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Aventuras e desventuras de uma mamã de gémeos: Como me meti nesta enrascada; Relatos da (in)experiência; O dia-a-dia com 2 mabecos... Leiam e participem!!
Neste dia dos avós, e estando eu a tentar ter férias no sossego do campo, gostaria de prestar a minha homenagem aos avós do puto aqui do lado que está a aprender a tocar saxofone.
Fico com a certeza de três coisas:
1. Fazer escalas repetidamente de manhã e à tarde é um bom começo e um mal necessário, mas não é o mesmo que saber tocar (por isso não vale a pena filmarem e baterem palmas);
2. Compreendo agora melhor a relação entre velhice, paciência e surdez. Só isso explica o sorriso que lhes persiste nos lábios depois de dias a fio de escalas...
3. NUNCA serás a Lisa!
"A felicidade, em Portugal, é considerada uma espécie de loucura. Porquê? Porque os Portugueses, quando vêem uma pessoa feliz, julgam que ela está a gozar com eles. Mais precisamente: com a miséria deles. Não lhes passa pela cabeça que se possa ser feliz sem ser à custa de alguém.", Miguel Esteves Cardoso, Os Meus Problemas (aqui na versão reeditada de 2016).
Ora aí está uma grande verdade! Confesso que é dos meus autores preferidos e talvez por isso comece desta forma mais um post, mas por muito que tentasse eu não diria melhor. Ser feliz em Portugal, sobretudo nos tempos que hoje correm não é normal. Não termos queixas constantes dos miúdos, da vida, do trabalho, não é normal.
E é tanto mais assim quando se tem putos, e é tanto mais assim quando se tem putos pequenos.
Se de início achava natural que me perguntassem como estavam os bebés, se comiam bem, se faziam cocó (esta reconheço que ainda acho um pouco estranho), e se dormiam a noite toda, ao fim de vários meses de não me queixar em demasia (porque enfim... para mim acordar de 3 em 3h durante aqueles primeiros meses era o preço normal a pagar pela prematuridade, e as cólicas e prisão de ventre parece que fazem parte daquele período inicial de adaptação, e não beberem sempre os 150ml de leite para mim não era problemático pois não estava a fazer nenhuma receita de pão de ló) comecei a notar que as pessoas olhavam para mim de uma forma estranha.
E fica ainda pior quando me perguntam se custou muito o parto e eu respondo que correu tudo bem, se custou muito o pós parto e eu digo que não. E juro que não estou a mentir. 'Foi uma sorte!', costumo ouvir logo de seguida. Sim e... não! Sim, correu tudo bem. Sim, poderia ter havido complicações. Mas também fiz o possível e o impossível para que não houvesse. Claro que há depois sempre o factor X, Y e Z que não depende de nós, mas na parte que depende cumpri à risca. E isso ajuda, certo? Senão é como a história do outro que espera ganhar o euromilhões mas nunca joga...
Se as coisas podiam ter corrido melhor? Sim. Escusava de ter receado pela vida deles quando tive um acidente de carro nos primeiros meses de gravidez. Escusavam de estar 9 dias na NEO, escusava de ter de vir para casa de braços a abanar e a stressar com o leite, escusavam de ter nascido prematuros e assim o Pandinha provavelmente não teria refluxo gástrico durante quase 14 meses.
Ao longo destes quase 6 anos temos tido altos e baixos. A Patapon teve uma infecção urinária que quase a levou a ser hospitalizada; o Pandinha aos dois anos de idade furou a cara de um lado ao outro com um livro e teve que ser cosido no hospital, com a mãe e o pai a terem de segurar porque uma das enfermeiras não teve coragem, e há cerca de 2 meses atrás teve de repetir a experiência (mesmo antes das férias de Verão, claro) ao abanar um daqueles bancos da IKEA de 4 patas rechonchudas até aterrar de queixo na mesa da sala e ter de levar mais 4 pontos (e tudo porque não queria ser o primeiro a tomar banho); temos gasto fortunas em médicos e exames por causa da sintomatologia alérgica do Pandinha, e tanto eu como o pai a nível pessoal e profissional temos passado por momentos mais complicados. Também com o resto da família, e mesmo a nível de saúde as coisas poderiam correr melhor, que a malta agradecia. Mesmo antes dos miúdos nascerem as coisas não eram fáceis para ninguém.
Por isso sim, somos uma família normal, a que acontecem todos esses precalços da vida. Que também tem dias complicados, e semanas e meses... Não seremos é pelos vistos normais na forma como os abordamos.
Claro que poderia andar por aí a chorar pelos cantos, de ar tristonho e cabisbaixo por tudo aquilo que não corre bem. Mas eu não sou assim. Mesmo porque não adianta nada, certo? Não resolve nada!
Sim, também choro de vez em quando e q.b.. Mas se há quem tenha grandes depressões, eu costumo dizer que, quanto muito, tenho depressinha. Simplesmente porque não tenho tempo nem paciência para andar a choramingar muito tempo. Tenho mais e melhor para fazer, percebem? Tenho quem precise e dependa de mim. E não lhes posso falhar. E não ME posso falhar!
Se a vida podia ser melhor? Podia, claro! Podia não andar a fazer contas para o dinheiro chegar até ao fim do mês (sim, aqui também estamos a sentir os efeitos da crise), podiamos estar todos saudáveis o tempo todo, podia não se avariar tanta coisa cá em casa (a ver se sobrava algum dinheirito para umas férias decentes e algum neurónio que não ficasse electrocutado pelo esforço), podia não andar numa constante correria para ter a certeza que não falta nada a ninguém e poder dormir mais umas horinhas seguidas (é que cansa, bolas!). Mas também poderia ser tão pior, não era?
Conheço tanta gente a viverem dilemas que nem nunca nos passam pela cabeça. Vejo tanta gente a revirar caixotes do lixo à procura de comida. Há tanta gente no IPO que, com tanta coisa a corromper-lhes o corpo e a alma, conseguem ter os sorrisos mais belos que alguma vez vi.
Por isso -e desculpem se de alguma forma pareço um pouco insensível- mesmo que a vida não esteja a ser generosa convosco, apenas por hoje... podem por um sorriso na cara, não se queixar do que corre mal, da crise, do futebol, e encontrarem um pouco da felicidade que têm guardada lá no fundo? Só por hoje que seja... para eu me sentir um pouco menos culpada e mais normal?
Obrigada!
Num acesso de mimice aguda, estava eu a prespegar beijos repenicados na bochecha do Pandinha, quando este num acto quase automático saca da manita e limpa a dita bochecha.
-Então a mamã está-te a dar beijos e tu limpas? Assim fico triste...
-Não é a limpar. -responde ele sem hesitar- Eu esfrego assim na cara e eles descem para o coração para eu os guardar.
Sabes muito sabes... E não, este sorriso nunca me enganou...
Ontem foi um dia particularmente complicado para mim e tive que pedir desculpa aos meus filhos por não poder cumprir com alguns planos que tinhamos estabelecido para o fim de semana. Mas explicações simples já não são o suficiente para crianças de 3 anos, em plena fase dos 'porquê?'.
Numa linguagem acessível e tentando não entrar em muitos pormenores -porque acho que os problemas de adultos não devem ser motivo de preocupação para as crianças- lá expliquei que não era por culpa deles que não íamos hoje para a praia, já que eles se têm andado a portar muito bem e que mereciam esse dia especial com os pais. Era simplesmente porque estou triste, cansada, e sem forças para andar a carregar meia casa às costas. Porque estava cheia de dores de cabeça e preocupada com coisas de crescidos, e que precisava do dia para tratar de alguns assuntos importantes.
E no meio daquelas lágrimas que eu tentava conter, oiço o Pandinha a dizer no tom mais meigo do Mundo:
-Não te preocupes, mamã. Vai dormir que isso já passa!
E...acho que passou. Pelo menos em parte... Obrigada Pandinha, por seres um ''crescido'' e me conseguires arrancar sempre um sorriso.
Vêm-me as lágrimas aos olhos, mas há certas coisas que têm de ser ditas... eu adoro o meu pai!
Nas memórias mais antigas consigo recuar até uma noite em que estava com otites e que me recordo, como se fosse hoje, de ter sido embalada por aqueles braços fortes até adormecer. Nunca se queixou. Sempre teve a maior das paciências para nós, e quando as coisas começavam a descambar bastava um olhar mais sério para que o respeitinho se fizesse notar. E no entanto tem um coração de mel...
Sempre foi uma pessoa extremamente humana, mesmo para com os nossos 'perros' (diga-se de passagem que embora seja alentejano de gema a proximidade a Espanha deixou-lhe estas marcas). Não havia dia que não se levantasse às 6h00 da manhã para ir com eles à rua, não havia dia que ao chegar do trabalho não fosse para o mato com eles (só ele para descobrir mato em Lisboa!!) e não havia noite que não fosse de robe à rua para mais uma vez os passear. Levava sempre um garrafão de água no porta bagagens quando ia com eles para a caça pois não gostava que bebessem das poças. Com todos os outros caçadores a rir, lá pegava ele na toalha turca para limpar as orelhinhas do nosso Setter ou da nossa Epagneul Breton nos dias de mais chuva. E em casa até de secador de cabelo o vi...
Para nós sempre foi mais que um pai. Era companheiro de brincadeira também, e de fuga muitas vezes... Tinhamos daqueles cestos de vime que enchiamos com um lanche improvisado e fugiamos para junto do rio quando eu ou a minha irmã ficavamos em estado E (E de estupidez), longe de pensar que daí a uns anos alguém havia de ter a mesma ideia e chamar-lhe Parque das Nações... e ali estavamos a ver o rio, a jogar com ele à bola ou simplesmente a conversar.
Quando se reformou tinha a minha mãe (a quem também terei de dedicar o Mundo um dia destes) sido transferida para mais longe de casa, e chegava bastante mais tarde que o normal. Pois para não termos que atrasar o jantar ele decidiu que havia de conseguir adiantar alguma coisa que fosse, e pediu à minha mãe para lhe explicar como se fazia um refogado e outras coisas básicas. E lá dava eu com ele a sacar do cadeninho para depois inventar o resto a seu belo prazer, como qualquer Chef que se preze. E juro que era bom! Mesmo nos petiscos que sempre fez, acho que dava para perceber que se perdeu ali um cozinheiro. Saudadinhas do célebre Coelho à Caçador ou das Cabecinhas de Borrego no Forno...
E foi precisamente depois de se reformar que (re)descobriu a veia artística. Ele que depois de um dia de trabalho de escritório sempre arregaçou as mangas para resgatar um qualquer tareco ao caixote do lixo e lhe dar outra vida, decidiu forrar o sótão a madeira sozinho. De tal forma que foi convidado para trabalhar com um amigo nas obras, e ele lá foi todo feliz...
Estaria ainda feliz se, num qualquer dia, a uma qualquer hora, um qualquer fulano não o tivesse atropelado. Ia a mais de 120 kms/h numa zona residencial limitada a 30 kms/h e desfez completamente o meu pai. Tenho a perfeita noção que perdi 'O Meu Pai' nesse dia, e no entanto recusei-me a deixá-lo ir. Tinha consciência da gravidade das lesões, mas por muito que a médica insistisse para não ter esperanças isso só me deu mais força para lutar. Ninguém melhor que nós, família, para sabermos que tinhamos ali um lutador. Nunca o meu pai iria baixar os braços, nunca iria desistir de nós. Por isso merecia mais, e melhor. E nesse sentido demos tudo o que pudemos. Tomara ter podido dar mais...
Hoje em dia, anos volvidos, ainda continua connosco. Apoia conforme pode e a medicação deixa. E embora a minha mãe tenha sido incansável, há um limite humano e mesmo físico para o que se consegue aguentar. A dada altura tivemos de ceder e deixar que fosse para um Lar. Porque a minha mãe já não o conseguia levantar, porque chegou a fazer traumatismo ao cair, porque andava num ciclo vicioso de se levantar tarde e não fazer convenientemente as refeições. E nisso o coração da minha mãe é muuuuuito mole.
Cheias de mágoa no coração lá fomos procurar uma alternativa menos má... Pois mesmo numa altura dessas deu-nos uma lição de moral e disse, nos poucos momentos de lucidez que ainda vai tendo, que não tinha duvidas que seria o melhor. Para ele, para a minha mãe, e mesmo para nós filhas, que mais à distância sentiamos na alma a mágoa de não poder apoiar mais.
Melhorou bastante desde então, já voltou a ter horários, rotinas, acaba por ter mais companhia, e até come de bom grado os iogurtes a que antigamente torcia o nariz. De manhãzinha é ele que recebe de sorriso nos lábios a senhora que trata dos pequenos almoços, e lhe exige que se vá despachar porque já tem fome. E tem dias melhores, e dias piores, e tem dias em que tenho 'O Meu Pai' de volta!!
Sinceramente...acho que merecia melhor. Sinceramente... tenho pena de não poder fazer o relógio andar para trás e apagar aquele dia das nossas vidas. Mas agradeço-lhe cada dia de luta, cada passo, cada gesto. Agradeço por continuar a tentar pegar nos meus filhos ao colo pois sei bem o quão acolhedor é aquele colinho. E sei bem o que ele se esforça para continuar por cá mais uns tempos... contra todos os prognósticos.
Por tudo isto, neste dia especial, insisto em limpar as lágrimas e por o meu melhor sorriso. Foi o dia em que nasceu, e não o dia em que foi registado (outros tempos em que para não se pagar multa fazia-se destas coisas). Mas não me importo que voltemos a celebrar em Dezembro... só porque ele merece. Isso e muito mais!!
Parabéns papá!!!
Hoje a minha filha de 2 anos e meio deu com uma moeda de 50cts em cima da minha mesa de cabeçeira e ficou radiante. Perguntou se podia ficar com ela ao que eu respondi que sim. De imediato e com um sorriso contagiante nos lábios exclamou 'Que bom! Dá para comprar comida e biscoitos e brinquedos e tudo!'
Ahhhh.... como é bom ter-se a inocência da infância estampada no rosto e não se ter a noção do quanto que este Mundo custa...