelo T2 a 65€/noite (para 4 pessoas), o T4 a 135€/ noite (para 8 pessoas) e brevemente um dos T1 que parece uma casinha de Hobbit a 45€/ noite (os designados POD's). Quem vê ao longe não acredita, mas dentro daquelas redondelas minúsculas cabe uma cama de casal, uma sala com kitchenete e um wc.
Sei porque não resisti e fui espreitar. Ainda não estavam acabados à data da nossa estadia, mas garantiram-me que seria para breve. Ressalva feita de que há os bungalows que têm vista de montanha e os que estão coladinhos à piscina. O meu conselho? Os da piscina! Valem o luxo e juro que não há melgas. Eu depois explico porquê... não o farei já para não assustar logo à partida e porque garanto que assusta apenas a ideia, mas adiante...
Pontos bons e a melhorar há sempre, quer do ponto de vista da família de loucos que se aventura desta forma com dois mabecos de 4 anos, e que inevitavelmente acaba por aprender por tentativa e erro, quer do ponto de vista do empreendimento, e da região, e por isso aqui fica o meu testemunho como cliente e viajante (que vale o que vale), mas também a partilha da experiência em si, a título de sugestão para quem, como eu, acha que vale a pena dar uma educação diferente às crianças ou, morrer a tentar...
E por falar em morrer a tentar deixem-me que lhes diga que Junho em Trás-os-Montes é como Agosto em pleno Alentejo. Faz calor-comó-caraças! E porque já estávamos de certa forma à espera que assim fosse, planeámos a viagem para que se iniciasse o mais cedo possível. Habituados a levantarem-se às 7h00 para ir para a escola, e com a excitação da viagem que os fez trocar a festinha de final de ano por esta aventura, foi para os mabecos bastante simples levantarem-se ao raiar da aurora. Eram 8h da manhã e já nos faziamos à estrada. Primeira paragem na estação de Serviço de Aveiras para nos reunirmos com os avós paternos e lá seguimos nós, ainda pela fresquinha.
Porque a época é de viagens, e porque haverá certamente quem este ano fará a primeira com os seus rebentos, com as mesmas dúvidas que eu tinha e com tantas outras que eu ainda tenho, prometo que me dedicarei em breve de uma forma mais aprofundada às viagens de carro com mabecadas, mas para já, e porque a viagem era longa e inevitavelmente teria de falar dela, aqui ficam apenas umas dicas.
Antes de mais planear bem o trajecto. Vejam bem os kms que necessitam percorrer ao todo e dividam-no por etapas em função das horas de refeição e das médias horárias que podem fazer em determinados trajectos, contando com uma pausa ou duas para idas ao WC. Se na auto-estrada podem andar a 120kms/h nas vias rápidas e nas estradas nacionais não é assim. Para além dos limites de velocidade há que ter em conta o estado do piso e o trânsito em locais onde a ultrapassagem não é permitida por kms. Depois é a velha questão de que 'bom comer' e 'estação de serviço' nunca farão parte da mesma frase, a não ser que haja um 'não' ali pelo meio... E por isso snacks comidos no carro (maçãs, nectarinas, bolachas, e muita água) e almoço num restaurante a sério estava decidido desde o início.
Assim, depois da pausa de Aveiras, optámos por seguir pela A1 e sair para o IP3 em Coimbra com direcção a Viseu, onde apanhámos a A24 até Vila Real. Depois passámos para a A4, onde fizemos uma pausa de 15 min na estação de serviço junto a Lamas de Orelhão, entre Murça e Mirandela, onde além das idas ao WC por que tanto ansiávamos depois de 3h de caminho, e a compra desesperada de garrafas de água fresca porque o calor já era avassalador, ainda deu para comprar uns produtos regionais (recomendo os chás e doces).
Paragem em Mirandela para almoçar no restaurante O Pinheiro (escondido numas escadinhas transversais à rua principal), onde uma dose dá para duas pessoas e a simpatia dos donos cativa de tal forma que lá voltámos a parar no regresso. O desvio é pequeno e juro que vale a pena provar a célebre posta Mirandesa ou a vitela grelhada. Para 4 adultos e duas crianças bastaram 3 doses. Os doces sinceramente seria um ponto a melhorar, mas o vinho tinto da região servido fresquinho -oh que mal que isto soa a alguém que como eu tem uma costela alentejana, mas que bem que sabe a alguém que, como eu, enfrentava quase 40ºC- faz-nos esquecer qualquer coisa que possa estar menos bem. Seguimos para a N315 até Rebordelo e a N103 até Vinhais. Dali até ao Parque Biológico são uns meros 2kms e as placas de sinalização ajudam os mais distraídos.
E depois de quase 500kms de estrada feita com um calor abrasador, e depois de quase 8h de viagem, foi este o cenário que nos fez perder a compostura e originar uma correria desatada para a piscina.
O bungalow que nos calhou foi logo o primeiro da esquerda. É bastante espaçoso e tem todas a comodidades de uma qualquer casa ou apartamento (à excepção do forno que confesso, daria bastante jeito para fazer refeições de forma rápida e simples), mas tem um pouco mais que isso.
Tem aquele toque extra que não era de todo necessário mas que calha tão bem. Um 'je ne sais quois'.
Um quadro aqui, uma planta ali. Tudo magistralmente decorado e mobilado estilo catálogo da IKEA. E não, não é apenas em sentido figurado. É mesmo tudo (ou quase tudo) IKEA. E assim se tem um belo exemplo que alguns apontamentos que não serão assim tão caros fazem toda a diferença e conferem o tal factor 'UAU' de que muitas vezes se fala.
Três quartos com 2 camas individuais (neste aspecto poder haver a opção da cama de casal confesso que ajudaria muito já que passámos todas as santas noites a tentarmos navegar ao encontro um do outro) e dois wc's completos, uma kitchenette com acesso directo a uma sala suficientemente ampla para tomarmos as refeições em conjunto, mas com um deck a convidar de forma desavergonhada às refeições exteriores. E nós, de forma completamente desavergonhada cedemos à tentação de tomar os pequenos almoços no tal deck, com os pezinhos quase de molho na piscina biológica.
E assim chegámos à explicação do porquê de não haver melgas a sugarem-nos o tutano, apesar da proximidade à água. Confesso que para mim foi uma estreia, e que quando falaram em piscina biológica contemplei desde logo os nenúfares e coloquei a hipótese de haver uma rã ou um sapo a pulular nas proximidades.
Mas ver cobras de água e patos estava além de qualquer sonho mais extremo. Para nós e para os miúdos fez confusão os primeiros 5 minutos já que assim que chegavamos a um raio de menos de 2/3 metros dos ditos animais eles desapareciam para a zona das plantas, mais encostada às extremidades da piscina. Mas a minha sogra assim que ouviu falar em cobras perdeu a vontade de por o pezinho de molho.
O mais curioso é que no dia seguinte, quando fomos visitar a terra dela, ansiou pela visita ao rio, onde costumava tomar banhos e onde, é claro, não existe qualquer animal...
Aproveitámos também para tentar chegar à zona das antigas Minas da Ervedosa, há muito desactivadas, mas que poderiam, a meu ver, ser ainda um ponto de interesse e de aposta num turismo diferente. Devo confessar que o primeiro pensamento que me veio à mente foi que se estivessemos em Espanha talvez o cenário não fosse este. A beleza das casas antigas da zona e da ponte contrastam com o estado de degradação em que se encontram.
Nenhum dos recantos daquele rio límpido se encontra aproveitado, as estradas estão em mau estado de conservação e as casas tradicionais dão agora lugar a casas de tijolo, sem qualquer alma. Imagino ali um campo aventura com acesso à mina, imagino ali turismo rural de qualidade, com prova de iguarias locais. Consolo-me com o carinho da Maria 'Micha', amiga de infância da mãe da minha sogra, que nos oferece uma sombrinha, um copinho de água fresca e um caloroso sorriso rematado por 'Venha daí um abraço, caralh_!'
É assim esta gente, que não nos deixa partir sem uma caixinha de marmelada caseira e uma garrafinha de jeropiga, mas sobretudo com os olhos lavados de lágrimas pelas saudades das gentes e das terras de outros tempos. Se voltam? Acho que depende de nós... A quem tem poder económico para isso fica a sugestão. Por curiosidade fui ver e uma casa recuperada anda à volta dos 55.000€, uma por recuperar 15.000€. Mas claro que haver por parte da governação outro cuidado pelo nosso património cultural e natural ajudaria...
Curiosamente, na terra das cerejas só as vimos nas árvores ou a cairem desamparadas no chão sem que ninguém lhes tocasse. Peixes de rio também não apareciam em ementa nenhuma. Basicamente a oferta variava entre a Posta Mirandesa e a Alheira de Mirandela. Ambas degustadas com fervor, é certo, e seja feita a devida homenagem à Ana e à Elsa (quem tem filhos da idade dos meus percebe o sorriso que tais nomes em conjugação nos provocam, quem não tem vá já ver o Frozen), duas das colaboradoras do Parque Biológico de Vinhais que nos confeccionaram uma refeição digna de ser servida num dos melhores restaurantes da zona (pena o Parque não ter um serviço de refeições mais regular), mas como não fizemos apenas uma refeição qualquer variante a tal menu seria bem apreciada.
Valeu-nos a recomendação para uma visita ao Restaurante 'Vasco da Gama', na rua principal da Vila, pois a experiência do dia anterior no Restaurante Comercial (que dista do primeiro por apenas alguns metros) tinha sido para esquecer (desde um cheiro horrível a fritos, loiças, toalhas de mesa e instalações pouco cuidadas para não dizer sujas... upsss... já disse!, até comida mal confeccionada). Uma vergonha para um Restaurante de localização tão central, em frente à Câmara Municipal, que aparece em tantas sugestões.
Mas demos então o merecido ênfase aos que se destacam pela positiva. À entrada do Restaurante Vasco da Gama fomos logo calorosamente recebidos pelo Sr. Vasco. Assim que me falaram dele pensei tratar-se de homem culto e de humor refinado para aproveitar o facto de se chamar Vasco para dar tal nome ao Restaurante. À saída, quando me deram o cartão de visita para facilitar a próxima reserva (sim, tencionamos lá voltar tantas vezes quanto possível for, ou mais ainda) percebi a minha ingenuidade já que mais do que Vasco lá constava 'Vasco da Gama' no nome do proprietário.
Navegando certeiro pelo mar dos grelhados o tal senhor Vasco da Gama, serviu-nos umas costeletas de cabrito magistrais. Mas a estrela terá sido a D. Zélia com o seu incomparável arroz de cogumelos. E para sobremesa?
-Se soubesse mais cedo que vinham teria preparado alguma coisa especial. Só tenho um queijinho fresco de cabra com doce de cereja caseiro.
E foi assim que ficámos perdidos por ali, e foi assim que vim para casa com um frasco de doce, que 'Não se vende por dinheiro algum' mas que se dá aos amigos de bom grado. E foi sobretudo assim que deixei parte do meu coração em Vinhais.
Ervilha... nós voltamos!! Quanto mais não seja em pleno Inverno para ver o Parque Biológico coberto de neve e tentar compreender até que ponto darão serventia à lareira existente numa das muitas castiças paragens de autocarro da zona... Nós voltamos!!