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Desafios do Sapo: Vai votar no Domingo?

por twin_mummy, em 25.05.14

Não! Não fui! E porquê? -perguntam vocês. Acreditem que estão longe de imaginar o motivo, mas claro que só para poderem rir-se um pouco eu explico...

 

Poderia aqui debruçar-me sobre o triste Estado da Nação, ou fazer um apanhado de todas aquelas promessas políticas em campanha eleitoral que depois se perdem num qualquer buraco negro ou triângulo das Bermudas, e justificar que seria por já não acreditar grandemente no impacto do meu voto. Poderia dizer que estou longe ou ocupada demais para exercer o meu direito de cidadania, como muitos o alegam. Mas a verdade é que não vou porque tenho medo de ficar sem os documentos.

 

Que disparate!- pensam vocês. Por muito mal que esteja o País ainda podemos votar em segurança.

 

Pois... foi o que eu pensei nas últimas eleições.

 

Como coincidiram com o início do ano lectivo e os miúdos tinham de tirar fotografias para a escola decidimos fazer um daqueles programas domingueiros e ir votar vestidos a rigor para depois ir fazer uma sessão fotográfica com os miúdos. Diz o co-irresponsável:

-Vai lá tu primeiro descansada que eu fico aqui fora a brincar com os miúdos e depois trocamos.

 

Na altura pareceu-me boa idéia, e assim de certeza que não ia demorar mais que 5 minutos. Pois para meu gáudio a minha secção de voto estava quase vazia. Tinha cerca de 2 pessoas à minha frente e mais uma lá dentro. Em menos nada chegou a minha vez, dirigi-me à mesa onde estavam os 3 elementos que a lei exige e confiei os meus documentos a um senhor de cabelo grisalho que presidia aquela secção.

 

Não devo ter demorado mais que 2 minutos a preencher os 3 papelinhos com um 'X' e a dobrá-los cuidadosamente. Distraí-me apenas por escassos segundos a ver os miúdos a correrem atrás do pai por entre os vidros meio foscos da sala. E foi a olhar para eles que me dirigi, de sorriso rasgado, ao senhor de cabelo grisalho, e foi a olhar para o dito senhor que escancarei a boca ao deparar com os documentos que ele me estendia.

 

Perante o meu ar de espanto ele acha que talvez fosse boa ideia confirmar (claro... não fosse eu, cerca de 50 anos mais nova que ele, estar a ver mal!) e pergunta de voz entramelada:

-Dona Ana?

-Nem dona nem Ana! -respondo eu. - Nem um único nome eu tenho em comum com essa senhora e pela fotografia, nem sequer estamos próximas a nível de idade. - e com isto devolvi-lhe os documentos e olhei em redor a ver se vislumbrava os meus.

 

Foi em total pânico que percebi que não havia ali mais documentos. Eu estava sozinha na sala de voto com 3 gatos pingados a olharem para mim meio atónitos. 

-Olhe... -diz então ele no tom mais calmo do mundo- acho que dei os seus documentos a outra pessoa.

-Acha? Pois... parece que sim. Mas então se errou... resolva! -respondo.

 

Juro-vos que em tanto anos de vida (menos que o senhor, mas mesmo assim...) nada me poderia preparar para o que viria a seguir.

 

Pensei que ele próprio fosse atrás da senhora ou pedisse a uma das raparigas mais novas para ir, mas não. A solução que ele encontrou para resolver um erro dele, e ao qual eu era de todo alheia, e parte lesada, foi:

-Ela não deve estar longe porque saiu ainda agora e é coxa. Vá a correr que ainda a apanha!

-Desculpe??? Quer que eu vá a correr por aí fora atrás de alguém que eu não conheço e interpele as pessoas a exigir que me mostrem os documentos?

 

Tentei manter a calma, apelar ao bom senso das duas jovens que o ladeavam, e pedir para serem eles a resolver uma situação que era culpa... deles! Não me parecia lógico ser eu a tratar de nada daquilo, nem sequer tinha qualquer legitimidade para o fazer, e caramba... pelo que eu ouvi dizer que aqueles senhores recebem por estar ali... bem que podiam mexer as patinhas!

 

Pois não mexeram! Passaram-se vários minutos em que o senhor não só não pediu desculpas, como insistiu que eu é que deveria resolver a situação e que devia também compreender que os erros acontecem. Pois... compreendo, mas naquele caso acho de uma irresponsabilidade total entregar-se documentos a alguém sem sequer confirmar a identidade da pessoa, sem sequer olhar para a fotografia, sem sequer perceber que, por muito bem conservada que a senhora tivesse, não poderia nunca ter nascido na década de '70.

 

Mas melhor... perante aquela inactividade toda e a insistência para que eu simplesmente saísse dali, acabei por pedir para falar com alguém que pudesse ter neurónios suficientes para perceber o caricato da situação. E quando vem a dita pessoa, com um cargo de presidente de Junta que deveria ser sinónimo de responsabilidade e de discernimento, sai-se com o mesmo discurso de que erros acontecem e que naquela fase pouco haveria a fazer. Que eu deveria ter ido atrás da senhora, mas que também seria uma questão de esperar pois ela haveria de dar pelo erro e entregar os documentos.

 

Agora digam-me vocês... quantas vezes por ano têm necessidade de puxar do documento de identificação? Acham provável que a octogenária coxa sequer conduzisse ao ponto de poder ser mandada parar numa operação STOP onde lhe pedissem para ver o cartão de cidadão? Ou seria até melhor eu colocar um anúncio no jornal, estilo 'Procuro octogenária coxa'? E mesmo que os meus filhos -que entretanto já estavam junto a mim- não se importassem de atrasar o almoço e a sesta naquele dia, até quando será que aquela iluminada acharia lógico esperar? É que era de manhã e a secção de voto só fecharia ao final de dia. 

 

Aqui a tonta -vá-se lá saber porquê- achou melhor recusar-se a sair dali sem os documentos ou um relatório da polícia em como eu estava privada dos meus documentos contra vontade. Por um lado, porque as multas por conduzir sem documentos ainda são consideráveis, mas por outro... também quem me poderia garantir que a senhora era séria?

 

Pois que era... deveria estar até na missa (calculo que o catolicismo esteja estampado no rosto) e por isso a solução era eu esperar até ao final da dita que iam pedir a alguém para lá ir (curioso como a palavra polícia dá energia para mexer as patinhas). Mas também me sugeriram que esperasse um pouco mais longe, e já agora... que não comentasse o sucedido a tão viva voz. É que por essa altura já diversos vizinhos meus andavam por ali e claro que estavam curiosos em saber o porquê de eu ainda ali estar. Pois... azar!

 

Ora por esta altura já eu achava que estaria envolvida em alguma piada de mau gosto. Para além da incredulidade do erro em si, era toda a situação que se seguiu que não fazia sentido e por isso, como não cederam ao meu apelo para chamar a polícia, chamei eu.

 

Perante a gravidade da situação, e a consciência de que 2 crianças (na altura de 2 anos) esperavam pela mãe para irem almoçar, a polícia não tardou em comparecer no local, identificar o dito senhor, identificar-me a mim, e registar o sucedido.

 

Seguiram-se mais umas cenas caricatas, com um dos polícias a ter uma conversa particular com a tal pessoa da Junta, e depois a dirigir-se a mim para me demover de apresentar queixa. Foi pena ele não me conhecer, ou poderia ter poupado algum latim. É que a consciência dos meus direitos tenho eu, assim como dos deveres de quem exerce um cargo de presidente de Junta, e de quem preside uma mesa de voto. E já que falamos nisso... dos deveres de quem exerce um cargo de autoridade, sendo que um deles é a imparcialidade... certo?

 

Foi então que o segundo elemento da polícia me reconheceu e veio falar comigo. Pediu desculpa pelo sucedido. Belas palavras, pois foi a primeira vez naquele dia que alguém as proferiu. Disse que compreendia a gravidade da situação, que lamentava o sucedido e que iria tentar resolver tudo. Uma vez que tinham os documentos e morada da pessoa era simples de resolver, certo? Agradeci. Por mim e pelos meus, que assim fomos para casa, para um almoço tardio e uma sesta mais ou menos inquieta.

 

Cerca de uma hora depois recebi um telefonema da polícia. Cerca de uma hora depois tinha os meus documentos de volta. Ainda hoje a minha filha diz que há um polícia que é amigo. Gostava que fossem todos... todos os polícias, todas as pessoas que exercem cargos de chefia, no fundo todas as pessoas que lidam com pessoas. Por isso no dia em que houver um político que trate as pessoas como pessoas eu arrisco voltar a votar. Prometo!

As imagens utilizadas neste blog são na sua maioria de autoria própria ou de amigos e familiares, com o devido consentimento. A autoria daquelas que são retiradas da internet será indicada sempre que seja possível fazê-lo de forma inequívoca, mas mesmo assim poderão ser removidas caso o autor o entenda, bastando para tal contactar-me para o e-mail aqui indicado.


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